Balanço

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O vento forte os trouxe novamente para a cozinha da casa de sua avó onde outrora eles estavam, Anna não conseguia sair do chão e dos braços de Jim, curiosamente ele tinha o mesmo cheiro de sempre e naquele momento estava sendo o único conforto que ela poderia receber. Era muita coisa em sua cabeça, e seus olhos não conseguiam parar de derramar lagrimas pelo seu rosto. 

Ela se quer percebeu o tempo passando... Mas que tempo era esse? Há minutos atrás ela estava vendo seu corpo ser enterrado, suas amigas e sua família aos prantos por ela e ela não conseguia acordar daquele pesadelo de nenhuma forma. 

- Esta tudo bem Anna... - disse Jim finalmente quebrando aquele silencio absoluto na cozinha onde os dois estavam. 

Mas ela não podia ver onde e como ficaria tudo bem, ela não tinha se quer capacidade de imaginar como tudo ficaria bem, tudo que ela queria era voltar para sua vida normal, ela tinha tantos shows para fazer ainda, a agenda da banda estava praticamente lotada e ela era uma das principais responsáveis pela grande notoriedade que receberam, e era para onde Anna queria voltar... para os estresses das viagens, para as confusões nos camarins, para o contato humano com os fãs, sentir todo aquele carinho e devoção da plateia todo fim de show... Essa era a vida dela, vida na qual ela havia lutado muito para conseguir. Ela não poderia simplesmente ter morrido e deixado tudo aquilo para trás. 

- Não, não está, eu... - ela se levantou esfregando o braço por todo o rosto para enxugar aquelas lagrimas e suspirou. - Eu preciso ficar sozinha...

- Claro, você precisa de um tempo para digerir tudo isso e eu compreendo. - afirmou Jim colocando uma mecha de seu próprio cabelo atrás de sua orelha. - Mas eu quero que você saiba, Anna, que você foi e ainda é muito amada por aqueles que ficaram para trás... e por aqueles que estão aqui com você.

Aquelas palavras pareciam ter sido outro soco no estomago da mulher que não conseguiu responder, ela apenas passou por Jim abrindo a porta da cozinha que dava acesso ao quintal da propriedade de sua avó que ela conhecia muito bem e puxou todo o ar que conseguia para os seus pulmões com o rosto levantado para o céu. Como ela estava respirando se estava morta era a pergunta de um milhão de dólares, como ela conseguia sentir o vento bater em seus cabelos e balança-los também era outra pergunta premiada, Anna não estava conseguindo compreender o que estava ocorrendo.

Se ela morreu, ela deveria ir ou para o céu ou para o inferno, a segunda opção seria a mais provável para ela pois o tanto de merda que ela tinha feito em toda a sua vida lhe daria uma senha vip por colo de satã, mas nada disso estava ocorrendo ali. O bairro mais parecia um baixo americano comum de classe média, havia pessoas andando pela rua pois as casas não tinham muros como de costume e ela podia ver tudo de onde estava. 

Caminhando em torno da casa, Anna encontrou o velho balanço que sua avó havia pedido para o vizinho da direita construir para ela quando ela ainda era criança, e ele parecia ser ainda tão novo quanto o dia em que ele havia ficado pronto. Como era estranho isso... Ela caminhou até ele e se sentou, usando seus pés com pouco impulso apenas para ir para frente e para trás lentamente. 

Ela segurou nas correntes que sustentavam o balanço e bateu a cabeça em uma delas varias vezes.

- Acorda, acorda, acorda... você tem que acordar Anna... - fechando o olho ela rezou pela primeira vez em anos para que pudesse despertar daquele pesadelo, mas sem sucesso. Quando abriu os olhos, ainda estava exatamente no mesmo lugar. - Mas que merda...

Passos foram ouvidos bem próximos dela até que os olhos de Anna se levantaram até a parte da frente da casa de sua avó, onde ela quase engasgou ao avistar outra pessoa bem conhecida para ela. 

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