Finais e Começos

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-Então é isso? - O senhor vai nos deixar sair impunes? - Garber perguntou, seus olhos miravam Dazai com firmeza.

-Eu não sou o juiz, muito menos o carrasco - Ele deu de ombros, posicionou as mãos sobre os bolsos e sorriu para ele. - e tenho o meu próprio senso de justiça. - Seus olhos voltaram-se para a Condessa Hyde. - A propóstio, achei genial a ideia do relógio que marcava os últimos dias de vida. A condessa foi impressionante.

-Ah! É por isso que ele vivia olhando as horas nele. E sempre parecia angustiado. -Chuuya acrescentou. -Agora eu compreendo.

-Não é mesmo? - Charlotte sorriu e depois falou. - Obrigada, Sr. Dazai, por me dar a chance da realizar justiça para a minha irmã. - Ela suspirou antes de prosseguir. - E para tantas outras pessoas. Tenho certeza que agora ela vai poder descansar em paz. - Com uma mesura ela se retirou silenciosa. Era uma mulher forte aquela. Dazai pensou. Provavelmente a mais forte que conhecera.

-Vamos solicitar que alguém venha buscar o corpo. - O Dr. Garber sugeriu e os outros concordaram prontamente. - O tempo está melhor, então as linhas telefônicas devem estar desbloqueadas.

-Depois de pendurá-lo na viga. - Donato falou com a voz firme. - Nós podemos fazer isso. - O cozinheiro se ofereceu para esta tarefa junto com Leonard, que se apressou para ajudá-lo a carregar o corpo sem vida de Michaels.

-A Condessa me deu uma chance única, ao chegar neste país que nem sempre é gentil com os estrangeiros, ela me ofereceu um lugar e segurança. - Ele sentiu necessidade de explicar. - Por isso eu acredito no ideal de justiça dela, mais do que em qualquer outra coisa. - Leonard sorriu e o acompanhou.

-Se nós pudermos seguir está mulher forte e gentil, então nós o faremos. - Leo acrescentou e depois se afastou com seu amigo.

Chuuya não sabia como se sentir em relação ao que acontecera, mas era justo. E a verdade é que ele fora tomado pela sensação de libertação, como se um peso enorme tivesse sido retirado dos seus ombros. Para ser bem sincero, ele não se sentia culpado por isso, Michaels nunca fora mais do que seu carcereiro, então ele empurrou esses pensamentos para o fundo de sua mente e caminhou silencioso ao lado de Dazai, várias pessoas da casa o observavam e acenavam com gratidão, ele sorriu ao perceber como se enganara em relação a ele.

Ao longe ele escutou Murdoch se desculpar com Garber.  Os dois estavam próximos demais e o escritor parecia um tanto vulnerável.

-Eu não fazia ideia. Por favor perdoe a minha ingenuidade. Deve ter sido uma tortura para você me ouvir falar sobre ele como se ele fosse meu salvador. - Garber enxugou as lágrimas do outro com uma gentileza que Chuuya nunca vira.

-E não era pra você saber mesmo.  - Ele disse compreensivo.

-Foi você que me salvou todas às vezes. Não ele. - Murdoch sussurrou baixinho, segurando a manga do terno de seu amigo.

Ele deu - lhe um beijo demorado e Chuuya arrastou Dazai dalí antes que eles notassem os dois.

-Por que você está tão corado, de repente sentiu aquele anseio de agir tal qual os dois? Eu também senti. - Dazai disse em um gesto dramático.

-Pare de ser ridículo. - Chuuya murmurou.

-Vai me negar um beijo assim? Que cruel. - Dazai fingiu estar magoado.

-Meu padrinho acabou de morrer. Eu deveria estar mais triste, não beijando você pelos cantos.

-Tem razão. Devemos ir para o quarto. - Dazai respondeu seriamente. Então prosseguiu. -Aquele homem nunca mereceu o seu afeto, nem o seu remorso e muito menos a sua culpa. Ele teve o fim que mereceu , para o caminho que escolheu. E você não sabia sobre nada.

-Então faça um favor a sí mesmo, quando sair deste lugar, nunca mais pense nele. Apenas viva. Você merece.

Chuuya engoliu em seco e assentiu.  Absorvendo cada palavra de Dazai e deixando que elas criassem raízes em sua mente.

Ninguém nunca tinha lhe dito antes que ele merecia viver.

Obrigado. Ele pensou, mas não conseguiu dizer nada.

Algumas horas mais tarde a polícia chegou para buscar Frederick. Quatro policiais entraram no quarto e observaram a cena.

O homem pendia da viga.

Suas pupilas estavam vazias. No lugar onde haviam os olhos, a carne estava despencando em pequenos pedaços um substância aquosa e amarelada escorria pela face do cadáver misturando-se ao sangue.

Dois  ratos enormes roíam pequenos pedacinhos da carne pútrida.

Os animais guincharam com um som estridente quando os policiais se aproximaram.

Garber que estava acompanhando deu um passo para trás sentindo-se muito desconfortável com aquela cena grotesca.

-Eu nunca havia visto ratazanas que fossem tão grandes. - O primeiro policial falou sem conseguir disfarçar a horror que estava sentindo.

-Ah, agora eu descobri a origem dos arranhões. - Dazai acrescentou para si mesmo e observou de longe o corpo ser removido.

-Deve haver outros. - Garber acrescentou e foi fazer suas malas. - seja como for, pretendo partir logo. - Murdoch que o aguardava no corredor seguiu-o em silêncio.

- E a Srta. Lianna? -Chuuya perguntou. - Eu não a vi.

-Ela fugiu mais cedo. Provavelmente ela descobrira as barbáries de Evans, mas não imaginava que seu pai estava envolvido. Deve ter sido um baque pra ela.

-Ou talvez, ela apenas não queria enxergar o homem que seu pai era. - Chuuya completou.

-O mesmo para a sra. governanta, ela estava dormindo na hora em que tudo aconteceu. - Dazai prosseguiu. - Nos seus anos de juventude ela fora amante dele. Embora jamais tenha se envolvido em seus negócios ilicítos. Imagino que esteja deveras abalada.

-Sim... - A Condessa se aproximou. - ela me disse que passara a vida inteira amando um personagem. Alguém que só existia na cabeça dela. Realmente triste.

A noite chegou silenciosa, os ventos estavam calmos e não nevara, o que permitira o tráfego nas estradas, poucas pessoas estavam reunidas na mesa de jantar.

Murdoch e Garber partiram mais cedo, com a promessa de que se veriam em breve.  Dos empregados só restaram na casa Donato e Leonard que haviam sido convidados a sentar na mesa com os outros.

Leopold estava em silêncio, provavelmente pensando no filho. A condessa conversava distraídamente com sua melhor amiga e os recém-casados trocavam juras de amor.

Dazai segurou uma das mãos de Chuuya e sorriu para ele.

Seu olhar estava carregado de promessas e uma certeza.

Estava perdidamente apaixonado.

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