Morada - Ziam

01).Presságio

Liam tinha muitas lembranças materiais em sua caixa. As mesmas lembranças que vagavam em sua mente, impedindo que dormisse bem naquela noite. Por essa razão, tinha se levantado e vasculhado cada uma delas, fazendo um resumo de sua vida até o dia presente, sendo ele, a véspera de seu trigésimo aniversário, onde celebraria suas conquistas e amargaria algumas derrotas, como um noivado rompido com aquele que julgara ser o grande amor de sua vida. 

Ele achava que ficaria bem e tentava levar a recente separação com bom humor e alguns prós, como o fato do seu ex noivo ter mordido um dos seus melhores amigos, ambos se gabando com discrição dos planos que tinham para o futuro. 

Apesar dos pesares, Liam estava feliz por seu amigo e apenas isso importava para ele.

Mesmo sendo um beta, fugia da regra de se relacionar apenas com os que tinham a mesma classe que a sua. De um modo interessante, e comum como com tantas pessoas, se via atraído por alfas. Chegou a namorar betas, mas o sexo e a boa companhia eram os únicos pontos positivos, pois ninguém jamais chegou a balançar seu coração como Josh tinha feito, apesar de sacrificar o bem estar de seu corpo arriscando em algumas raras noites de sexo com o alfa, resultando em um despertar doloroso, regado a analgésicos e a terrível sensação de ter sido atropelado por uma manada. Em momentos assim, Liam deixava seu sacrifício de lado e focava apenas na sensação boa que era ter alguém partilhando do mesmo sentimento e se entregando a uma vida a dois com ele. Tudo bem que, saber que para Josh a relação sexual entre ambos, basicamente não passava de um ensaio de preliminares, visto que alfas foram feitos para acasalar apenas com ômegas, e vice-versa, era complicado para Liam ver a frustração do amado escondida em cada sorriso doce que lhe lançava depois do ato, enquanto acariciava seus cabelos e beijava sua testa, completamente ereto e insatisfeito na cama, ao contrário do beta que, podia ter vários orgasmos só de sentir a ponta do membro de Josh insinuando entrar em sua cavidade. Também não podiam se ligar emocionalmente por uma marca, mas a parceria mútua e compreensão salvavam as poucas crises que apareciam devido às diferenças entre eles. 

Seria difícil superar o fim daquela história, mas estava orgulhoso por se sair tão bem, mesmo que não tivesse derramado uma unica lágrima desde o rompimento. 

Em outros aspectos de sua vida, Liam estava feliz. Era um veterinário respeitado e considerado um ótimo profissional nas redondezas da pequena cidade no Texas. Dividia o casarão em um rancho de propriedades extensas, com Louis, o amigo-irmão que a vida lhe deu. O lugar foi uma herança da falecida mãe do amigo e Louis tinha orgulho de cuidar daquele lugar que era o favorito dela. Harry Styles também fazia parte do ciclo de amizades e de tão grudados, tinha construído sua casa há três metros de distância do casarão, sendo ela maior e mais luxuosa. E Liam sorriu ao ver a primeira foto que tiraram juntos naquela casa e podia facilmente considerar aquele como um dos dias mais felizes de sua vida. 

O canudo da formatura foi o próximo objeto a ser tocado. Nunca se considerou alguém inteligente e se dar conta de como havia evoluído, se dedicando e provando a si mesmo que era possível, fez com que tivesse orgulho de chegar onde chegou. Em seguida, partiu para uma caixa pequena com bilhetes fofos que Josh escrevia. Hesitou, temendo remexer na ferida e desencadear uma enxurrada de ressentimentos camuflados, no entanto, o som de algo caindo no andar inferior, o fez suspirar de alívio e deixar a caixa de lado. 

Se levantou do chão, vestiu um robe e desceu as escadas. Sorriu ao ver Tina Turner, a Golden mascote de dois anos, esticada na poltrona. Acariciou a barriga com suavidade, sem intenção de acorda-la e seguiu para a cozinha. A luz estava acesa e ouviu resmungos de lá. Ao chegar na porta, Louis recolhia panelas que tinha deixado cair.

— Eu te acordei, baby? Sinto muito. — reclamou, sem sequer olhar para checar de quem se tratava. Liam achava incrível que mesmo no silêncio, sua presença podia ser sentida por Louis. Ele dizia que era pelo cheiro sutil de seu perfume.