saber que ela estava ali.

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A manhã surgiu bem mais ativa do que Sainz gostaria que tivesse sido. Seu relógio biológico lhe acordou mais cedo do que gostaria e à medida que seu corpo alcançava a consciência plena, o corpo quente que suas mãos abraçavam lhe fazia perceber que as coisas na noite anterior tinham ido além de somente devaneios furtivos.

A respiração de Elena era tranquila e seu corpo estava tão relaxado que Carlos tomou bem mais tempo para se levantar do que normalmente o faria. O corpo nu da morena não parecia incomodado pela súbita ausência dele, até que antes dele deixar o quarto, ela virou-se na cama, espalmando o espaço recentemente vazio ao seu lado. O piloto não deixou de sorrir com os cantos dos lábios ao ver a cena, fechando a porta com cuidado depois de passar.

Não dormiam juntos há muito tempo.

Amelia era um bebê desbravador em seus primeiros passos quando havia acontecido pela última vez e desde então... por mais que Carlos estivesse sempre sorrateiramente, tentando deixar pequenas evidências do seu interesse por Elena, a mulher não parecia assim tão convencida ou, sequer, perceber o que ele fazia. E então, lá estavam os dois outra vez, metidos numa coisa que se parecia muito com o tipo de bagunça que Morales gostava de evitar.

E aquilo talvez fosse a única coisa que o levava a suspirar preocupado enquanto andava até o quarto de sua filha. A sensação de que Elena poderia se afastar somente para garantir que nada muito complicado se desenrolasse.

Amelia ainda estava meio sonolenta quando ele a colocou em seus braços para ir preparar seu café da manhã, mas até alcançarem a cozinha, ela já tinha dado um jeito de encontrar energia o suficiente para tentar escalar suas costas enquanto lhe pedia para andarem como se fossem um papai gorila e um bebê gorila. Carlos talvez tenha usufruído daquela distração bem mais do que conseguiu perceber, rindo enquanto sua filha se segurava na regata de tecido fino que escondia algumas partes de seu corpo e ele preparava uma batida de frutas vermelhas para os dois.

"Lía, você está por acaso tentando levar uma queda daí de cima?" O tom de voz um pouco mais sério chamou a atenção dos dois Sainz, que viraram naquela direção com um certo receio e de olhos meio arregalados. Morales tinha uma das mãos na cintura, vestia-se de um short e uma camiseta e seu cabelo estava ainda molhado. Para alguém em trajes tão despojados, ela parecia muito ameaçadora. Deu alguns passos até os dois e seu sorriso foi surgindo nos lábios quando ela beijou a cabeça da filha, "Bom dia, mi amor."

"Bom dia, mami." Amelia respondeu contente pela reclamação não passar de uma brincadeirinha. Estendeu os olhos de um genitor para o outro antes de prosseguir: "dá bom dia pro papá."

"Bom dia, Charlie." Ela acrescentou com um beijo na bochecha dele que lhe precisou ficar na ponta dos pés. Sua expressão não parecia abalada, mas ela definitivamente estava pensando tanto quanto ele próprio.

"Bom dia, Lena." Sorriu em sua direção.

"Um beijinho também." A menina olhou para seu pai, numa certa expectativa, uma vez que eram sempre tão amistosos um com o outro e ele não hesitou em deixar um beijo estalado na bochecha da morena de pé ao seu lado. Isso fez com que as duas rissem e ele se permitiu aproveitar mais um sinal de paz para aquele começo de manhã meio inesperado.

Tudo era meio inesperado entre eles dois, na verdade. E pensando sobre isso, ele voltou-se para a larga ilha que ficava no centro da cozinha, enquanto Elena se ocupava de distribuir dois copos de vidro grosso e um terceiro cheio de flores e com um canudo colorido pelo mármore nobre. Depois de lhe o liquidificador, ele capturou a filha entre os braços, colocando-a sentada em cima da bancada. Rapidamente, os três se encontravam sentados e em silêncio, concentrados em deliciar-se com a batida.

Elena não parava de olhá-lo. E ele até tentou fingir que não estava percebendo, mas não poder olhá-la também era complicado demais para a compreensão de seu cérebro. Então, seus olhos encontraram os dela e ele pôde ver o suave arregalar das orbes castanhas, em surpresa, ao serem pegas no flagra.

"Dormiu bem?" Ele perguntou, puxando o assunto de um jeito mais sutil para que a versão pequena e misturada dos dois, não os acompanhasse tão claramente no que de fato conversavam.

"Sim, e você?" Devolveu, depois de balançar a cabeça, apoiando a própria resposta. "Acordou cedo?" Juntou mais uma questão, que estava fazendo seu coração disparar um pouco.

"Dormi bem também..." Respondeu, tomando um gole da batida antes de qualquer outra coisa. Sentia-se repentinamente muito tenso, o açúcar das frutas talvez lhe fizesse o bem necessário. "Acordei há poucos minutos, fui encontrar uma pirralhinha que mora na minha casa." Explicou, fazendo cócegas na filha, enquanto ela não tomava a bebida. "Vamos, cariño. Não vai crescer se não tomar a vitamina." Falou, apontando para o próprio copo e o da mãe da loirinha.

Elena fez o bom papel de fingir que não estava atenta, somente para encenar um elogio exagerado à batida enquanto tomava um gole gigantesco. Afinal de contas, não importava o quão inteligente Amelia fosse, ela ainda era uma criancinha de poucos três anos, então adorava repetir as coisas que seus pais gostavam.

Passaram a manhã juntos, Foram para a piscina mais uma vez, agora acompanhados da menina e vez ou outra trocavam olhares longos demais ou se pegavam encarando o outro quando não deveriam, mas não era o momento para tratar do assunto, então somente seguiam sendo os bons pais que eram. Isso definitivamente não os impedia de aproveitar o tempo juntos, livrando-se gradualmente de toda a tensão de terem passado a noite revirando lençóis perigosos demais.

Em algum momento, ao longo daquele dia quente, as paredes haviam se derrubado totalmente e segurando Amelia nos braços, Carlos recebia um pedaço de carne na boca diretamente das mãos de Elena, que era a responsável pelos lanches naquela rodada. Riram os três em conjunto sobre algo bobo o suficiente para que a mais nova se deleitasse sem fim. Sem estar mais dentro d'água, a morena acompanhava os dois de perto porque Sainz havia se enfiado entre suas pernas para apoiar a própria cabeça nas coxas dela, continuando a conversa qualquer sobre desenhos que Amelia conduzia.

As coisas se confundiam quando ficavam boas assim, fáceis. Elena ponderava bastante sobre as próprias decisões e o peso de certas escolhas. Confundia-se do outro lado também. Carlos ficava meio zonzo com a dimensão que Morales ocupava em sua cabeça, em seu coração principalmente.

Não havia sido o melhor dos homens com Isa, longe disso. Não havia sido o melhor dos homens com a maioria das pessoas com quem se envolvia. Ainda assim, estava sempre cogitando como as coisas poderiam ser caso tivesse quem realmente queria e talvez, a parte mais pesada fosse saber quem era aquela.

Saber que ela estava ali, sendo convencida por uma pessoa pequena demais, a voltar para dentro da piscina por mais meia hora para que brincassem de tubarão. 'Quando ficou tudo assim tão complicado?', pensou sozinho, querendo poder dar algumas braçadas até finalmente recuperar suas meninas para dentro do seu abraço, do seu conforto e do seu amor. 


de volta por aqui! eu adoro essa família, às vezes é difícil colocá-los nessa posição de estar em conflito com os próprios sentimentos hahah. mas espero que vocês tenham gostado e que entendam a necessidade desse cuidado com o que sentem (de ambos os lados). volto em breve, nos vemos logo (:

unexpected. ⁕ carlos sainzOnde histórias criam vida. Descubra agora