CAPITULO 24 - SARAH

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Os meus pais não vão saber de nada, apenas pagarão para a faculdade, não terá nenhuma informação do curso ou algo assim. Além disso, eu usei a desculpa de que o meu pai está viajando, então ele não vai se oferecer a ir comigo fazer a inscrição, porque eu disse que fiz pela internet. Agora, com a minha mãe eu apenas avisei que me inscrevi e que ela não precisa se preocupar com nada.

Ela ficou chocada com a aleatoriedade do momento, quando eu simplesmente contei a novidade do nada. E quando ela abriu um sorriso genuíno, que não me dava nem mesmo antes do divorcio, meu coração doeu um pouco.

É tudo mentira.

E ela vai se decepcionar quando descobrir.

O Locke e eu estamos conversando há três dias, resolvendo as coisas e eu o ajudando a arrumar sua documentação, dou carona quando ele precisa e por incrível que pareça ele não está recusando, está deixando seu orgulho de lado.

Ele é uma pessoa que demonstra ser uma coisa por dentro, mas tenho certeza que sua verdadeira face aparece às vezes, talvez quando está sozinho ou com uma boa dose de álcool. Confesso que gosto bastante desse Locke que ele mostra ser, mas também me agrada muito o outro, o que me fez uma cantada engraçada na frente da minha casa ou o que eu flagrei cantando todo fora do tom em um palco de bar.

Quem Locke seria se não tivesse sua história de vida?

Ele seria como eu? Ou seria do mesmo jeito que é agora?

- O que faz aqui? - Ele pergunta com os olhos indo de um lado para o outro, checando alguma coisa à sua direita e esquerda antes de focar em mim.

- Seu primeiro dia! - Levando as mãos em uma comemoração. - Vamos, entre.

Locke passa a língua sobre os lábios, encarando os meus olhos através dos óculos de sol que uso, parece pensar um pouco do assunto. Ele vai aceitar, não vai querer pegar um ônibus para chegar até o prédio da faculdade, não nesse horário de engarrafamento em que o preço dos carros de aplicativo estão mais altos e os ônibus se atrasam.

A porta se abre e fecha em seguida, com ele sentando-se no banco ao meu lado e passando o cinto no corpo. Observo apenas suas roupas, que parecem novas e diferentes das que costuma usar.

- Uau, está empolgado para isso... - Sorrio. - Gostei das roupas.

- Ah. - alisa a jaqueta bege que cobre uma camisa branca simples, mas bonita mesmo assim, tendo apenas a cor verde musgo da calça de colorido no corpo. - Como é um lugar frequentado por pessoas ricas, pensei que seria chamativo chegar lá com os meus trapos.

- Relaxa, você será o mais gato daquele lugar, mesmo se colocar sacos de batata no corpo.

Por um milagre ele abre um sorriso, tímido, mas ainda é um sorriso. Daqueles que fazem o coração de qualquer pessoa viva bater mais rápido. E nesse momento eu me pergunto se estou levando tudo isso a sério demais ou se eu estou caindo nas graças que uma convivência com outro ser humano faz.





Encaro as duas crianças que estão fazendo o mesmo que eu, só que elas parecem cheias de expectativas para cima de mim. Eu não posso ceder, a Louise disse para eu não ceder, mas é tão difícil quando esses carinhas fazem bicos e olhos brilhantes na minha direção.

- Meia hora. Apenas isso. - Alcanço os controles escondidos em um lugar alto das prateleiras, entregando para eles.

Edu e Luize comemoram após conseguirem o que queriam, começando a jogar imediatamente depois que a tia deles disse que estão de castigo porque não querem comer por estarem viciados demais em jogos.

Ela vai me matar.

Cruzo os braços e as pernas, sentada no canto do sofá para observá-los matando zumbis horrendos na TV.

É isso que dá por me deixar cuidando de duas crianças, quando na verdade eu não sei cuidar nem de mim mesma. Às vezes preciso ficar me controlando por ser viciada em comida que a minha mãe com certeza me repreenderia por estar comendo. Só que é mais forte que eu.

- Sarah!

Giro a cabeça na direção do Levi. Ele olha para mim com pavor, depois indica o Luize e o Edu jogando.

- Desculpa, mas eles ficam fazendo carinhas de bebês para mim.

Meu amigo firma os olhos, semicerrando um pouco para destacar que a Lou vai nos matar por isso. Eu e ele.

- Duvido que aquele ser daquele tamanho consegue cuidar de dois corpos - Falo para ele.

- Tenha certeza que ela consegue. Só tem carinha de anjo e corpo de gnomo.

Levi joga sua bolsa no chão para se aproximar dos garotos, que reclamam quando ele tenta tomar os controles novamente. Luize já começa a sua carinha fofa, depois o Edu o acompanha, implorando um Por favor fino e aguado.




Solto um suspiro de preocupação, depois o Levi faz o mesmo, nós dois na mesma posição: Sentados no sofá, pernas cruzadas e cabeças encostadas na parede.

Ambos fomos derrotados pelas carinhas de gatinho chorão.

A cada barulho no corredor a gente se apruma, prontos para correr. Algumas vezes nos assustamos com os gritos das crianças também, conversando com os zumbis sem olhos e verdes, mas agora estamos acostumados, então apenas suspiramos.

- O dia que eu for pai, acho que os meus filhos irão botar fogo na casa.

- Eu estou de boa, não terei filhos. - Apoio os braços atrás da cabeça.

É uma coisa minha, que eu decidi com o tempo. Não ter filhos pode parecer uma regra básica no mundo para as mulheres, mas não é. Está tudo bem escolher isso, talvez se eu estiver velha demais e sozinha, adoto uma criança e deixo a minha herança para ela. Acho lindo essa coisa de maternidade, quando a pessoa deseja e consegue passar pelas coisas ruins que isso traz, não eu. Não eu sendo a mãe.

- Ei, tenho que ir embora... sabe? - aceno, pegando as minhas coisas e indo até a porta. - Tchau, meninos.

Saio antes do Levi me impedir, que já estava se levantando para fazer isso, mas agi rápido e alcancei o elevador em menos de vinte segundos.

Eu que não vou ficar aqui para quando a Lou chegar e encontrar os sobrinhos desobedecendo uma regra que eu mesma quebrei.

Antes de Você Dizer Te Amo - Eva RabiOnde histórias criam vida. Descubra agora