2 - Alerta

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O susto fez com que o livro caísse das mãos de Eveline

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O susto fez com que o livro caísse das mãos de Eveline.

A sensação de um toque masculino em sua pele espalhou a regelada sensação de pavor por seus ossos.

— Não grite quando eu te soltar, milady. Por favor.

Assim que a mão enluvada se afastou de sua boca, e o braço ao redor de sua cintura afrouxou o aperto, Eveline se afastou e se virou, a saia do vestido se abrindo ao seu redor enquanto ela apanhava a adaga que deixava escondida embaixo das almofadas.

— Para trás! — ordenou, apontando a lâmina para o intruso.

O fogo crepitou na lareira, lançando uma luz alaranjada e trêmula sobre o rosto do homem que havia emergido das sombras da sala de leitura.

Eveline contraiu os lábios, confusa e surpresa.

Mas continuou com a adaga em punho, a lâmina cintilando diante dos olhos de Aidan Villin, o comandante da guarda de seu marido.

— Princesa Eveline... — ele falou com cautela, ameaçando dar um passo na direção dela.

— Não se mova! — Eveline ordenou. A mão que segurava a adaga tremia, mas ela se obrigou a manter o pulso firme enquanto encarava o comandante. — O que está fazendo dentro da minha casa? Por que Killian te mandou para cá?

Os lábios de Aidan se enrijeceram.

— Lorde Killian não sabe que estou aqui.

— Você está mentindo.

— Não estou, milady. Vim até aqui por conta própria. Seu marido não faz ideia disso. E ele não pode saber de nada.

O coração dela batia tão alto e tão forte quanto as ondas que atingiam os rochedos.

— Você é leal ao meu marido — ela sibilou, os olhos se demorando por um momento na tatuagem tribal que se estendia pela testa, têmpora e lado direito do rosto do comandante; uma marca que todos sabiam o que significava. — Você é um servo jurado dos senhores de Évora. Do meu marido e do pai dele. Suas palavras não carregam sentido algum.

— E, ainda assim, são verdadeiras. Peço que me escute, milady.

Eveline respirava rápido, os tendões vibrando, o pulso tremendo.

Ergueu o queixo, tentando não se acuar diante da presença daquele homem que sempre fora uma sombra enigmática pairando atrás de seu marido, e se permitiu observá-lo à luz do fogo.

Aidan Villin era três palmos mais alto do que ela, o que a obrigou a inclinar ainda mais a cabeça para fitá-lo, sem baixar a guarda ou a adaga.

Imaginava que, quando as pessoas o encaravam, apenas conseguiam se focar na tatuagem marcada no lado direito da face dele. Ela própria sempre fizera aquilo. Mas agora, perto do fogo, se perguntou como alguém podia se fixar na marca tatuada, quando os olhos dele conseguiam se destacar ainda mais sobre a intensidade forte e confiante do rosto angular.

As íris eram de um azul acinzentado, como as manhãs de inverno, mas manchadas pelo calor de pequenos pontos marrons e amarelos. Era um contraste dissonante de fogo e gelo, e Eveline se pegou prendendo o ar quando percebeu que já havia se demorado demais nos olhos dele.

Com as maçãs do rosto subitamente quentes, ela não soube como conseguiu passar pela barba rala, pelos cabelos espessos e da cor de um chá forte, para então observar as roupas dele; uma calça escura, um colete grosso e um par de botas. Havia ainda um manto negro colocado sobre as vestes, preso ao peito largo com um broche, que deixava a espada junto ao cinto à mostra, e que caía até a altura dos joelhos do comandante.

— Escute-me, milady...

Ela meneou a adaga para a frente, fazendo-o recuar.

Eveline tinha certeza de que um homem daquela estatura, alto, cheio de músculos e que passava o dia treinando outros homens, poderia arrancar facilmente a adaga da mão dela.

— Diga o que veio dizer, mas não se aproxime.

Aidan anuiu e endireitou os ombros.

Eveline esperou que ele se impusesse sobre ela, como os homens costumavam fazer tanto no reino de seu marido quanto no reino de seu pai, mas o comandante permaneceu parado no lugar, como se houvesse traçado uma linha invisível, um limite que não poderia transpor.

Mesmo tendo ordenado aquilo, ter o pedido acatado — respeitado — lançou uma onda de surpresa sobre ela.

— Diga logo o que tem para me dizer, comandante. — O coração de Eveline batia na garganta. — Por que veio até aqui, sem o conhecimento do meu marido?

— Está ciente de que Lorde Killian virá visitá-la amanhã, milady?

— Sim, meus criados me informaram. Um mensageiro passou aqui no final da tarde. — A mera ideia de ter Killian embaixo do seu teto, perto de si, talvez ansiando por sua cama, fazia os nervos dela gritarem. — Ele virá para o desjejum. Foi isso que veio fazer aqui, comandante Aidan? Reforçar a visita do meu marido?

— Não. — Aidan ergueu o rosto. Sob as chamas dançantes da lareira, a mistura fria e quente das íris dele parecia se mover em uma espiral lenta e hipnótica para os olhos dela. — Vim alertá-la, princesa Eveline. Seu marido tentará te matar amanhã.

 Seu marido tentará te matar amanhã

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