06| Submerso II

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  Uma ligação de vídeo de um pouco mais de duas horas rodava em meu celular.

- Olha, vê se não bebe muito! - Alertou Michelle ao outro lado da chamada.

- Mãe, você sabe que eu não bebo.

- Também sei como pode ser influenciável!

- Não é pra tanto... -  Murmurei. - E no final talvez nem tenha!

- Mas é óbvio que vai ter! Que festa é essa que não tem bebida?

- Essa sua fala não se encaixa no papel. - Inclinei a cabeça com um sorriso de canto. - Bom, de qualquer forma, não tem muito mais com o que se preocupar.

- Já não era para a moça tá aí?

- Não, ainda faltam alguns minutos... - Olhei para o relogio na escrivaninha. - Mãe, você tá começando a me deixar nervosa!

- Talvez eu já esteja... - Um pequeno silêncio até que pedisse novamente. - Vai, deixa eu ver sua roupa!

- De novo? - Disse com riso solto enquanto me levantava, apoiando o eletrônico sobre almofadas.

- Ai filha, você tá tão linda, olha só! - Sorriu pela tela do celular. - Vira!

Segui suas instruções posando um pouco despretensiosamente, escondendo um sorriso envergonhado por trás da expressão impaciente.

Quanto à minha roupa, me sentia genuinamente bonita e confiante, dizendo assim, de forma modesta.

Usava uma curta saia preta acompanhada por uma meia calça escura, um coturno de mesma cor, e como destaque, uma fina blusa de tecido pouco transparente, vermelha, a qual deixava meus ombros expostos, porém, acompanhando com um seguimento para meus braços na forma de uma fina manga cumprida.

- Espera! - Exclamou. - Aquele seu pingente dourado, pega ele. Vai! - Mandou gesticulando com as sobrancelhas arqueadas.

- Huu! - Empolguei-me com sua proposta já compreendida, afastando-me para o armário.

- Ai, esse mesmo! - Sorriu ao ver a peça em minhas mãos. - Dourado fica lindo em você... - Inclinou a cabeça com meiguice.

Mantemos um segundo de silêncio quando retribui seu olhar e sorriso antes de afastar-me atrasada.

- Ok, agora eu preciso colocar isso... - Dei uma pequena corrida até o espelho do banheiro. - Um minuto...!

Alguns segundos em uma batalha acirrada contra o fecho da curta corrente, até que finalmente o venci. Antes que pudesse ajeita-lo adequadamente, meus olhos se arregalam ao som da campainha da porta da frente.

Corri com pressa até meu celular, despedindo-me com apenas um beijo. O desliguei, recolhendo minha pequena bolsinha preta, seguidamente derrapando pelos corredores sem medo de cair.

Quando me encontrei já nas escadas, de relance vi Kass que descia à minha frente os degraus sem pressa.

Meu olhar ligeiro não pode capturar muito além da imagem de sua despojada jaqueta de couro e as restantes, nada surpreendentes, peças escuras.

Sempre me perguntava o porque dessas mesmas roupas de assaltante todas as noites. Eu poderia apenas tirá-las por mim mesma.

E claro, substituí-las por algo um pouco menos ameaçador.

A troca de olhares foi rápida antes que me juntasse à Agnes no lado de fora da casa. Entramos no carro e a ruiva logo deu partida. Tudo antes mesmo que Kass pudesse aparecer na calçada.

Brotherly love??Onde histórias criam vida. Descubra agora