CAPITULO 16 - SARAH

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Acabado. Essa é a palavra que definiu ele assim que as portas se abriram e eu o vi, encostado na parede, mão na garganta e olhos lacrimejantes. O olhar dele estava e está tão desolado ao ponto de parecer que todo mundo foi embora do mundo, deixando ele para trás sozinho.

Eu não sei o que aconteceu e ele não irá me dizer.

Estendo a sacola de papel com um copo de café que comprei no caminho, pãezinhos que a minha mãe colocou para o café da manhã e um pedaço de bolo. Claro que ele não pega, está encarando com foco as portas fechadas, esperando que elas se abram. Também sinto que está envergonhado pela maneira que o flagrei.

— Vai esfriar. — Aviso.

Sou ignorada.

Eu não sou a melhor pessoa para ter paciência, mas tento, insistindo mais um pouco.

Nada.

O elevador para no andar do meu amigo. Eu coloco a sacola no chão, perto do Locke antes de sair.

— Vê se come. — Falo alto, antes do elevador se fechar e descer.

Certo. Eu tentei. Ele não é mais criança e não temos nada além de uma pessoa em comum que faz com que sejamos conhecidos, então não preciso ficar me preocupando com ele.

Bato na porta do apartamento do meu amigo. Eu não preciso nem esperar muito para saber se tem alguém em casa, porque a gritaria de criança é absurda. Parecem estar lutando e competindo quem grita mais alto. E como ninguém vem me atender, apenas giro a maçaneta para ver se está destrancada e em seguida eu entro.

Levi pula em cima do sofá. Uma criança está gritando com um controle de videogame na mão, outra encara os dois com uma expressão de julgamento e a Lou ri da cena em um canto meio escondida. Talvez com medo de ser atingida por uma das almofadas.

— E ai, família? — Fecho a porta atrás de mim.

Lou é a primeira a me ver, que escapa dos surtos das três crianças para me encontrar às pressas.

— Sarah — abre um sorriso. — Vamos sair daqui.

Mal cheguei e já estou saindo.

Eu e ela descemos até a rua. Atravessamos ainda sem dizer nada até chegarmos em uma cafeteria estilo anos setenta, onde ela se senta no sofá vermelho como se fizesse isso todos os dias. Já eu nunca entrei neste lugar antes, mesmo que ele seja localizado bem perto do prédio onde o Levi mora. Normalmente gosto de procurar lugares mais distantes, assim eu tenho a desculpa de andar mais.

— O que estava rolando lá? — Pergunto ao colocar a minha bolsa de tecido em cima da mesa.

— O Levi inventou de comprar um videogame para os meninos, mas quem joga é ele. Acho que o Edu e ele se empolgam demais quando estão ganhando. — Explica sem tirar o sorriso do rosto.

Eu gosto dessa Lou. Bem melhor que a ranzinza do ano retrasado. Acho que a faculdade está a mudando, mas não ao ponto de perder a essência que faz dela unicamente Louise Ferrars. A garota doce, gentil, bonita e que passa um conforto quando está ao seu lado, um pouco tímida também, mas não ao extremo mais.

— O Levi vira adulto, mas a criança não sai dele.

Olho através da janela, assistindo uma pequena chuva começar. Isso me trás rapidamente a imagem do Locke que provavelmente não chegou em casa ainda, por isso irá se molhar todinho. Volto a encarar Lou, que se parece bastante com ele e isso não me ajuda muito.

— Aconteceu alguma coisa com o seu irmão? — Aperto os meus lábios enquanto espero a resposta.

Ela cruza as mãos em cima da mesa.

Antes de Você Dizer Te Amo - Eva RabiOnde histórias criam vida. Descubra agora