O justo injusto

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Por alguns minutos, pai e filho ficaram abraçados naquele quarto em silencio, tudo que Jim queria era passar para Luke que não importava o que ele fizesse ou o que ele falasse, mesmo que fosse a coisa mais absurda, ele enfrentaria as consequências de seus atos e no fim seria perdoado, por que era isso que uma família de verdade deveria fazer. Jim cresceu em um lar totalmente desestruturado como grande parte das crianças dos anos 70 nos estados unidos, seu pai ele nem fazia ideia de onde estava e sua mãe infelizmente não era o melhor exemplo materno que alguém poderia ter, muitas surras sem motivos, nem um pingo de carinho ou afeto, apenas o modo mais cru e frio de se criar uma criança no subúrbio da Califórnia. 

Ele não queria que seus filhos sentisse o que ele sentia, toda a raiva, remorso e tristeza que vinha todas as vezes que sua mãe o punia, por isso havia abdicado completamente dos castigos mais maduros como usar cintos e varinhas para as boas e velhas palmadas no traseiro, uma punição que além de cumprir seu papel ainda trazia o fato do constrangimento por ser algo que só "crianças" recebem. 

E no fundo, seus meninos eram suas crianças, suas eternas crianças, e isso não mudaria nunca. O fato de Luke ter chorado até se acalmar sentado em seu colo após aquelas palmadas provava que eles ainda eram tão jovens quanto. 

- Você não quer se levantar para poder se vestir? - quis saber o pai sorrindo com um pouco de diversão ao ver os olhos tristes de seu filho o olharem. 

- Pra que? Para deixar minha bunda doendo mais?

- Foi só uma sugestão, filhote. - Jim sorriu ajudando o filho a se levantar e deitando Luke na cama de bruços com cuidado para não magoar ainda mais o bumbum já machucado. - E a proposito, você esta de castigo.

- O QUE?! - Luke virou-se rapidamente ignorando completamente a dor que emanava de seu traseiro e fitou seu pai incrédulo. - Você não pode esta falando sério!

- Estou falando bem serio, garoto. - o pai respondeu se levantando da cama do filho e cruzando os braços. 

- Mas papai eu e os caras vamos tocar esse final de semana no Orpheum, eu não posso faltar e essa é a nossa primeira grande oportunidade!

- Vocês terão outras oportunidades, isso eu garanto. - Jim suspirou caminhando até a porta do quarto do filho o vendo bufar em irritação, todo aquela carência tinha sumido completamente dando lugar ao seu normal eu, um garoto bastante irritadiço quando contrariado. 

- Isso é tão injusto! Eu já fui castigado, eu não deveria ficar de castigo! - gritou Luke enfiando sua cara no travesseiro e batendo com seus pulsos no colchão. - Isso tudo é por causa dela?! Por que eu não quero pedir desculpas a ela e você esta me castigando mais por isso?!

- Primeiramente, cuidado com seu tom de voz. - avisou o homem mais velho dando meia volta e voltando para onde estava ao lado da cama de Luke observando que o garoto estava começando a ficar mais difícil de se manter um dialogo naquele momento e só seu tom de voz mais serio iria faze-lo recuar um pouco naquela atitude. - E em segundo lugar você esta sendo castigado pela sua atitude na mesa na hora do almoço.

- Mas você disse que eu já estava perdoado!

- Disse, e esta perdoado. Isso é parte do seu castigo. - afirmou Jim vendo o garoto choramingar entre seus lençóis e travesseiros, mais um check nas listas de coisas que o Luke era idêntico a Anna, o drama. - Olha bebê, eu sei que tudo isso é um saco...

- Não me chama de bebê! - Luke protestou irado fazendo o pai revirar os olhos. - Você esta sendo tão injusto, eu e meus irmãos demoramos meses para conseguir uma vaga no Orpheum e agora você esta tirando isso de nós!

- Filho, o Orpheum não vai a nenhum lugar e se vocês conseguiram uma vaga uma vez, eu sei que conseguirão de novo. Não conheço pessoas mais talentosas do que vocês três. - Jim respondeu tentando afagar os cabelos de Luke mas o menino recusou o toque do pai, e afastou a cabeça. - Luke, não faz assim...

- Você esta estragando a minha vida! Esta estragando tudo! - o menino afirmou ainda com o rosto enfiado no travesseiro. - Ela nunca deveria ter vindo para cá, por causa dela tudo esta de cabeça para baixo!

- Não culpe a Anna pelo seu temperamento explosivo, Luke. - Jim o repreendeu com suavidade mas ainda com um leve tom de seriedade em sua voz. - E sendo bem sincero, você vai ter que se acostumar com a presença da Anna nesta casa pois é aqui que ela vai ficar.

- Mas...

- E eu posso não pedir que seja mil amores com ela mas eu exijo que tenha respeito por ela, não por ser ela, mas por que ninguém merece ser desrespeitado. - Jim justificou vendo o filho continuar resmungando coisas quase que inaudíveis, para a sorte dele, fazendo o pai soltar um suspiro cansado e voltar a caminhar até a porta do quarto do seu filho mais novo. - Quer que eu fique aqui com você?

- Quero ficar sozinho... - Luke murmurou fazendo Jim assentir com a cabeça compreendendo. 

- Quer que eu chame seus irmãos? 

- Quero ficar sozinho! 

- Ta legal, ta legal, quando for a hora do jantar eu venho te chamar ta bem? - Jim saiu do quarto esperando alguma resposta de seu filho revoltado, mas no fim, não recebeu nada, ele apenas encostou a porta do quarto de Luke deixando uma fresta pequena para a luz do lado de fora entrar um pouco no quarto dele. 

4 ALMASOnde histórias criam vida. Descubra agora