Doze anos atrás
Sem olhar para trás, Eveline atravessou o corredor, andando rápido demais, mal conseguindo respirar, temendo que Domenico e Erasto estivessem atrás.
Ela empurrou a porta do quarto da mãe e entrou no aposento, jogando-se ao lado da cama com os olhos marejados.
A rainha, abatida pela doença, virou a cabeça e fitou a menina.
— O que foi, meu amor? O que é isso no seu rosto, no cabelo? Sangue...?
— Sinto muito. Sinto muito. Sinto muito. Não consegui.
— Do que você está falando, Eve? — Ela tossiu baixo, tentando se sentar. Uma das criadas se aproximou para ajudá-la, mas a rainha gesticulou que não era necessário e permaneceu deitada, olhando para a filha caçula.
— Erasto e Domenico disseram que eu podia te salvar, mas... — Soluçando, Eveline ergueu o rosto. — Eu não consegui. Eles falaram que se eu usasse meu título de princesa e fizesse igual a Hilda das histórias fez, eu poderia te salvar. Algo que só eu poderia fazer, já que sou mulher. Banhada no sangue do cervo, eu deveria reivindicar a vida de cinco mães com as minhas mãos. As vidas delas seriam sopradas para você.
O rosto magro da rainha se contraiu.
— Eve...
— Só que ninguém sabe se esse ritual funciona. Eu li. Já escutei as histórias. Domenico falou que isso não importava. Eu tinha que tentar.
Tossindo mais uma vez, a rainha tentou erguer a mão.
— E o que você fez?
— Segurei a adaga bem forte. E, de repente, pensei nos filhos dessas mulheres ficando sem mãe. Sentindo o que eu estou sentido. E não consegui. Independente se desse certo ou não, não consegui. Domenico e Erasto disseram que, se algo acontecer com você, a culpa será minha. Só que... Perdão, mamãe. Fiquei com medo.
— Minha menina... Não foi medo. Foi força. — A mão trêmula da rainha se ergueu, tocando o rosto da filha. — Uma força feito a luz que rasga a escuridão.
Lágrimas encheram os olhos de Eveline.
— Mas você não vai mais melhorar. Por minha culpa. Havia uma chance...
— Não pense nisso. Não é sua culpa.
Ela balançou a cabeça, fios de cabelo se grudando nas bochechas molhadas.
— É minha culpa sim. Sou covarde e medrosa!
— Eve... Este é o ciclo na vida. Assim também é nossa alma, que vai pousando de lugar em lugar, até encontrar o lar onde pode residir. Em um momento, a noite eterna chegará para todos nós. E teremos que deixar este lar e partir para o mundo espiritual de Verden.
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Coroa de Luz e Ossos | DEGUSTAÇÃO
FantasyAos vinte e quatro anos, a princesa Eveline Thallan está presa em um casamento sem amor com um lorde cruel e inescrupuloso. Criada para obedecer, e forçada a calar seu espírito livre, ela luta para aguentar sua infeliz realidade. Mas tudo muda em um...