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Aviso: Conteúdo sensível. Menção de drogas ilícitas, suicídio, psicopatia e transtornos psicológicos.

5:20 da manhã. O mesmo cronograma de sempre, levantar, tomar banho, tomar café e trabalho.

Mas algo parecia diferente. Talvez o frio na barriga, ou talvez a ansiedade desde o momento em que abri meus olhos, como se alto fosse acontecer. Há anos não sentia um medo tão grande que algo fosse acontecer. Claro que algumas vezes sofri por antecipação, ter ansiedade por conta de não saber o que acontecerá no futuro...

Era normal, ou pelo menos eu achava que era.

Hoje em particular, não hesitei em dizer o quanto amo Angel e Alex, que de princípio estranharam e até chegaram a pensar que eu estava drogada.

A reação deles não era de menos, nunca fui muito carinhosa e muito menos expressiva, e eles sabiam disso. Mas hoje era diferente, era como se eu realmente necessitasse daquilo, como se fosse a última vez.

O céu passou o dia inteiro nublado. E apesar de estar seguindo meu cronograma de sempre, o tempo parecia não passar, era como se eu estivesse vivendo em câmera lenta.

Dona Rosa, seu Cláudio e até mesmo Nicole foi até a cafeteria mesmo em um dia nublado, o tempo não passava, e a cada sorriso uma lembrança a se guarda.

Meu cérebro fotografava cada mísero detalhe, nada passava avulto pelos meus olhos.

No fim do meu expediente, e da tarde Nicole me chamou para darmos uma volta e então paramos em um parque infantil, onde não havia nenhuma criança, apenas brinquedos abandonados como se ninguém nunca estivesse passado por ali.

Sentadas em um balanço sem dizer uma única palavra, apenas observando o grande céu onde parecia vir uma grande tempestade, tal tempestade que nenhum de nós jamais esqueceria.

- Como você está? - Ela enfim puxou assunto, sem fazer contando visual.

- Bem. Isso é estranho! O que queria comigo?

- Você é tão direta que chega a ser assustador. Tem alguém te procurando, se chama Laurent! - Assim que o nome foi pronunciado um calafrio percorreu a minha espinha, me sentia com frio, mas não era por conta do tempo.

- Eu sei... Eu estou com medo Nicole, sinto que algo vai acontecer em breve, mas não sei o quê é.

- Olha você deve está pensando que eu estou com esse homem, mas eu jamais me juntaria a alguém como ele! Ele é medonho, mas não de feiura ou beleza e sim de presença. Não sinto nada de bom vindo dele. Apenas vim te avisar para ter cuidado, eu gosto de você, me sinto estranhamente confortável ao seu lado. Por favor [Nome] tenha cuidado! - Desta vez ela me encarava séria, era um pedido suplicante.

Um pedido de coração que eu talvez não podia cumprir.

- Claro. Eu terei, obrigado pelo aviso! - Sorri gentilmente tentando esconder meu nervosismo.

Ela fechou os olhos e abaixou a cabeça. Suspirou pesado e então se levantou.

- É uma promessa de dedinho, se você não cumprir seu dedo mindinho será cortado! - Sorri das suas palavras, como se fossem as mais engraçadas.

- Lhe darei meu dedo mindinho se eu descumprir! - Então ela me olhou uma última vez indo embora logo após.

Assim que ela se afastou o suficiente senti uma presença atrás de mim. Senti medo novamente, mas era diferente, desta vez sentia que algo mudou.

- Salut! - E novamente aquele cheiro entrou pelas minhas narinas. Me debati mas era óbvio que ele era mais forte que eu, apaguei de novo.
(Tradução: olá)

De novo isso?

[...]

Ouvia bem no fundo vozes, mas em outro idioma. Minha cabeça doía demais para tentar decifrar o que eles falavam. Abri meus olhos lentamente me acostumando com a luz do lugar.

- Bonjour mon amour! - Uma voz conhecida disse por fim. Olhos azuis, cabelos negros. Ao seu lado o mesmo homem que vi na cafeteria perguntando por Mikey.

Bem que eu deveria imaginar. Não é todo dia que um gringo vai no seu trabalho e pergunta do seu namorado sem mais ou menos.

- Deve estar meio tonta, mas é normal. Aqui um pouco de água! - Me deu água na boca já que minhas mãos estavam amarradas. Dessa vez estávamos em um quarto bem arrumado e em minha frente uma imensa janela de vidro que dava a vista para a cidade.

O copo foi esvaziado, em meu queixo havia algumas gotas de água, o homem da cafeteria logo foi embora assim que Laurent fez um sinal com a cabeça para a porta.

- Te dei tempo suficiente, espero que tenha a resposta que eu quero! - Meu maxilar foi segurado com força, me forçando a olhar em seus olhos.

- Eu já tenho a resposta! - Minha voz saiu baixa, mas firme. Não era mentira já tinha feito minha decisão, e eu não iria me arrepender.

- Excelente! Mas antes de tudo, gostaria de dizer algumas coisas para você. Gostaria de lhe contar a minha história. Posso? - Acenei com a cabeça confirmando.

- Sabe [Nome] Suzuki, foi bem difícil achar você, seu pai negou me dizer sua localização até a morte. Mas já sua mãe... Foi completamente diferente. Foi necessário apenas eu oferecer uma pequena quantia de dinheiro para ela abrir o bico. E eu achei isso fascinante, mesmo eu oferecendo tanto dinheiro ao seu pai e até mesmo quitar a sua dívida comigo ele não abriu a boca, mas por quê? Eu pensei bastante sobre, mas nunca achei uma resposta plausível para esta situação. Seu pai nunca foi presente e sua mãe é só uma prostituta qualquer! Ela que devia te amar de forma incondicional. Mas aconteceu o contrário disso. Deve saber o que eu fiz com o seu pai, então não será necessário falar detalhadamente o que eu fiz! - Uma lágrima solitária escorria na minha bochecha, eu conheço a mãe que eu tenho, e eu sabia que mesmo se ela não dissesse ele iria me encontrar uma hora ou outra.

Talvez o que me abalou mais nessa história toda, foi a notícia que meu pai estava morto. E a única coisa que eu me arrependia era não ter sido presente na vida dele. Claro que não faria diferença se ele não me quisesse por perto. Mas porque ele não me entregou de qualquer forma? Sua dívida e sua vida seriam poupadas. Eu não entendia e jamais iria entender porque ele não iria voltar agora.

- Minha criação foi diferente e um pouco igual a sua. Meu pai era um alcoólatra, minha mãe uma vadia que me usava como brinquedo. Sabe qual era o prazer dela? Ver um marmajando me fuder até eu perder a consciência. As inúmeras vezes que eu pedia, suplicava, implorava para ela "por favor mãe eu não quero. Por favor mãe isso dói!". Mas sabe o que ela fazia? Ela sorria e falava para eu ser um bom garoto. Meu pai não fazia porra nenhuma, era um velho broxa que espancava tanto eu quanto minha mãe. Uma vez ele quebrou duas das minhas costelas e a minha clavícula. Outra vez quase fiquei paraplégico. Mesmo cheio de machucados minha mãe trazia seus amantes para dentro de casa pra me fuder e me obrigava a ver eles fudendo ela depois. Mas um dia eu me livrei de todo esse sofrimento, eu matei eles! Cada um com tiro na cabeça, aquilo foi gostoso pra caralho. Eu só senti essa tesão duas vezes em toda a minha vida. A primeira quando matei eles e a segunda foi quando vi você! - Ele contava tudo calmamente, olhando dentro dos meus olhos.

Me sentia aterrorizada com toda aquela história. Ele é louco, psicopata, obsessivo. Ele era tudo e mais um pouco.

- Você é o anjo que eu quero que me tire da escuridão! Você é minha! E mesmo se você não quiser ser, eu farei minha de um jeito ou de outro! - Chorava. Ou eu aceitava ter uma vida infernal, ou morria. Essa era o meu fim.

- Ei não chore meu amor, calma, não quis te assustar! - Ele secava minhas lágrimas com os dedos.

- Por que enxuga minhas lágrimas? - Perguntei aos prantos.

- Nem mesmo o maior assassino do mundo gostaria de ver a pessoa que ama chorar. Não sou tão ruim assim! Tenho uma proposta a fazer. Escute com atenção!

Tentei segurar as lágrimas ao máximo. Mas era inútil.

- Diga que me ama, e eu irei deixá-la ir! Apenas isso...


















MY ETERNAL SWEETIE | MANJIRO SANOOnde histórias criam vida. Descubra agora