CAPITULO 17 - LOCKE

151 30 4
                                    

O senhor Bellucci está me colocando para confeitar bolo todos os dias agora e não adianta dizer a ele que esse não é bem o meu dom. O homem coloca uma carranca no rosto e resmunga, então eu apenas obedeço, afinal, não é tão ruim assim confeitar bolos. Eu esqueço o tempo, não penso em mais nada, apenas me concentro em colocar cada coisa no bolo e o cobrir com aquela massa branca.

Devo ter pirado. Quem diria que estaria fazendo isso como trabalho?

Fecho os olhos e me encorajo a bater na porta do apartamento do Levi, que agora a Lou está morando também.

— Locke. — Sorri quando me vê. Atrás dela está acontecendo uma confusão de três crianças. — Uma semana e você não apareceu.

Nem o Edu ou o Luize me veem.

— Vim apenas para trazer esses sonhos doces. — Entrego a sacola para ela.

Continuo espiando a cena dentro do apartamento. Os travesseiros voando, acompanhados por gritos finos. Luize sobe no sofá com uma amiguinha, então pula para frente e cai no chão sem se machucar.

Estão bem animados.

— Os dois fizeram amizade com uma menininha do prédio. — Lou explica quando me pega passando tempo demais encarando.

— Ah, sim.

Meu coração se aperta por algum motivo.

— Você quer entrar?

— Não, melhor não.

Sei bem que estou demorando para ir embora porque tenho esperança de que algum deles irá olhar para mim e perceber a minha presença. Por impulso pressiono o meu peito com a mão e isso não passa despercebido pela minha irmã. Seus olhos me analisam com cautela extra, mas não fico desconfortável.

A Louise nunca saberá o que se passa na minha cabeça.

Edu rodopia uma almofada e a joga para algum lugar da casa, nisso os seus olhos passam em mim por um milésimo de segundo, depois sai correndo atrás da outra criança que está em algum lugar onde o espaço da porta não me deixa ver.

Pressiono mais um pouco a minha mão.

Um sorriso forçado aparece no meu rosto quando olho para a minha irmã e falo com uma empolgação extra:

— São de hoje ainda — Aponto para os doces na sacola. — Melhor comer enquanto estão bons.

Começo a caminhar em direção ao elevador, mas sinto bracinhos pequenos enrolarem na minha cintura e isso faz a pressão no meu peito parar. Solto um suspiro lento pela boca, então viro-me de frente para o garotinho que está maior que da última vez que o vi.

— Luize.

— Você ia embora sem falar comigo?

Aperto a língua no céu da boca, contendo uma ardência no meu nariz e olhos.

— Não quis atrapalhar sua brincadeira.

Ele puxa minha camisa, me fazendo curvar as costas e ir até a sua altura para poder se pendurar no meu pescoço.

Ele nunca fez isso antes.

— Sinto saudades, pai.

Esfrego o seu cabelo ao mesmo tempo que balanço a minha cabeça por não ter o que dizer. Quando o tempo do abraço atinge o meu limite, solto os braços dele e saio caminhando depressa para o elevador e só permito me tornar um Locke molenga quando as portas se fecham. Diante das quatro paredes, formando um espaço minúsculo, limpo a lagrima solitária e idiota que escorreu por minha bochecha.

Antes de Você Dizer Te Amo - Eva RabiOnde histórias criam vida. Descubra agora