sim, agora estou.

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Elena estava apaixonada por Amelia, por seus traços. Cada pequeno pedaço seu, sua pele e os cabelinhos claros em sua cabeça pequena. Tudo nela era tão minúsculo, Carlos conseguia segurá-la praticamente com uma só mão. Nada era tão delicado, tão feito sob medida e de um jeito tão belo que parecia irreal... era tão perfeita.

Eles passaram uma semana inteira juntos, Carlos não deixou o apartamento de Morales por todos os dias em que ficou na cidade antes de seguir para o Brasil. Seu coração já estava apertado antes da chegada de sua filha porque não queria perder um segundo que fosse, ainda mais porque os próximos dois circuitos só tinham uma semana de distância um do outro; depois de sua chegada então, que ele pôde ver o quão delicado tudo aquilo era, ele realmente considerava faltar com suas obrigações somente para estar ao lado de Elena e Amelia.

Sainz imaginava que veria da mãe de sua filha um lado nunca antes explorado. Seu pai havia lhe dito que quando ele chegara, junto com suas irmãs, Reyes renascera com facetas jamais vistas e ela pareceu mais forte em todos os aspectos possíveis. Elena também. Na verdade, ela parecia emanar uma energia de resistência, Amelia era sua extensão, as duas encaixavam perfeitamente e encaixavam melhor ainda dentro dos braços do espanhol.

Os pais Morales ligavam constantemente porque a ausência em seu negócio pelo mês anterior fizera com que fosse impossível estar ali no puerpério. Um cálculo completamente errôneo, perceberam muito atrasados. Os Sainz sempre se mostravam à disposição, mas aquele período inicial não pertencia a eles, então tinham um acordo justo de que Reyes iria se juntar à Elena quando Carlos viajasse.

E assim foi feito. Quando Carlos partiu para o grand prix de São Paulo, deixando vários beijos nas suas meninas, ele sentiu que realmente ficava ali uma parte sua que antes nem sequer existia, seus olhos se encheram de algumas lágrimas enquanto pensava nas suas Morales no caminho até o aeroporto. Elena sentiu saudades dele no momento em que seu corpo não estava mais no apartamento, mas não sentiu que podia dizer muito. A verdade é que era um momento de muitos sentimentos e às vezes ela parecia confundir as razões pelas quais o queria por perto.

Não tinha nada de ruim a dizer de Reyes, a avó de sua filha era uma verdadeira conhecedora de todas as coisas sobre crianças tão pequenas. Elena era constantemente acalentada pelos erros que a mais velha cometera em sua primeira jornada como mãe, ouvindo que errar era parte do processo e que não havia manual algum para cuidar do jeito certo daquelas criaturas tão pequenas e indefesas. As duas passavam horas em silêncio, a mais recente mãe se encontrava sempre tão cansada porque Amelia parecia sentir tanta saudade do pai quanto sua genitora o fazia e seus choros eram mais constantes na ausência dele.

Os dias foram passando, de um jeito ou de outro, a avó paterna de Amelia sempre chegava no início da manhã para dar algumas poucas horas de descanso à Morales, ia embora somente quando a tarde se despedia e quando garantia que as duas estivessem alimentadas e minimamente bem cuidadas. Certas jornadas pertenciam somente aos cuidadores daquela criança e por isso, as duas espanholas se abraçavam, numa troca de boas energias para que cada noite se passasse com tranquilidade e sem grandes problemas.

De repente, já havia chegado o dia em que Carlos estaria de volta. Seu voo só chegara a Madrid quando já passava das sete da noite, e por mais que Elena tenha passado os últimos sete dias relembrando que não estaria sozinha muito em breve, o pensamento não lhe ocorreu nenhuma vez na data em específico porque Amelia estava tendo um dia particularmente difícil.

Sua primeira soneca do dia havia finalmente se iniciado e a mamãe se contentou com somente sentar-se no chão, ao lado do berço em que a menina dormia serena depois do que se pareceram as mais longas horas de choro e desespero até então. O pediatra dissera que podia se tratar de uma cólica pelos sintomas que haviam sido relatados e que, depois da medicação, tudo o que podiam fazer era esperar pelo tempo da própria bebê. Ali, em silêncio pela primeira vez naquele dia, Morales se arrependera de ter dito a Reyes que não precisaria de sua companhia naquela quarta-feira, no início da manhã. Tudo o que mais queria naquele instante era um banho de pelo menos meia hora, mas não tinha forças para fazê-lo porque sentia que qualquer movimento seu desencadearia numa neném acordar e voltar a berrar incessantemente em busca de alívio.

Carlos não demorou mais de quarenta minutos para chegar no local depois que Elena sentou-se no chão, mas quando fechou a porta da frente com todo o cuidado e de longe visualizou o berço e a morena sentada, de olhos fechados no que parecia um sono cheio de cansaço, ele sorriu por tê-las tão perto e comiserou-se por imaginar o quão exausta sua parceira deveria estar. Amelia dormia profundamente e ele tirou alguns minutos para olhá-la antes de dar passos até o banheiro, enchendo a banheira com água morna e alguns sais que a madrilena mantinha por lá.

Voltou com calma para o ambiente do quarto e abaixou-se até ficar de frente a Elena, olhando-a com atenção pela primeira vez. Seu rosto tinha suaves marcas escuras ao redor dos olhos e ele teve pena de todo o trabalho que ela deve ter tido. Enquanto estava longe, ele se dedicou bastante a ler sobre puerpério e conversou com a própria mãe todos os dias para ter atualizações sobre a companheira e mãe de sua filha. Era um período naturalmente difícil e o piloto sabia que estar longe não auxiliava no apoio que a morena precisava ter.

"Lena..." Sussurrou, chamando-a enquanto acariciava uma das mãos que repousavam no próprio colo, tentando acordá-la sem muito alarde. Sua outra mão guiou-se até o rosto macio, repetindo o apelido duas outras vezes até que os olhos grandes e castanhos lentamente piscavam em sua direção. "Oi, cariño." Cumprimentou e ela sorriu, inclinando a cabeça em direção à mão dele que acariciava sua bochecha, também apertando os dedos entre os seus.

"Oi..." Sussurrou em resposta ao aproximar-se por um abraço ao qual Carlos retribuiu com toda a saudade que exalava de seu corpo. "Sentimos muito a sua falta por aqui, Charlie." E somente aquelas palavras foram o suficiente para que ele a apertasse ainda mais entre seus braços. Não queria perder Elena de vista nunca mais, queria sempre estar ali, com ela e Amelia, garantindo que tudo estava bem com as duas.

"Vem, deixa eu cuidar de você um pouquinho." Sussurrou, afastando-se para que os dois ficassem de pé, caminhando com cuidado até o banheiro para evitar barulhos desnecessários. Elena parecia um pouco mais magra, Carlos pôde perceber, quando a viu livrando-se do casaco que tinha por cima da blusa fininha que deixava seus seios marcados. "Já jantou?" Ela somente balançou a cabeça negativamente, desfazendo-se do prendedor que mantinha o cabelo para o alto, meio desajeitado.

"Não, hoje nós tivemos um dia meio longo... Amelia teve cólica." Explicou brevemente, sentando-se na ponta da banheira para se livrar de uma meia por vez. "Consegui colocá-la para dormir pela primeira vez há uma hora mais ou menos." Ela viu na expressão dele alguma preocupação e se apressou em acrescentar: "Mas ela está bem agora, conversei com o médico e ele me passou uma medicação que ela já tomou."

"E você está?" Ele devolveu, não duvidando de qualquer forma sobre o bem-estar da filha, confiava em Elena cegamente, na mãe que ela era. Então queria saber se a pessoa que ela também era estava tranquila.

Morales sabia que Sainz era um homem bom, mas dadas as circunstâncias hormonais em que se encontrava, no cansaço acumulado em que existira aqueles últimos dias, a saudade que sentia dele e todos os outros aspectos preocupantes de ter uma filha agora, ela sentiu os olhos marejarem e sorriu de lado, balançando a cabeça positivamente. "Sim, agora estou." Respondeu, de fato, aliviada por tê-lo ali.

Carlos aproximou-se o suficiente para lhe dar um beijo na testa, deixando seus rostos colados por alguns segundos a mais, somente sentindo-a por perto. "Que bom, vou deixá-la agora para um banho enquanto cozinho algo pra você jantar, ok?" Ela somente assentiu e o assistiu sair do cômodo ainda sorrindo pequeno.

Era um amontoado gigantesco de sentimentos, a confusão era até mais caótica do que ambos tinham energias para coordenar no momento, mas era ótimo que fizessem aquilo juntos. Ter um ao outro era provavelmente a coisa que os fazia funcionar.

esse slow burn é provavelmente o que causará meu fim, não vou mentir pra vocês, mas construir essa fic numa estrutura presente/passado tem feito maravilhas à minha existência que gostaria tanto de ter um bebê agora ahahaha. me contem nos comentários o que estão achando, vejo vocês em breve (:

unexpected. ⁕ carlos sainzOnde histórias criam vida. Descubra agora