CAPÍTULO 7

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Celina respirou fundo e Honest a olhou com dureza.
"Desde o início, inclusive nos diga como tudo começou."
Ela franziu as sobrancelhas.
"O Nova Espécie! O doutor!" Ela sorriu, mas depois fechou a cara.
"Você está no corpo do doutor! Mas o que fizeram com o doutor? Eu nunca acreditei que isso era mesmo possível."
"Longa história. Eu tive de ser colocado nesse corpo." Ela assentiu.
"Você conviveu com Bishop?" Ela suspirou.
"Um trabalho." James ficou pensativo olhando a última imagem do helicóptero que levou sua filhote. Era uma ótima pista, helicópteros não dão em árvores. Mas algo no design da aeronave lhe chamou a atenção. Ele não tinha a memória como a de Simple, ninguém tinha, mas a dele era suficientemente boa para confiar em seus instintos. Havia algo naquele helicóptero.
"Certo, nosso pai..." James a interrompeu:
"Celina, pode me dar um minuto?" Ela sorriu
Joe virou a tela.
"Simple veja esse helicóptero. Lhe é familiar?" Simple apenas deu uma passada de olhos na tela e negou.
"Não. Nunca vi esse helicóptero." Ele disse. Candid olhou a tela e a virou na direção de Honest. Seu irmão também balançou a cabeça.
"Um helicóptero é uma baita pista, eu já encontrei pessoas com uma foto do mesmo modelo, não com a do próprio, mas esse está genérico demais. E Simple nunca tê-lo visto também é uma pista." Ele disse, Celina o olhou com a fisionomia perdida.
"Sim. Quem a levou nos conhece a ponto de usar um helicóptero que Simple não reconheceria." Candid disse.
"Mas Simple é muito conhecido, todos sabem que ele é inteligente." Celina retrucou.
"Não a esse ponto." Simple disse.
"A menos que..." James teclou alguns comandos, mas não conseguiu rackear a câmera. Estranho. Ele bufou
"O quê?" Simple perguntou, James ia olhar para ele, mas os olhos de Celina o prenderam. Ela parecia muito interessada, James baixou os olhos. Olharem para ele daquela forma o incomodava.
"Não consegui rackear a câmera." Simple assentiu.
"Ok. Bom, continue tentando. Celina, nos conte a sua história." Simple pediu, ela acenou.
"Meu pai era detetive da polícia quando Cláudia nasceu. Eles tinham uma vida simples, mas boa, até descobrirem que meu pai aceitava alguns subornos. Eram pessoas poderosas, donos de cassino, então só aposentaram meu pai bem mais cedo, o que despertou suspeitas e a mulher dele acabou o largando.
Minha mãe era amante dele, Karina já tinha nascido e eles foram morar juntos. Quando eu nasci, eles moravam em outra cidade e diziam que eram casados. Ele se tornou detetive particular e era bem sucedido. Vocês não imaginam o número de casais que procuram um detetive para provar traições." Ela parou para respirar.
James desviou os olhos para as mãos dela, eram mãozinhas pequenas com unhas bonitas.
"E um dia Cláudia veio ficar com a gente, minha mãe gostava muito dela, Claudia era uma alma livre que não aceitava o destino que a mãe dela tinha imposto para ela, ela disse que a gota d'água foi a mãe dela ter preparado uma festa de noivado com o ex-namorado dela. E então, Celeste, que era nome dela, não existiu mais, só a chamávamos de Cláudia e o nome pegou.
E papai começou a usar Cláudia em suas investigações. Ela era comunicativa quando era necessário e muitas vezes, Claudia conseguia passar despercebida, vocês podem imaginar algo assim?"
Candid bufou.
"Ela é incrível. E não, eu não consigo imaginar uma situação onde Cláudia ficasse invisível." James se lembrou de Cláudia. Na mesa, numa das festas, Candid a tocava no meio das pernas. Ela segurava a expressão de êxtase. Uma atriz, era isso que todas elas eram.
"E depois Karina também começou a trabalhar com o papai. Ele não queria que eu tivesse aquela vida, mas Cláudia adorava e eu sempre quis ser como ela." Simple riu.
"Sabe, eu quis te foder quando..." James rosnou.
"Certo, desculpe. Eu quis compartilhar sexo com você naquele dia, mas você parecia intocada. Você era mesmo virgem?" Ela sorriu.
"Sim, Simple, eu era virgem. Não que para mim ser virgem era algo especial. Mas eu acho que não teria muita coragem de misturar as coisas."
James pensou em todas as vezes que ela foi a Reserva. Festas e algumas 'reuniões particulares', como Candid chamava as festinhas deles.
"Papai um dia chegou em casa com um grande sorriso no rosto dizendo que tinha um trabalho que pagaria muito, mas muito dinheiro. Ele porém, escolheu Karina e não Cláudia dizendo que esse trabalho iria precisar dos dedos leves de Karina e não das muitas faces de Cláudia. Karina sorriu e disse que aceitava. Era para uma grande empresa do ramo dos cosméticos, rival da Delacour, a empresa do..."
"Do tio Francis." James sorriu. Tio Frances estava na Reserva agora, ele e Joel. James às vezes os visitava, tio Francis era muito inteligente.
"Papai trabalhava no jardim e Karina, usando o nome de Mary, trabalhava com a senhora Melvis. Ela roubava alguns documentos, fazia cópias e papai relatava todos os passos do senhor Delacour. Até que..."
"Meu tio, Hunter e Torrent foram ficar na casa do tio Francis." Candid completou, Honest deu um tapa nele, ele riu.
"Deixe ela contar, idiota." James entendeu o ponto de Honest, a voz de Celina, era gostosa de ouvir.
"E então ela conheceu Joe e papai logo procurou contatos para lucrar com isso. O senhor Delacour parecia obcecado a ir para cá e trazer Mary, sempre. Até que Joe quis acasalar com ela, ela negou, mas disse que namoraria com ele."
"Seu pai lucrou com isso?" James perguntou.
"Ele acabou com uma bala na cabeça, mas sim, ele lucrou." Ela disse e fechou as mãos em punhos.
"Mary nunca teve acesso a documentos, então como seu pai poderia ter lucrado?" Candid perguntou.
"Com sequências de DNA." Simple respondeu por ela.
"E com dois filhotes." Celina disse, James se levantou. Não. Mary não podia ter feito isso. A raiva o tomou, Candid o segurou.
Celina se afastou.
"Ela inventou uma faculdade, lembram? Ela saiu daqui grávida, teve o bebê, voltou nas férias, engravidou de novo e..." James rugiu. Como Mary poderia ter feito isso?
"Como você não percebeu isso, Simple?" James se soltou dos braços de Candid.
Simple ficou pensativo.
"Ela usava valeriana, aquela nos sabonetes, e Joe, bom, Joe estava sempre fazendo sexo com ela, ela cheirava a ele. Eu me lembro dela dizendo que o cheiro do esperma de Joe fazia vocês se afastarem dela."
Simple rosnou.
"Eu não chegava muito perto dela e eu era mais novo nessa época. Muita coisa estava acontecendo, e realmente eu me lembro de reparar que ela cheirava a semente de Joe, até mais que a mamãe, mas eu não me importei."
"Mas e Joe? Ele não sentiu?" Celina disse que não.
"E você não sabe onde estão os filhotes?" Honest perguntou.
"Não. Depois do segundo, recebemos tanto dinheiro que papai disse que Mary iria morrer, ia deixar de existir. E isso o matou. Eles, e eu não sei quem eles são, exigiram mais, ele se negou e então o mataram. Nós fugimos, Mary pediu para morar na casa de seu pai, ela ficou protegida, eu e Cláudia nos estabelecemos numa cidade perto daqui.
"Joe estava sempre fazendo Mary fazer exames de gravidez, o quarto deles deles era cheio desses testes. E uma gravidez Nova Espécie pode ser detectada bem cedo, antes até do cheiro da fêmea mudar. Só você pode detectar antes do exame Sim." Honest falava, James só conseguia imaginar o que aconteceria quando Joe soubesse disso.
"Sim, mas se eu estiver bem próximo. Eu nunca ficava muito perto de Mary, Joe era muito possessivo com ela." James olhou para Simple e seu irmão estava com uma expressão nunca vista antes. Frustração. Simple tinha dificuldade de lidar com algo que escapasse dele.
"Joe poderia ter percebido? Por que ele tem um faro muito bom, melhor que o de James." Honest deixou a pergunta nos ar, James pensou nisso. Sim, o faro de Joe era bom, melhor que o dele, quase como o dos trigêmeos.
"Mary dizia que ele gostava que ela não tomasse banho depois que eles tinham relações. Ela odiava isso. Ela via que vocês se afastavam dela." Celina disse.
"Ela que queime no inferno. Ela não é a vítima, Joe é." Candid disse, os olhos dele estavam em fogo.
"Você concordava com isso? Não se importou quando levaram os filhotes?" James perguntou.
"Eu não sabia. Eu estava na faculdade nessa época. Mary só me contou quando fomos viver juntas." Celina disse, mas James não acreditou.
"E Cláudia?" James viu a indecisão de Celina. Mary estava morta, mas Cláudia estava viva, estava trabalhando inclusive para eles.
"Claudia sempre soube. Ela não concordava, mas ela deixou a decisão para Mary e Mary..."
"Mary vendeu os filhotes sem remorso algum." Simple disse, Celina cobriu o rosto.
"Sim. Ela odiava eles. Ela me disse e eu não conseguia acreditar nisso, mas ela os odiava. Ela odiava todos vocês." Celina deixou as lágrimas correrem por seu rosto.
"Ela..."
"Não. Ela não amava Ella. Mas você sempre esteve de olho nela de certa forma e quando Ella nasceu vocês tinham crescido, eram poderosos. Seu nome já era citado, Simple. Mary teve medo. Ella é muito parecida com vocês. E eu disse que ficava com ela, eu cuidei dela. Mary foi terminar a faculdade, ela não passava muito tempo com a gente. E bebês Nova Espécie são muito fáceis de cuidar. Ella sempre foi muito inteligente e muito independente..." Ela começou a chorar, James teve pena dela, ele quis abraçá-la, mas ele não era muito de tocar nas pessoas, então ele se levantou e foi até a janela quebrada.
Tudo era muito horrível. Celina estava contando sem detalhes e ele precisava de detalhes, ele precisava de datas. Joe iria... James respirou fundo, de repente ele não queria os detalhes. Ele só queria sair dali, ele só queria ficar sozinho.
Celina ainda contava, a voz dela, a voz de seus irmãos, tudo parecia longe. Ele não precisava prestar atenção, sua mente registrava tudo, ele poderia repetir qualquer palavra que eles diziam mesmo com outras coisas na mente.
"Ela me odiava também?" James se virou e perguntou.
"Esse era o problema, ela amava você. Mas você estava sempre distante. Ela te perseguia do jeito que dava, pois Joe..."
"Joe a amava. Com tudo o que ele tinha, do jeito que ele sabia amar. E ela o odiava. Não enfeite isso dizendo que ela era uma pobre fêmea que estava com o irmão errado. Sua irmã era uma puta e você vai pagar. Eu não acredito que você não sabia. É tudo muito conveniente." Candid rosnou para ela.
"E não podemos esquecer que você e Cláudia vinham aqui. De você com Noah, você com Jonathan." Honest disse.
James olhava para fora. Ele... Amou Mary. Não de forma intensa ou...
"Ela conversava comigo às vezes. Joe sempre gostou de dormir, eu não. Ela me seduziu de certa forma. Quando nós... Eu mandei Joe para Homeland. Eu a levei para a casa vazia de Honor. Eu queria enfrentar Joe. Mas depois, de manhã, ela disse que a culpa era muito grande, ela disse que Joe me mataria. E me pediu um dia para conversar com Joe. Só que ela foi embora." James se lembrou e engoliu em seco.
As lágrimas queimavam atrás dos olhos dele, ele voltou a se sentar, ele voltou ao laptop, aos comandos, ao ambiente lógico.
"Precisamos encontrar Ella, só isso. As informações que você nos deu não ajudam em nada. Quando ela chegar, eu a assumirei como minha filhote e você pode ir embora, ou ficar, talvez Noah ou Jonathan a queiram. Ou talvez você precise de proteção. Eu não me importo com você. Saiam da minha casa, eu avisarei se tiver alguma informação." Tudo estava queimado dentro dele, sua cabeça estava mal. Ele queria distância.
"Vamos chamar Joe e conversar com ele." Candid disse.
James se levantou.
"Não. Eu tenho de estar presente. Vou atrás dele." Era uma ótima desculpa para sair, para correr.
James correu até o complexo, Joe e ele não tinham conversado sobre Joe ter descoberto sobre a morte de Mary. James sempre desconfiou que Joe soubesse que Mary e ele compartilharam sexo, bom, era a hora de... A porta estava fechada e Joe estava lá dentro, com Elize. Havia um cheiro de excitação, James achou estranho. Ele inspirou e era mesmo Elize.
"Sabe que eu gosto que você aperte." James buscou em sua mente uma ocasião em Joe tivesse o cheiro de Elize nele, ou ela tivesse o cheiro de seu irmão. Não encontrou. Que porra era aquela? Talvez não fosse Elize. Ele não estava bem, sua cabeça girava.
"Joe abra essa porta." Ele mandou, mas não ouviu Joe sair do lugar, o ouviu rir e isso o deixou irado.
"Estou ocupado." James respirou fundo. Ele não queria lutar de novo, sua coluna ainda doía da queda.
"Não pode trazer prostitutas pra cá, sabe disso. Abra a porra dessa porta, é urgente!" Ele bateu na porta. Era Elize, eles iriam parar, ela não ia gostar de ser confundida com uma prostituta.
Mas Elize não disse nada. Joe continuou onde estava.
"Joe!" James chamou, estava a ponto de derrubar a porta.
"Respire pelo nariz." Ele ouviu Joe dizer, James não acreditou naquilo. Joe estava ensinando Elize a chupar o pau dele? Ali?
"Eu vou demitir você, seu idiota! Temos de conversar, porra!" Ele bateu mais uma vez na porta. Joe o ignorava e fazia sons de que estava gostando, ele rosnava, o imbecil.
James perdeu a paciência. Ele custava a acreditar que seu irmão estava fazendo sexo ali, no escritório dele. Joe não era assim. Ir no cemitério, ver o túmulo de Mary deve ter mexido muito com ele. Mas usar Elize como válvula de escape não era certo.
James arrombou a porta, Joe continuou o que estava fazendo, seu corpo nu escondia Elize dos olhos de James, mas os movimentos de Joe deixaram bem claro o que faziam. Seu irmão não parou.
"Eu não estou interessado nos seus problemas, James, não depois de saber o que você e Mary fizeram. E agora saia, eu e Elize estamos ocupados."
Ele não poderia ficar ali, seu irmão estava desrespeitando Elize de uma forma tão vil, que James fechou a porta e saiu. Joe não estava bem. E tudo o que estava acontecendo poderia deixá-lo pior. James só queria correr e se esconder. Ele não queria ver ninguém, ele queria esquecer as palavras de Celina. Ele...
Slade passou por ele e sorriu, James o chamou:
"Eu quero fazer uma queixa formal." Slade ergueu uma sobrancelha, James vivia dizendo que Slade não tinha poder na área de atuação dele, que ele, James era o chefe.
"Então, o merdinha número um precisa de mim?" James suspirou. Ele devia ter ido atrás de Brass.
"Posso falar com Brass." Slade se esticou.
"Eu sou a porra do diretor daqui, qual é a queixa?"
"Joe e Elize. Fazendo sexo na sala dele. Essa queixa será registrada." James disse, afinal Slade poderia chamar Harley e Moon e os três apostarem no tempo em que Joe levaria para gozar, por exemplo.
"Certo, deixe comigo." Ele estava sério, James só poderia torcer que ele acabasse com o desaforo de Joe.
James ficou na estrada, perto do complexo, esperando Joe sair.
Mas Joe passou carregando Elize nos braços, James o seguiu de longe até ele entrar com ela na cabana dos trigêmeos.
Ele suspirou desanimado. James olhou para um lado e para outro. Não havia para onde ir.
Ele pegou o telefone e ligou para Hunter.
"James."
"Cerveja na ilha. Sem nossos irmãos."
Ella tinha de ser encontrada, mas ele não tinha condição nenhuma de procurar. Ele ligou para Simple.
"Por que Joe foi para a nossa cabana? E levando Elize?" Simple sabia dos passos de todos.
"Pergunte a ele. Eu preciso de um pouco de espaço, minha cabeça vai pifar."
"Continuaremos procurando, deixa comigo. Mas não fique fora muito tempo." Ele disse e James sentiu vontade de estar perto deles e abracá-los, o que o fazia entender que ele estava mal.
"Estou na ilha, com Hunter." Ele disse.
"Peça para ele levar Dezessete. Ele pode ajudar." James rosnou.
"Não. Dezessete é..."
"Isso é uma ordem. Tome umas cervejas, iremos passar a noite procurando, mas Dezessete pode ver algo que não vimos nessa embrulhada toda." James suspirou, ia ligar para Hunter, mas Hunter ligou para ele.
"Tudo bem se Dezessete for? Ele me ligou, disse que Dezesseis mandou ele ir com a gente."
"Ok." Dezessete era muito melhor que Adam, muito melhor. Ele tinha controle, ele passou toda a vida treinando. Ella precisava ser encontrada, isso era mais importante que a sanidade de James.

FILHOTES DE VALIANT - JAMES E JOE - LIVRO 4Onde histórias criam vida. Descubra agora