Capítulo 2

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Continuei sentada em minha mesa terminando algumas revisões, ainda era cedo. Me distraí quando vi uma mensagem de um número desconhecido na tela do meu celular. Me dei conta então de que nunca havia agendado o número de Soraya. Alcancei meu celular e percebi que estava com um sorriso bobo nos lábios. "Ué, Simone, quê isso?" Ri um pouco mais frouxo de mim mesma e abri a mensagem.

Soraya – 17h01:

"Simone, você se incomoda de me dar uma carona até lá e irmos num carro só?"

"Ê Soraya..." foi o que eu pensei na hora.

Confirmei que passaria para busca-la e comecei a guardar minhas coisas. Sai rumo ao meu apartamento e no caminho fui ouvindo o rádio. Mudei a estação e caí em uma que tocava uma música que tinha me deixado viciada dias atrás. A música era A Estação, da Alice Caymme. Aumentei o volume do rádio e cantarolei com ela algumas partes...

"Eu vivo arquitetando como fugir do seu poder de seduzir, desse teu jeito de me olhar. É que me conheço e me aflige ficar em suas mãos que é meu desejo, num paradoxo gostar, temer..."

Entrei na garagem do meu prédio e subi para o meu apartamento. Tomei um banho demorado já que ainda faltava algum tempo para o compromisso. Deixei que a água tomasse conta da minha pele e aproveitei longos minutos. O dia tinha sido cansativo e confesso que se eu não tivesse feito uma proposta para Soraya de fazermos alguma coisa depois, eu provavelmente teria desistido de comparecer a esse lançamento.

Procurei algo confortável para vestir, mas que ainda fosse elegante para a ocasião. Optei por um terninho preto e uma camisa de cor marsala por baixo. Nos pés um scarpin preto que não me dava chances de errar a combinação. Penteei os cabelos e os sequei parcialmente. Não tive paciência para escolher acessórios. Antes de me vestir fui procurar uma langerie e foi aí que talvez eu tenha me desesperado. Por dois motivos: primeiro me toquei de que eu não tinha nada novo, ou ousado... ou sensual... ou todas essas opções, já que estava muito tempo empenhada em cumprir o meu trato comigo mesma. E no segundo momento, a minha aflição foi constatar que mesmo tendo travado uma batalha contra meus instintos, inconscientemente, eu tinha um objetivo em mente: levar Soraya pra cama.

Ok. "Aceita o desespero e dispensa o analista!" Foi o que o meu pensamento lançou pro universo. Consegui terminar de me arrumar alguns minutos antes do horário combinado, então eu não precisava correr. Se eu achei uma langerie apresentável? Não. Fui sem!

Dirigi até o prédio onde Soraya estava hospedada. Parei o carro na frente e enviei uma mensagem avisando que estava a sua espera. Alguns poucos minutos se passaram, três ou quatro no máximo. Me virei para olhar para a porta de entrada...

"Mas que diaba!" Falei em alto e bom som com os vidros fechados.

Soraya vestia uma calça preta de alfaiataria com a cintura alta, na parte de cima um body também preto com uma alça só. Um salto alto, muito mais alto que o meu. Seus cabelos estavam soltos, alguns acessórios compunham a beleza de seu colo. Trazia nas mãos uma echarpe cor de cereja, o celular e uma pequena bolsa. Os braços milimétricamente desenhados estavam à mostra. Destravei as portas do carro quando ela se aproximou.

- Uau! – Ela disse assim que se acomodou e virou pra mim. Seu perfume tomou conta do meu carro e mesmo que eu nunca tenha bebido, acho que a sensação que tive foi de ter me embriagado com o cheiro que vinha dela.

- Eu digo o mesmo! Caprichou, hein? Nem parece aquela moribunda que eu vi se alimentando como um urso selvagem hoje a tarde! – Eu disse gargalhando e já me esquivando do tapa que ela tentou dar no meu braço. Me livrei do primeiro mas do segundo foi impossível, já que ela mirou na minha coxa. Soraya tinha uma força fora do comum, com certeza seus dedos ficaram desenhados na minha perna.

24 horas e nada mais - [Simone | Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora