[Extra]

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Fábio Carneiro era sócio e detentor da maior parte das clínicas veterinárias, mas isso foi acertado no boca a boca, pois Andréia Carneiro, sua adorável e manipuladora esposa, era quem legalmente detinha os negócios.
Andréia tinha pele escura e brilhante conservada com sua fortuna, uma mulher de cinquenta e cinco anos advinda de uma linhagem abastada de latifundiários. Uma mulher capaz de derrubar impérios com suas ambições.
Ela terminava de aprontar-se para um jantar com suas amigas igualmente esnobes quando escutou passos atrás de si, mas não se dignou a olhar para trás ao invés disso olhou através do espelho aquele que a visitava. Sorriu como uma víbora, sentia uma felicidade que mal lhe cabia, no entanto fez a linha arrogante como de praxe e imponente.

— Vejo que me esperou. No lugar de sempre. — Ye sorriu mostrando a chave que encontrou em um vaso de planta que ficava na varanda do quarto dos Carneiros.

Andréia desdenhou, tamborilou as unhas compridas na penteadeira.

— E como esperado você retornou como o prostituto que é. Fiquei sabendo que seu relacionamento com aquela chinelona não deu certo. Morta em manifestação, é o destino que esse tipo de gente costuma ter.

Era inacreditável a maneira que Andréia achava estar em um patamar diferente do restante da população negra só por ter dinheiro e ser casada com um branco.  Ye parou de tolerar o comportamento de sua sugar mommy quando conheceu Gisele e tomou conhecimento com a socióloga.

Ele riu, virou de lado, tirou o revólver da cintura e apontou para ela. Andréia perdeu completamente a pose, assustada, incrédula, sentou de frente para Ye, encarando do cano da arma para o rosto dele.

— O que pensa que está fazendo, seu merdinha? Eu te fiz o homem que é hoje. Foi o meu dinheiro que sustentou teus caprichos por anos!

—  É... — Sorriu como um sádico. — Mas agora não mais então sugiro cuidar o que fala. Tente evitar falar de minha falecida esposa.

Andréia arregalou os olhos surpresa, ofendida e magoada. Esposa, ele teve a ousadia de casar com aquela garota.

— O que quer de mim?

— Teu marido demitiu uma mulher. Vai contrata-la de novo.

— É sua nova garota? — Questionou enciumada.

— Velhota... Supera. Tem 24hs pra resolver isso ou eu volto aqui e acabo com seu castelo de vidro. — Ele apontou com o revólver o lugar.

Andréia respirou ofegante quando Ye desaperaceu pela varanda, lágrimas frustradas escorrendo de seus olhos.
Aquele homem pagaria caro por tê-la abandonado.

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Ye - jun sabia que merecia aquele destino mesmo assim não se conformava com a maneira que foi acabar, acamado sem poder fazer mais além de piscar e respirar por um tubo, os médicos disseram que seu quadro era irreversível e buscaram por um familiar sem sucesso.

— Senhor Re Júnior. — Sério aquela mulher não fazia a menor questão de tentar pronunciar certo. — O senhor tem visita.

Só poderia ser Ivo, aquele molenga.
Porém o barulho dos saltos indicava outra coisa, Ye preferia que fosse Maxiliano ou o diabo, mas era Andréia imponente em seu vestido dourado justo e decotado. Ela se aproximou sorrindo e sentou na beirada da cama, acariciou os rosto dele raspando suas unhas contra a pele do homem, a sensação era de que eram garras, ele nunca sentiu tanto medo em toda a sua vida.

— Meu bebê, veja como foi acabar, isso que dá ir atrás das mulheres erradas se tivesse ficado comigo nada disso teria acontecido. Nunca mais poderá fazer nada além de existir, isso é tão triste, seu corpo esbelto vai definhar, ficará irreconhecível, pior que eu que, como você disse mesmo? Velhota. Mas não se preocupe, querido, vou cuidar de você e garantir que viva por muuuiiitos anos. — Os olhos dela eram vermelhos e marejados pela emoção de seu triunfo. — Mas quer saber qual o seu maior erro? O seu maior erro foi confundir seu desejo de poder com amor, quem sabe distinguir essas coisas nunca cai.

Mas Andréia caiu quando Ji - hoon tomou posse de tudo que pertencia a Maxiliano, aquele jovem conquistou tudo que poderia e mais um pouco fazendo questão de destruir todos que pudessem ameaça-lo ou ir atrás de sua amada. No início dominar tudo era questão de sobrevivência e desejo de ser poderoso, mas depois tornou-se necessidade ou Cibele enfrentaria as consequências.

Ye quase não acreditou quando Ivo entrou em seu quarto fétido e decadente, chorou aliviado e sentiu arrependimento de verdade por todas as suas ações.

Ivo mal conseguia respirar naquele lugar, fedia a merda, deplorável. Ver o ex parceiro naquela situação o entristeceu profundamente, quando conheceu Ye ele não era tão mal, ainda um drogado meio maluco das ideias, mas era bondoso e incapaz de fazer o que o Carioca de quatro anos atrás fez. As coisas mudaram tão rápido.

Ye suplicava com os olhos que Ivo acabasse com seu sofrimento, foram quatro anos de abusos e maus tratos, haviam feridas necrosadas por seu corpo e genital, Andréia se gravava as cutucando com uma faca depois mostrava à ele, até ratos e baratas a mulher jogava por seu corpo inútil.

Ivo não precisou dizer nada e nem que Ye falasse para entender, ainda que ele merecesse aquilo por tudo o que fez não conseguiu manter-se indiferente, sacou sua arma e atirou repetidas vezes na cabeça daquele que um dia considerou seu irmão.

Completamente arrasado seu único consolo era que Cibele estava segura e bem.

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