Capítulo extra.

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Oi oi oi! Ó quem voltou! Sem muita enrolação, tomem aí um capítulo extra!

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O que é a memória afetiva?

Há várias definições para o termo.

Uma delas é: "A memória afetiva surge através de elementos sensoriais e emocionais. É quando sons, cheiros, sabores e cores nos lembram de algo especial e ajudam a construir a nossa história." 

Depois de tudo que aconteceu, eu e Soraya nos vimos algumas vezes. Em eventos profissionais ou no avião, nos trajetos entre Brasília e Campo Grande. Ao contrário do que eu imaginava, o sentimento da ausência dela, aquela carência que eu imaginei sentir depois que ela deixou meu apartamento naquela noite, não existiu. A vida continuou, os dias passaram, os trabalhos vieram, a rotina exaustiva no novo governo chegou batendo com os dois pés na minha porta... e a minha noite com Soraya nada foi além de uma noite muito prazerosa que ficaria gravada em nossas memórias. Não tivemos clima de desconforto, nossa convivência seguia amigável como sempre foi, como se nunca tivéssemos transado por quase seis horas e feito planos e mais planos para um futuro próximo. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos por fim.

Dia desses, entre uma reunião e outra, estava em meu novo gabinete afundada em uma pilha de papéis. Já tinha me livrado de meus sapatos, alcançado um elástico na minha bolsa e prendido meu cabelo em um rabo de cavalo frouxo. Tinha abandonado o blazer em cima do sofá e vestia apenas uma camisa azul marinho e uma calça de alfaiataria preta. O contato dos meus pés descalços com o tapete no chão trazia alívio depois de uma manhã inteira andando como uma condenada em cima de um par de saltos desconfortáveis.

Em determinado momento, no meio daquela tarde, ouvi um converseiro alto vindo do corredor, combinado com barulho de passos curtos e saltos altos. Muito altos.

Sons.

- Olá querida, boa tarde. Eu não tenho horário marcado com a Ministra mas gostaria de dar uma palavrinha com ela, pode fazer a gentileza de verificar se ela pode me receber?

Ouvi a voz da infernenta vindo da recepção, meu estômago automaticamente entrando em estado de alerta, senti um calafrio descer do meu pescoço seguindo até o fim da minha coluna.

Ouvi três batidinhas na porta.

- Entre! – Autorizei em bom som.

- Desculpa incomodar Minist... – Não deixei que terminasse.

- Já ouvi Ana Júlia, pode pedir pra ela entrar.

- Sim senhora, com licença. – Deu alguns passos para trás – Fique à vontade Soraya.

O furação loiro sul-matogrossense de um metro e meio adentrou a sala. Fechou a porta atrás de si e se escorou nela parcialmente de lado cruzando os braços.

- Boa tarde, Ministra! – seu sorriso, apesar de sincero, trazia algo que eu ainda não conseguia traduzir.

- Boa tarde, Senadora! – Rodei minha cadeira, cruzei os braços e as pernas. – Mas que honra! Faz tempo que não te vejo...

- Pois é... – Começou a andar pelo ambiente analisando tudo à sua volta. – Que lindo seu gabinete Simone, é tão bonito quanto o outro... – Dizia enquanto observava a decoração da nova sala.

- Ainda não tive tempo de terminar a decoração, mas aos poucos está ficando do jeito que eu quero...

Um silêncio se fez presente, Soraya virou-se para mim e caminhava a passos muito lentos passando a mão por uma estante de livros.

24 horas e nada mais - [Simone | Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora