Morada - Ziam

06). Constância

A realidade do que havia se tornado sua vida, aos poucos lhe dava uma noção e apenas confirmava o que já sabia sobre ter que aceitar mais aquela circunstância triste em que se via diferente do que planejou para o futuro.

Zayn pensava muito em cruzar o portão e partir, mas não tinha forças e talvez não queria. Algo o puxava para permanecer no rancho e Zayn estranhamente obedecia essa intuição, ou talvez fosse apenas o desejo de não sofrer sozinho. 

O alfa estava acostumado a perder e achava que tinha algo de errado com ele por isso. Primeiro os pais, depois as irmãs e quando achou que se livraria desse destino, sua noiva partiu, assim como a filha que sequer teve tempo de ver o mundo como ele era. 

Ainda doía lembrar da mão pequena prendendo o seu dedo em um reflexo natural, mas que, para Zayn, era a prova viva do que seria o amor. 

Era um homem devastado, afinal. Renesmee era o seu tudo e foi por ela que não desistiu ainda. Pelo menos ela estava segura, em uma casa regada a acolhimento e carinho. Se optasse por ir ao extremo, uma ideia que lhe rondava todos os dias e horas, teria com quem deixá-la e isso ja não era preocupante. 

Uma semana se passou desde que voltou a sua forma humana e passou a se adaptar aos poucos ao ritmo do rancho. O haras era um lugar incrível. As competições de hipismo que costumavam acontecer aos fins de semana, traziam leveza e agitavam os ânimos pela região. Divertido também era o clima da casa. Mike e Luke eram a alma de descontração do lugar, tão jovens, engraçados e bem humorados, com o amor puro e transparente que sentiam um pelo outro, acabavam afetando também quem os rodeava. Louis era o sábio com pulso de ferro, agindo como o pai de todos e sede da sabedoria maior, mesmo que não se enxergasse assim. Zayn via aconchego nele, um porto seguro irrefutável que lhe transmitia confiança e calma apenas pelo olhar… Descrita como uma sensação boa, natural e até se impressionava com isso. Era como se Louis e ele já tivessem se conhecido antes. 

Também tinha Harry, doce e gentil, com uma energia elevada e muita atitude, o contrário do que ômegas lupus costumavam ser. Ele e Louis pareciam duas peças de um quebra cabeça, se encaixando, apesar de algumas implicâncias superficiais, nutriam uma cumplicidade bonita. E essa qualidade se estendia a Liam, que fazia parte daquele ciclo entre os dois. O único detalhe chato que Harry carregava consigo era o fato de ter que aturar Stanley e sua inconveniência.

E por último, mas não menos importante,  vinha Liam, a pura essência em cuidado, atenção e uma incrível capacidade de camuflar seus sentimentos, colocando as necessidades de Zayn acima das suas, como por exemplo, abandonar o próprio quarto quando ouvia os passos discretos de Zayn pela casa de madrugada e o seguia apenas para confortá-lo, em silêncio, sem muitas perguntas. O alfa tinha insônia e preferia ficar sentado na varanda, olhando para o céu ou concentrado nos ruídos noturnos, refletindo sobre a vida e o modo estagnado em que se encontrava. Nesses momentos, Liam ocupava um espaço ao seu lado e encostava a cabeça em seu ombro, acariciando Nessie em seu colo, contando histórias de sua infância e juventude, muitas delas referentes às alegrias que surgiram após ser adotado. Zayn tinha vontade de falar que também cresceu em um orfanato e que, infelizmente, não teve a mesma sorte do beta de ser acolhido em uma família, mas preferia ouvi-lo e guardar o passado para si, pelo menos por enquanto. Era bom e não se cansava disso, ao contrário de Liam, que pegava no sono entre uma frase e outra e não demorava a roncar. E Zayn acabava adormecendo, despertando ao amanhecer com o beta o cutucando e estendendo uma xícara de café para ele, com muita boa vontade. Zayn era grato, se culpava por atrapalhar o descanso do veterinário e Liam não via problema. Alegou que só pararia quando Zayn passasse a dormir direito em sua própria cama, livre da insônia e de seus pesadelos. 

De certa forma, se enxergou como a distração do veterinário, visto que foi seu paciente por um tempo prolongado. Ele gostava de estar perto e retribuir a atenção de Liam, como se devesse isso a ele e era bom. Desde a infância Zayn não era muito dado a conversas, mas não era como se Liam se incomodasse, afinal falava bastante pelos dois.