5° CAPÍTULO: Reflexões e convicções.

157 25 80
                                    

Dumbledore se repreendeu mentalmente quando se deu conta dos pensamentos totalmente tolos e sem cabimento que tinha sobre o rapaz sul-americano.

Essa não era a primeira vez que tinha pensamentos inoportunos em relação a outros homens que lhe pareciam interessantes; afinal, ainda era um humano, sentia os desejos da carne e a solidão que lhe atormentavam de tempos em tempos. Contudo, eram raríssimas as vezes. Ele não podia se permitir de sentir tais coisas por outras pessoas, não de novo, não depois de tudo o que lhe aconteceu. Parecia injusto… ou egoísta… Ele apenas não conseguia obter sua própria permissão. Toda vez que tais pensamentos se acendiam em sua mente, seu próprio consciente vinha lhe dizer o quanto aquilo não parecia ser correto. Talvez ele tenha a sensação de que algo ruim possa acontecer de novo, como aconteceu da primeira vez, por sua culpa…

Já se questionou, muitas vezes: porque a ideia de ser feliz, de ter outra oportunidade, parecia tão incorreta?

Enfim, ele entendia que não possuía nenhum preparo psicológico para coisas assim, logo esquecia-se de tudo que envolvesse o mundo social — principalmente o romantismo — e seguia em frente como se absolutamente nada acontecesse em sua mente solitária. Ele já tinha bons amigos, o que mais poderia querer? Ao invés disso, preferia se afundar nos pacatos assuntos de seu trabalho como professor e nos problemas do colégio de magia — os quais eram incomparavelmente mais fáceis de resolver.

Com certeza, era um trauma. Mas, preferia ficar bem longe desse sentimento. Sua primeira e única experiência foi o bastante para acabar com sua vida e lhe deixar preso — literalmente —. No fundo, sentia medo de novos envolvimentos, principalmente daqueles em que deveria se entregar um pouco mais.

Ainda tinha que lidar com as más lembranças desse seu primeiro caso de amor e todas as desgraças que ele trouxe consigo. O pior de tudo, ainda por cima, era ter que lidar com o próprio desgraçado em quase todas as manhãs quando via seu rosto estampado nas capas do profeta-diário, sempre acompanhado por uma notícia desastrosa: "O maior bruxo das trevas, dentre séculos, escapa novamente!", "O maior bruxo das trevas, dentre séculos, acaba com outro vilarejo trouxa!", "O maior bruxo das trevas, dentre séculos, ataca mais uma vez e blá-blá-blá!" — É sempre um desastre atrás do outro! É irritante, decepcionante, e muito estressante.

Ele sabia que, em algum momento, viriam atrás dele por esse seu maldito envolvimento antigo que lhe deixou uma marca difícil de se apagar. As pulseiras de metal, postas em seus punhos pelo Ministério da Magia, era a comprovação de que não poderia fugir para sempre. Em algum outro momento, teria que enfrentá-lo. Teria que assumir a responsabilidade de uma imaturidade juvenil que ultrapassou um limite muito profundo.

Às vezes, sentia seu sangue e sua pele arder intensamente, por conta de alguma crueldade que Grindelwald estivesse fazendo pelo mundo-bruxo. Era inevitável, sempre que sentia seu sangue borbulhar dentro de si, já era uma certeza de que na manhã seguinte veria novamente aquele rosto e o estrago causado por ele. Era uma consequência do pacto de sangue, sentimentos muito fortes podiam ser trocados dentre eles. Isso valia para muitos tipos de emoções; tristeza, medo, satisfação… Dentre todos, o sentimento mais forte que poderia ser sentido era o da traição. Eles estavam conectados até o pacto ser completamente desfeito, e esse era o seu maior problema. Era quase impossível desfazer a magia de um pacto de sangue, uma magia tão genuína… Uma das mais puras magias das trevas, vinda de dois bruxos jovens e poderosos. Albus não podia afirmar que houve um amor envolvido na criação do pacto. — Quer dizer, um amor recíproco da parte de Grindelwald. — Mas, se houvesse, seria ainda mais difícil desfazê-lo.

Essa era a primeira vez que desejava não obter o amor de Grindelwald.

Um pacto de sangue era quase um voto perpétuo; um matrimônio que não tolerava traições; uma prisão disfarçada por juras de amor.

𝙰𝙿𝙴𝚂𝙰𝚁 𝙳𝙾𝚂 𝙿𝙴𝚂𝙰𝚁𝙴𝚂 × 𝐀𝐥𝐛𝐮𝐬 𝐃𝐮𝐦𝐛𝐥𝐞𝐝𝐨𝐫𝐞Onde histórias criam vida. Descubra agora