êxtase. ❨ richarlison ❩

one.

𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐈𝐒𝐎𝐍'𝐒 𝐏𝐎𝐕.

Perder parecia algo distante. Coloquei tanta expectativa em um sonho que, dessa vez, a dor no meu peito ao decepcionar tanta gente ー inclusive eu ー era maior.

Eu havia voltado para Londres fazia uns dias. Minha casa estava silenciosa, tirando as vozes da minha cabeça que sempre me lembravam do momento em que eu estava no campo. Porra de jogo roubado.

Em um desses dias eu decidi me distrair um pouco. Peguei uma bola de futebol que havia aqui em casa e fiquei jogando sozinho na grama do meu quintal, mas sem querer eu escorreguei e caí em cima do meu braço, e bem... Eu o quebrei.

Não sei qual parte foi pior, a dor que eu estava sentindo ou pedir um táxi em inglês para poder me levar para o hospital, já que eu não estava em condições de dirigir sozinho. Meu desespero era tão grande que eu havia me esquecido totalmente de qualquer palavra que não fosse em português.

Mas cá estou eu, com o braço engessado e os olhos inchados de tanto chorar andando até a saída do hospital para poder chamar um táxi de volta para casa.

ー Não há mais soluções, pai.

Pensei que estava louco quando ouvi uma voz baixinha falando em português, talvez eu estivesse mesmo, meu tombo foi tão forte que eu acho que bati a cabeça no chão.

ー Ela está morrendo. ー Olhei para o lado e vi uma garota morena com o celular ao lado do rosto. Ela parecia abalada, mas não havia alguma lágrima em seu rosto. ー Eu cansei, tchau. ー Ela afastou o aparelho de sua orelha e desligou a ligação.

Observei a garota se encolher no banco da recepção, abraçando as suas pernas e apoiando a sua cabeça na parede logo atrás de si. Deu para ver o quão fundo ela respirou assim que seus olhos se fecharam.

Não demorei muito para me aproximar e sentar ao seu lado.

ー Oi. ー Ela deu um pulo ao ouvir a minha voz e eu soltei uma risada baixa, mas logo a calei quando a mesma me olhou com um olhar de reprovação.

Sua sobrancelha franziu, acho que ela percebeu que um jogador de futebol acabou de ouvir a sua conversa e agora estava sentado ao seu lado.

ー Você ouviu a minha conversa? ー Assenti com a cabeça. ー Você não é britânico? ー Neguei, dessa vez com um pequeno sorriso nos lábios. ー Por que se sentou ao meu lado e veio falar comigo?

ー Por que você está tão triste?

ー Não se responde uma pergunta com outra pergunta.

Não conseguia saber se ela era estressada normalmente ou havia algo que a deixava assim.

ー Por que você está tão triste? ー Repeti.

ー Não é da sua conta. ー Ela cruzou os braços e voltou a apoiar a cabeça na parede, deixando de olhar para mim. Fiz o mesmo, mas sem a parte de cruzar os braços. ー Minha mãe está com leucemia, nos seus últimos dias de vida. ー A garota voltou a falar e eu voltei a observá-la. ー Ela está fraca, deitada naquele quarto que fede a doença e isso está me matando. Eu venho me preparando para esse momento faz tempo, mas parece que não foi o suficiente. ー Ela forçou uma risada fraca.

Eu tentei pensar em algum conselho, qualquer coisa para falar, mas nada vinha em minha mente. Não conseguia imaginar qual era o sentimento de estar no lugar dela, não conseguia imaginar a minha mãe naquela situação.

ー Eu sinto muito. ー Foi tudo o que eu disse e imediatamente me senti pequeno, sem valor. Mas o que eu poderia dizer para ela? Que tudo iria ficar bem? Seria a mais pura mentira. ー Eu realmente sinto muito.

Ela virou seu rosto em direção ao meu e me olhou com aqueles olhos cansados.

ー Qual é o seu nome? ー Sua pergunta me surpreendeu.

ー Você não sabe quem eu sou?

ー Eu deveria saber?

Deveria, pensei.

ー Logo você descobre. ー Sorri fraco. ー Eu preciso ir.

Eu me levantei e ela me olhou confusa. Vi sua boca abrir, ela iria dizer algo, mas eu a interrompi.

ー Descanse um pouco, esse olhar cansado não combina com você.

Dei meia volta em direção a saída do hospital.

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