As vezes me questiono. O que me levou até aquele momento?Durante minha vida houveram muitos momentos. Momentos felizes e tristes e trágicos, mesmo que não me lembre desses, a cicatriz se formou com o tempo. Crescendo em meio a mulheres tão fortes, penso que talvez tive sorte. Sempre me apoiando e acreditando. Eu teria que recompensa-las. Eu tenho que recompensa-la.
Nunca pensei que teria um futuro brilhante, mas, eu precisaria disso. Mesmo que goste do meu pequeno conforto, quando a oportunidade surgiu, não pude deixar escapar. Ela estava tão contente. Tão orgulhosa.
Sento-me e choro. Olhando pela janela, o céu azul é vasto e lindo, mas o acento apertado sufoca. Uma criança também chora num acento afastado, me pergunto se se sente tão sufocada quanto eu.
É a primeira vez que adentro um avião. Pensei que seria mais emocionante, ou no mínimo confortável. A vista é bonita mas, ah...o acento é horroroso!
Concentrei todo meu foco nas nuvem lá fora. Talvez assim amenizasse todo meu incomodo. Analisei as linhas deixadas pelo vento enquanto agradecia por ter o acento ao meu lado vazio.
Por mais receosa, eu estava animada. Sabia que querendo ou não, aquilo era o sonho de muita gente. Muitos sonham em sair do país. Conhecer outra língua, cultura, pessoas...É, parece incrível.
Michelle já havia preparado tudo. O que eu faria a seguir e cada lugar onde poderia ir. Montando cenário e já especulando a personalidade de meus anfitriões, baseando-se unicamente nos rostos os quais vieram junto a suas fixas. Minha mãe é cautelosa, então não mediu esforços para achar informações da família escalada. Realmente drenando o que podia da agência.
Tudo seria perfeito. Eu estaria então realizando seu sonho.
Fechei meus olhos e então os abri. Repeti o ato algumas vezes na tentativa de dormir. Foi um completo fracasso, talvez pela minha agitação. Ela quem me deixou acordada pelas seguintes horas de vôo.
Estava tão perdida em pensamentos desconexos que acabei nem lembrando da pequena cartela de calmante guardada em minha bolsinha de mão.
Sabendo que não seria infinito, o vôo finalmente chegou ao fim. O nervosismo só aumentava aos passos que eu dava para fora do avião. Moraria na casa de estranhos no qual a língua não é a minha nativa, nem os costumes, nem a comida. Tudo poderia acontecer, e eu estaria ali, sozinha em outro canto do mundo.
Perdi-me um pouco em meio a multidão. Com minhas malas já nas mãos, olho para os lados a procura de algo ou alguém. Os minutos se passavam e podia sentir a ponta de desespero me cutucar.
Qualquer rosto que soasse familiar. Isso já aliviaria grande parte da tensão que me consumia.
Tantos cartazes animadores de familiares recebendo entes queridos; abraços calorosos vindos de todos os lados; gritos animados e sorrisos largos. A energia do lugar seria familiar se minha nova família também estivesse aqui.Minhas mãos tremem e a respiração acelera. Acelera tanto que parece faltar.
Antes que mais um capítulo de terror se inicie, o desenhar de uma cartolina brilhante toma o foco de minha visão. Um sorriso singelo surge, e os olhos se fecham com um suspiro aliviado. Processo a expressão vinda da criança de cabelos claros que pula sobressaindo as cabeças da multidão.
Posta sobre o ombro da pessoa ainda não revelada, a pequena garota acenou com um sorriso alegre no rosto.
Com meu fôlego recuperado, acenei de volta, esticando-me um pouco para sobrepor o mar de pessoas.
Dei passos largos e rápidos, uma pequena corrida para que logo os alcançasse.
Meu cérebro esquentou recolhendo toda a informação aprendida ao longo da vida sobre essa língua que agora viraria tão habitual.
Meus passos cessaram e então parei frente a eles. Meu corpo fora logo envolvido em um abraço caloroso. A mulher, reconhecida como Katherine, acaricia minhas costas com carinho.
- Own, você é tão linda! - Elogia revelando-me sua doce voz. - Seja muito bem vinda querida! - Pronuncia vagarosa, fazendo com que sinta suas amáveis palavras.
- Muito obrigada...!! - Um riso envergonhado encapa em meio a fala. Minha voz vacila sem meu controle.
Quando se afasta, a mesma mão vista a segundos aparece acenando como antes. Agora a mesma estica seu curto braço para ganhar minha atenção.
- Oh, olá! - Sorri acenando de volta, me inclino pouco mais para seu tamanho.
Seu sorriso pareceu mais tímido. Ela inclinou a cabeça para o lado quando juntou suas mãos atrás do corpo.
- Oi, meu nome é Hailey. Prazer em conhecê-la! - Pronunciou as palavras treinadas.
Cerro meus olhos analisando-a, dando-lhe um sorriso divertido. É possível ver como a pequena reprime seus lábios insegura.
Talvez quisesse dizer algo, mas não sabia bem o que. Acreditei que deveria iniciar algo, então logo pensei no cartaz de letras infantis.
- Você quem fez o cartaz, não é?
- Sim!! - Sua expressão se animou ao confirmar. - Você gostou??
- Sim! Ele é taão lindo! - Sorri. - Graças ao glitter consegui vê-lo de longe!
Sua atenção parece mudar rapidamente. Seus olhos arregalados se viram para Katherine, que com um rápido gesto, lhe da um sutil aceno de cabeça. A loira sorri liberta para prosseguir no mesmo tom.
- Eu coloquei todo o glitter roxo que eu tinha. Ele é meu favorito então fiquei com dó de usar, mas no final ficou bonito então eu fiquei muito feliz!! - Sua fala rápida e expressiva me tira uma expressão surpresa.
- Uau! Usar todo seu glitter favorito em um só projeto é uma escolha difícil, Hailey! - Digo ao me levantar. Sorrio para Katherine que cruza os braços nos olhando com ternura.
Minha atenção sobe ao homem silencioso pouco atrás da ruiva. Suas mãos pendem nos ombros da mulher com carinho.
Dou-lhe um aceno de cabeça mas o mesmo não retribui. Em vez disso, retira uma de suas mãos da esposa, estendendo-a para mim.Toco na pele aspera e o mesmo abre seu sorriso mais amável, sobrepondo minha mão com sua segunda, posta antes sobre um dos ombros de sua mulher.
- Seja muito bem vinda Isabelly! Eu sou o Harry... - Fala revelando-me sua voz grave, porém, a qual carregava uma suavidade acolhedora. - Sou o pai da família, mas acho que isso você já sabe. Bom, espero que se sinta em casa! - Ele suspira com uma risada baixa.
- Eu quem devo agradece-los! De verdade, muito obrigada!
Vejo os olhos de Harry caírem para atrás de mim. Viro-me, e por fim, dou de encontro com outra garota. Ela se parece mais com a irmã, seu sorriso, assim como o da pequena, se assemelha ao do pai.
- Bem vinda, Isabelly! - Quem reconheci ser Alye acenou simpática.
- Ah, oi! - Ri. - Prazer, Alye! - A retribui com um sorriso.
A atenção foi tomada novamente para o pai. O mesmo carregava minhas malas, as quais nem notei ter deixado para trás.
Uma chamada rápida para que nos puséssemos a andar.
Todos então, caminhamos em direção à saída do aeroporto. Conversamos um pouco ao longo do caminho.
Quando coloquei os pés da calçada para fora, o ar pareceu fugir dos meus pulmões. A visão dos prédios altos; ruas com o asfalto intacto; as pessoas andando despreocupadas pelas ruas de Santa Mônica enquanto carros bonitos desfilavam de todos os lados.
Meus olhos lacrimejaram quando o vento frio soprou em meu rosto. Mesmo que me encorajasse a pensar algo, sei que no fim, nunca presumiria, de fato, o que me causou aquele sentimento tão indescritível.
Esse foi o início de uma nova temporada.
Esse foi o piloto da minha vida. E eu mal imaginara o que os próximos episódios me guardavam.
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Brotherly love??
RomanceIsabelly Sanches é apenas mais uma garota de vida simples na movimentada cidade de São Paulo. O que mudou tudo foi sua decisão de terminar o último ano do ensino médio morando em uma casa engomada na calorosa cidade da Califórnia. Hospedada na resi...