Beleza Sombria

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Capítulo quatro

Beleza Sombria


Dois anos antes

Os olhos de Padmé jamais seriam de cigana oblíqua e dissimulada, quando tão clara essência angelical ainda pincelava seus traços com esmero. Mas Anakin Skywalker parecia ser um verdadeiro parasita, infiltrado em sua pele, sugando sua alma aos poucos, drenando seu sangue, deixando que seu veneno corresse por suas veias e a infectasse aos poucos, sem chance de antídoto.

Naquele ritmo, pouco a pouco, talvez quem sabe seus olhos conseguissem atingir o cobre dourado místico das íris odiosas de Anakin, da qual àquela cor nunca o pertenceu, mas o azul subversivo era tão enganador quanto o dono.

Talvez aquela contaminação não fosse tão ruim. Quero dizer, Padmé não tinha necessariamente mais que responder uma dona, mas sim, ao seu "dono" que, honestamente, não tinha nenhuma exigência, o que por ironia a tornava dona de si mesma.

Agora, maior de idade e a única responsável por seu próprio dinheiro, as coisas mudaram. Contudo, nem tanto assim. Padmé ainda precisava dançar para ganhar seus extras e se manter morando sob o teto de Satine — Anakin havia se encarregado de deixar claro que Padmé tinha o direito de ficar ali até quando quisesse. Mas a prática com Satine era mais árdua do que a teoria...

Sobre o palco, Padmé exibia-se em mais uma apresentação; pérolas enfeitavam toda sua lingerie, trazendo um estilo retrô que não a agradava tanto, mas ironicamente cabia perfeitamente à ela. Pelo menos, era o que todos os espectadores pensavam, além de outra meia dúzia de coisas sujas. Mas ninguém seria tão louco de sequer pedir pela mulher de Skywalker — ninguém queria a costa oeste inteira atrás de si.

Assim que a música encerrou, ela abriu seu instintivo sorriso de soslaio, tão bem ensaiado como cada movimento sexual que ela fazia. Nenhum de seus passos poderia ser natural, tudo aquilo não passava de um teatro do qual em pouco tempo ela se livraria.

Mas Padmé não estava tão entediada assim, quero dizer, era sexta-feira, Anakin viria vê-la. E ele nunca ousava se atrasar, chegando sempre na hora em que dizia que chegaria. Naquela noite, a camisa social preta com dois botões abertos na gola o deixavam ainda mais charmoso, se não fosse pelo cigarro aceso entre os lábios. Padmé não gostava do cheiro do fumo, mas gostava de assistir ele fumar; a forma como a nicotina ia ganhando força em sua corrente sanguínea e seus olhos azuis tornavam-se mais escuros e relaxados, toda sua postura sucumbia para a sensação de torpor. Quando sentado, suas pernas dividiam-se relaxadamente sobre a poltrona, de modo que ele parecia ainda maior pra si; como se já não fosse a porra de um herói grego desfrutando de toda sua glória...

Anakin tragava o cigarro, olhando pra madrugada escura. Ela o observava com uma atenção maior do que realmente esperava estar destinada. O barulho longínquo de uma sirene de polícia ecoava em algum lugar do bairro, onde muito provavelmente algum inocente era abordado, com as mãos para trás, apanhava de quem deveria protegê-lo. Os verdadeiros criminosos estavam confortavelmente alocados em palácios e tinham a cabeça sob um travesseiro macio. Mas quando a batalha travada não é com você, pra que se importar? Há guerras mais perigosas por aí...

Mas o sangramento é também o sinal de que você está crescendo. Padmé e Anakin entendiam bem disso... A relação deles, por exemplo, havia evoluído com o tempo. Ela não era mais aquela garotinha inocente e assustada. E não teria como ser, não quando Anakin Skywalker estava do seu lado... Os olhos assassinos e os lábios mentirosos dele eram motivos suficientes para contaminar até as entranhas dela. E disso, não havia dúvida.

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