03| Morangos

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  Eu acabara de sair do banho quando o som alto da guitarra passou a atravessar as paredes do meu quarto.

Essa foi a primeira vez de muitas outras. Sempre no mesmo horário, ao início do anoitecer. Graças a Deus, o som não passava de quarenta minutos.

Não poderia dizer que a música me incomodava, na verdade ela em sí era boa. Ele é muito bom.

Mas em momentos os quais exigem minha concentração, realmente não me agradava em nada.

Estava prestes a completar minha primeira semana na casa. Todo dia fazia questão de manter contato com minha querida mãe.

A mesma marcou para fazer-me uma ligação por volta das seis da tarde. Um horário onde já estaria em casa após o cansativo trabalho.

Sentei-me na cama, atendendo sua chamada. Conversamos por poucos minutos, e então o som logo começou.

Me perguntei várias vezes se só eu ouvia isso. Provavelmente porque meu quarto se encontrava logo ao lado do seu.

Essa conclusão quem me segurou para que não batesse em sua porta tantas das vezes.

Ele está em sua casa, trancado em seu quarto. Quem seria eu para pará-lo? Bom, não importava mais, porque a partir do momento onde não conseguia mais manter a linha de raciocínio no que dizia à minha mãe, a lógica de apenas me calar novamente não segurou-me mais.

- É...eu entrei lá, e...e não era assustador como nos filmes, era só um porão. - Não deixai de desviar minha atenção. Virei-me para o nada, apenas encarando a parede qual dividia nossos quartos. - Você tá ouvindo isso? - Comentei já incomoda.

- A música? Ah, sou velha de mais para gostar de metal. Mas sabe, na sua época eu ouvia algumas bandas do-

- Não, mãe, não foi eu quem coloquei. - Olho para a tela vendo uma confusão pintar seu rosto.

- Não?

- Definitivamente não. - Uma risada escapa sem motivo aparente.

- Oh, era disso que você falava? - Suas sombrancelhas se arqueiaram com aparente surpresa. - Hmm...é, realmente.

- Quer saber? - Olho para o chão vendo a razão dissipar. - Um minuto! - Não dei tempo de resposta. Bati meu celular contra a cama, deixando o para trás quando saí em passos firmes para fora do quarto.

Pude escutar meu nome ser exclamando, mas já sem sentido pois, em questão de segundos, estava batendo com força contra a porta de Kass.

Força até de mais. Não queria parecer muito grosseira então para balancear a batida agressiva, vesti a expressão mais amigável possível naquele momento.

Assim que as primeiras batidas foram tomadas, pude ouvir uma nota errada e então a parada brusca da melodia. Uma movimentação lenta dentro do cômodo, até que então,o destrancar da porta.

Assim que a limitada fresta se abre, deparo-me com o garoto alto de cabelos molhados, quem se escora preguiçosamente no batente da porta. Os fios úmidos sobre seu rosto me indicavam um banho recente.

Não foi necessário abrir a boca, suas sobrancelhas arqueadas e olhar cansado já me questionavam o que me trazia até ali.

- Você pode, por favor, encerrar o som? - Meus braços se cruzam sem que perceba. Talvez minha expressão amigável tenha desaparecido assim que o vi, já que o rosto do garoto se pinta em surpresa.

Seus misteriosos segundos de silêncio me roubavam o ar. Como sempre, o garoto insistia em usar seus olhos mais que a boca.

- Desculpa, é que tá atrapalhando um pouco. - Tento amenizar com uma fala atropelada. Ele franze as sobrancelhas e inclina a cabeça, analisa-me um pouco para por fim abrir a boca.

Brotherly love??Onde histórias criam vida. Descubra agora