Convite inexplicável

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Depois do almoço Osamu subiu para o quarto, onde sentou-se a escrivaninha.  Duas batidas soaram na porta, ele se ergueu rapidamente e foi atender.  Ele mirou os dois lados do corredor, mas este estava completamente vazio, com exceção, é claro, de haver no  chão um pequeno bilhete.

A letra era bonita, mas parecia ter sido escrito muito rapidamente.

Venha até mim, quando todos estiverem dormindo.

C.

Ele arqueou uma sobrancelha intrigado. E por hora decidira esquecer aquele encontro. E se focar em investigar o hotel por completo.
Depois de receber uma planta da mansão com todos os lugares disponíveis. Ele começou a avaliar os esconderijos em potencial.

O hotel possuía três andares com um espaço muito bem distribuído e aproveitado. No primeiro andar ficava o hall de entrada, as salas de leitura, estar e jantar, bem como o escritório, a cozinha e a despensa.
No segundo estavam os quartos destinados aos hóspedes. Compostos por doze quartos simples e duas suítes, uma delas sendo a presidencial. No terceiro andar ficava o sótão e os quartos onde os empregados costumavam dormir e guardar todas as coisas que precisavam.

Primeiro ele decidiu começar pelos quartos, aquela hora era a mais propícia, pois no momento todos estavam lendo, jogando cartas ou conversando nas áreas de convivência.

Ele movimentou-se silenciosamente pelo corredor que estava decorado com algumas pinturas um tanto macabras. O silêncio parecia gritante, mas Dazai agradeceu por ele e seguiu, começando pelo quarto onde Phillip Evans tirara sua vida.

A mancha no carpete adquirira um tom rosado. E tudo estava perfeitamente limpo, a lareira estava apagada e a roupa de cama arrumada. Ele observou a viga e se perguntou como alguém conseguira subir.

Ele subiu na cama, o colchão afundando sobre o seu peso e percebeu que seria o lugar perfeito. Quase perfeito demais.

Dazai se abaixou e vasculhou debaixo do móvel. Perto dos pés o carpete estava desgastado. como se a cama tivesse sido movida.  Ele tentou força-la de volta para o mesmo lugar de antes, mas todo o seu esforço foi em vão.

Era pesada demais, para um homem movê-la. Evans não seria capaz de mudá-la de lugar. Pelo menos não sozinho. Ele segurou o queixo pensando.

Mas por quê alguém ajudaria um homem a atentar contra a própria vida? Não fazia sentido. Pelo menos não nos casos de homicídio com os quais esteve envolvido na investigação.

Ele dirigiu-se até as portas francesas que davam para a sacada decorada de forma simples, mas muito elegante e que naquele momento estava quase congelada pela neve que caíra. Dazai chegou a conclusão que seria bem mais prático apenas arremessá-lo dalí.

Mas porque o assassino não pensara nisso? Talvez ele estivesse lidando com uma motivação maior do que ele conseguira compreender.

Por enquanto. Ele se afastou e fechou a porta silenciosamente.

Depois da investigação um tanto Iícita, Dazai decidiu se reunir com os outros hóspedes do L'empire. Entre uma e outra conversa, o tempo passou muito devagar e à noite veio acompanhada de uma tempestade de neve assustadora. Os ventos fortes sopravam sob a colina, em uma melodia lúgubre. As janelas estremeciam, mas as lareiras queimavam forte e ninguém dentro do hotel parecia notar que o mundo lá fora desabava.

Quando todos já estavam dormindo, Dazai caminhou com passos calmos e silenciosos em direção ao seu encontro noturno. Nada se ouvia no hotel, senão o som do vendo agitando os galhos das árvores castigadas por aquele inverno tenebroso. Ele ergueu a mão e deu duas batidas. A porta se abriu imediatamente e dois olhos profundamente ardentes o encararam.

Chuuya usava uma roupa simples coberta pelo sobretudo que costumava usar. E murmurou baixinho. Sua expressão era um pouco ansiosa, mesmo que ele se esforçasse para deixá-la neutra.

-Entre. - Dazai sorriu e adentrou o ambiente.

O quarto de Chuuya era simples, com janelas médias, uma cama que estava perfeitamente arrumada, uma poltrona pequena ao lado de uma mesinha com livros e uma escrivaninha com alguns papeis bagunçados.

Dazai se sentou e começou a folheá-los distraidamente. Não conseguia entender o rubor na face do outro.

-Então? Qual a razão para este encontro tão repentino? - Ele o encarou demoradamente.

Chuuya estava com o rosto vermelho como uma pimente, quando sentou-se em seu colo e sussurrou no seu ouvido. Dazai foi pego de surpresa, mas ficou Atento as palavras que ele disse.

-Tem alguma coisa errada aqui. - O outro deslizou as mãos sobre a sua cintura, evitando contato visual.

-Além do homicídio. Me fale. -Dazai murmurou.

-Meu tio está apavorado. Acho que ele sabe muito mais do que está contando. - Disse baixinho. -Ele nunca está sozinho, e quanto está no próprio quarto ele a mantém trancada. E não deixa ninguém entrar, a menos que seja a Srta. Lianna.

-Olhe para mim quando falar. Ou eu vou achar que você está mentindo. - Chuuya deu um salto.

-Ah, eu não queria assustá-lo. - O outro se desculpou genuínamente. - Ele não deixa nem mesmo você entrar?

-Eu já disse o que tinha para dizer. Não se engane, meu padrinho não me tem em alta conta. - Ele apertou o sobretudo ao redor de si em movimentos agitados.

-Você não tinha chegado aqui, no dia da morte de Evans. - Dazai acrescentou, mas não foi uma pergunta. Ele se levantou e seguiu em direção a porta.

-Não, cheguei um dia antes de você. Agora já basta. Saia. - Disse baixinho e suspirou como se estivesse completamente exausto.

-Você é um homem tão cruel, Sr. Nakahara. - Dazai o encarou demoradamente até que ele ficasse vermelho e então se retirou.

Ele mal escutou quando a porta fechou  e dentro de seu próprio quarto ele fechou os olhos, e falou consigo mesmo, enquanto retirava o sobretudo pesado e aproveitava o calor da lareira em seu quarto.

Não deveria se comportar desse jeito atrevido.

Não parece você.

De fato!

Mas eu ainda não o conheço bem o suficiente.

Então apenas preciso descobrir

Chuuya Nakahara

O que você está escondendo de mim?

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