um amor tão presente.

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Não era tão fácil assim encontrar onde as coisas costumavam sair do prumo. No dia seguinte aos passos de Amelia, Elena deu um jeito de escapar de casa antes mesmo do parceiro — poderia chamá-lo assim?, de repente sua cabeça se enchia dos mais estúpidos questionamentos e até banalidades como aquela se tornavam um verdadeiro inferno em sua existência. Um mero bilhete com instruções para o começo do dia com a filha, nenhum comentário sobre o que acontecera na noite anterior, nem uma demonstração que fosse de que reconhecia que dormiram juntos.

Carlos se encontrava numa situação de inferno espelhado. Não que ele se esquivasse do assunto dessa forma, mas a fuga de Elena lhe fazia conscientemente calcular que aquele não era o tipo de conversa que gostaria de ter. Então ele seguia em frente, sem nunca perturbar sua paz, garantindo que estivessem no limite do que era confortável; apareceria com uma modelo qualquer nas festas ao redor do próximo Grand Prix, utilizando de todas as possíveis formas de esquecer quem realmente queria estar atravessando o mundo com. E ela entenderia que, assim como havia pensado, eles tinham sido somente mais uma noite.

Era fácil ler a mensagem errada quando você destinava tão pouco espaço para almejar que as coisas dessem certo. Era mais fácil ainda se deparar sozinho ao final de todo aquele show, pensando na pessoa que também lhe pensava à distância. Elena não contava nos dedos quantas madrugadas foram afundadas em trabalho que poderia ter sido feito no dia seguinte somente porque qualquer coisa era melhor do que o silêncio gritante de ouvir os próprios questionamentos.

Por que não falei algo?, Será que é um namoro?, Eles já estavam envolvidos?, Será que ele também está pensando nisso tudo?

E ele estava, cercado por dúvidas tão parecidas que assisti-los resistir um ao outro era quase fisicamente perturbador. Ainda mais quando voltavam a se encontrar, dois dias depois ou doze. Sorririam juntos de algo, contentes pela sensação de que não se perderam apesar do risco que haviam corrido. Quando na verdade, eles muito certamente o corriam muito mais depois do sexo do que por causa deste.

Dessa vez, entretanto, eles não tinham escapatória para estar de frente ao outro na manhã seguinte. Elena e Amelia tinham um dia inteiro programado ao lado de Carlos e a manhã não poderia ter passado de forma mais contagiante. Os funcionários circulavam pela casa sustentando sorrisos discretos porque a morena se encaixava tão bem, conversando com o cozinheiro sobre algumas possibilidades para o almoço, Carlos lhe dando total permissão para decidir o que teriam no menu do jantar, garantindo o entretenimento necessário para que sua filha deixasse que ele e Morales conversassem alguns pontos importantes relacionados à imagem pública do espanhol, os três muito bem distribuídos preguiçosamente pela sala de estar.

Risadas que surgiram das maiores bobagens nas quais poderiam pensar, durante o filme bobinho que a pequena herdeira se mostrava não fascinada. Dividindo piadas sobre os aspectos mais patéticos do enredo, tocando em braços, joelhos, acariciando o cabelo quando trocavam de posição. Encaixavam tão bem na vida um do outro que era frustrante pensar que havia a chance daquilo tudo não ser levado adiante mais uma vez.

Quando Amelia finalmente dormiu, depois de quase uma história inteira, os dois se pegaram observando-a ressonar tranquilamente, pequena para sua recém trocada cama. Momentos como aquele lhes colocavam numa posição que há muito já não estavam, quase como se voltassem a ser pais de uma bebê. E era bom apreciar os poucos momentos nostálgicos... Dava vontade de...

"Ter mais um nem seria algo tão ruim quando ela está assim tão quietinha..." Carlos verbalizou, baixo o suficiente para não perturbar o sono tranquilo da filha, finalmente olhando para Elena com um sorriso no canto dos lábios.

Ela demorou a expressar algo em seu rosto, pega de surpresa pelo comentário. Não por nunca ter pensado no assunto ou cogitado a possibilidade de que um menininho seria lindo com o cabelo macio de Sainz. Talvez, por concordar, lhe havia custado alguns segundos para que balançasse a cabeça positivamente. "Sim, eu entendo o que você quer dizer." Silenciosamente, o convidou a deixar o lugar enquanto ainda pensava no assunto. "Também sinto falta de um neném pequenininho."

O moreno fechou a porta do quarto atrás de si e verificou a babá eletrônica para garantir que estava funcionando corretamente antes de se afastar ao lado da mãe de sua filha. O silêncio não foi intencional, mas bem aceito quando se apresentou aos dois. Era o primeiro momento no dia em que estavam sozinhos e eles sabiam que algo precisava ser conversado. No fim das contas, eles pareciam esperar um pelo outro novamente. Não queriam que a coisa toda se repetisse, mas havia muito em tomar o partido para lidar com a situação.

Pareceu que os dois tomaram o mesmo fôlego quando começaram frases no mesmo instante. Se interromperam de um jeito meio envergonhado, como se não fizessem ideia de como seguir com qualquer coisa que quisessem dizer. O que queriam, afinal de contas? Os dois continuavam caminhando sem notar tão evidentemente que os passos os levavam para a varanda central do primeiro andar, que dava para os jardins e piscina da mansão. E por até que os passos se encerrassem, em seu destino, eles se calaram aliando-se ao silêncio mais uma vez.

Carlos queria tomá-la em seus braços, apertar suas mãos entre as dela enquanto Elena pedia aos deuses todos que ele o fizesse, lhe beijasse sem pedir permissões ou perguntar por vontades porque tudo dentro de si gritava seu nome. Já era tão antigo, tão cheio de pausas e desencontros, custava tanto assim querer estar no mesmo lugar que o outro, pela primeira vez?

Talvez tenha sido por isso que Elena deu seu primeiro passo. Literalmente, posta uns centímetros mais perto do homem que lhe era mais alto e tão mais largo. Carlos se deixou observar o que aconteceria enquanto sua expectativa enrijecia partes de seu corpo que talvez nem devessem estar se manifestando num momento como aquele, mas que era incontrolável quando ela parecia simplesmente prestes a esmagar o próprio lábio entre os dentes quando ele próprio queria fazê-lo.

"Por que você não m-

Não foi necessário que ela concluísse o pensamento que era carregado por um cenho tão franzido de alguém tão frustrado. Na verdade, Carlos nem poderia saber se aquela era a questão, mas decidiu que aquele seria o começo de um pedido por um beijo. E essa era uma das coisas que ele nunca gostaria que Elena precisasse pedir. As mãos do mais alto voaram em direção ao corpo dela com a clareza e conhecimento de quem o possuía há anos. O jeito como sua mão se encaixava na curva de seu pescoço, com a ponta dos dedos roçando os cantos de sua bochecha. A outra mão que agarrava sua cintura de um jeito que deixava bem óbvio o quão desesperado ele estava.

Parte de Sainz se questionava o que aconteceria quando tivessem a oportunidade de recuperar o fôlego algumas horas para frente, já com menos roupas e com a mesma sobriedade daquele momento. Ele somente esperava que ela acontecesse, que como adultos, eles pudessem discutir o que esperavam daquilo e que dessem uma chance a um amor tão presente e ao mesmo tempo tão negado. 


depois de milênios sem dar as caras de qualquer forma, eu voltei! esse capítulo estava praticamente finalizado há um bom tempo, mas preciso admitir que não é um dos meus preferidos. ainda assim, se eu não postasse, iria me custar muito mais tempo até que retornasse com uma outra ideia. me contem o que acharam, prometo tentar aparecer em menos tempo. até logo (:

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⏰ Última atualização: Dec 18, 2023 ⏰

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unexpected. ⁕ carlos sainzOnde histórias criam vida. Descubra agora