CAPITULO 50 - LOCKE

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Como assim que eu chamei ela para sair?

Eu chamei ela para sair.

"Quer sair comigo na sexta?"

Eu disse isso com todas as palavras. Com a minha voz.

Ela disse sim.

Ela aceitou.

— Cara, presta atenção na aula. — Cole mexe no meu braço.

Pisco uma vez e me desperto. O barulho da sala volta para os meus ouvidos, inclusive o perfume forte do Cole começa a doer a minha cabeça novamente. Não estou mais na cena do carro.

— Eu convidei a Sarah para sair. — Cochicho.

— An?

— Eu convidei a Sarah para sair. — Digo mais alto.

Alto demais.

— Entendi da primeira vez, apenas fiquei surpreso. — Ele explica enquanto olho em volta, notando os olhares que recebi por ter dito aquilo em voz alta. — Parabéns, cara, está se saindo muito bem.

— O que eu faço? Onde a levo? Como não surtar até a sexta? — Agarro o meu cabelo, com a minha cabeça caindo para frente. Quero me sacudir agora para tentar fazer o meu juízo voltar. Será que eu estava bêbado naquele momento?

Não sei. Como a coragem veio tão forte ao ponto da razão não responder rápido?

Locke, você por acaso perdeu a cabeça?

Cole apoia a mão nas minhas costas.

— Relaxa, cara... Não é tão difícil.

— Para mim é difícil. É muito difícil. — Me aprumo e arregalo os olhos para destacar a palavra difícil. — Restaurantes que ela costuma ir são caros e eu não posso ficar gastando muito nesse momento de mudança. E as roupas? nada do meu guarda roupa é páreo para andar ao lado dela, e como vou buscá-la e levá-la até o local? — Enfio as mãos no cabelo outra vez. — Meu Deus! eu não tinha pensado nisso. Eu não tenho carro.

Cole apenas dá uma risada. Seu olhar para mim é de alguém que está assistindo um cachorrinho correr atrás do próprio rabo. No entanto, o meu surto é real. São várias questões que me preocupam.

— Locke, me deixe dizer algo — Pede calmo, um sorriso gentil e um olhar compreensivo agora. — Você está se auto sabotando.

— Não, eu....

— Escuta. — seu pedido é autoritário, corta a minha fala sem piedade e completamente sério. — Ela te levou em uma barraca de caldo. Uma barraca! — Destaca. — E você chegou em casa flutuando, como um pré-adolescente apaixonado. A Sarah quer sair com você não por dinheiro, porque se for, meu filho, ela está lascada.

— E o carro? — Insisto em achar algo para colocar no caminho. Nem sei como controlar isso

— Está de brincadeira comigo? — Franze o cenho indignado. — Você encontrou uma garota rica, bonita, gente boa, talentosa e ainda que te leva aos lugares naquele carrão. Eu estaria nas nuvens no seu lugar.

O Cole não me entende. Não entende que eu não gosto de ficar nessa posição de incapacitado.

Seu olhar continua firme sobre mim, quase vendo a minha alma.

— Posso dizer mais uma coisa? — Pergunta.

— Pode... — Sussurro. Deito a minha nuca no encosto da cadeira e encaro o teto branco.

Ouço o Cole se mover em seu assento. Se fosse para chutar como é que ele está agora, diria que é virado na minha direção, provavelmente passando o dedão no nariz.

— Está incomodado com o fato dela pagar a conta e dirigir para você, porque provavelmente foi criado na base do homem ser a fonte de renda. Eu sei como é isso. Os meus pais são super chatos em relação a essas coisas, desde a primeira vez que sai com uma garota eles me davam dinheiro para pagar tudo, dizendo que também precisava de um emprego se eu quisesse arrumar uma namorada. Macho alfa e essas coisas.

Estamos dizendo tudo baixo para não atrapalhar a aula, mas sabemos que tem uma mulher atrás da gente que está escutando tudo. Sempre a flagramos nos olhando, como se fossemos mais interessantes que a explicação do professor.

— O que eu quero dizer é que isso foi uma regra idiota que criaram. Está tudo bem ela pagar a conta, em outro encontro você paga. E está tudo bem aceitar que ela dirija, é bom ficar tranquilo olhando a janela, sem se preocupar se vai bater o carro. — Cole não sabe que na minha casa era a minha mãe quem pagava tudo. Meu pai era um zé ruela que não servia para nada além de reclamar. — Tive uma namorada mais velha que uma vez me falou isso. Se ela gostava de dirigir e eu gostava de conversar feito um rádio estragado, olhando a paisagem, por que não? Entrávamos em um consenso.

Talvez o Cole tenha razão e a minha mente seja preconceituosa demais para aceitar isso, mas isso não significa que eu não possa tentar mudar, afinal, a maneira que eu fui criado é diferente da maneira que a Sarah foi criada. E repensando agora, não é um problema que chega a impedir o encontro, estou apenas inventando coisas, pois estou com medo.

Faz tantos anos desde a Bryah. A nossa relação não era das melhores, não tivemos encontro e nem a oportunidade de sermos alguma coisa. Mesmo que não seja algo para se arrepender, se eu pudesse voltar no tempo agora, tentaria as coisas de formas diferentes.

Não posso voltar no tempo, mas posso me esforçar para acertar as coisas no presente.

Esse é o problema agora. Acertar as coisas. Eu nunca fui muito bom em fazer as coisas certas.

— Relaxa, eu tenho roupas que posso te emprestar. Você está pensando em algo mais formal, como um restaurante no centro da cidade, ou um passeio de barco que é mais romântico? — A voz do Cole me tira dos pensamentos novamente, como um choque de realidade. — Minha nossa, como eu pude esquecer?

— O que?

— Você pode levá-la até o coreto da cidade e montar um jantar a luz de velas. Aí você forra o chão com uma toalha, compra vinho e faz uma comida caseira — Cole está empolgado com sua própria ideia, talvez até mais que eu mesmo. — Acho que lá ainda está decorado para o dia do Kocham. Perfeito, Locke.

Começo a rir.

Como foi que eu me aproximei de um cara como o Cole?

Era para ser apenas uma estadia na minha casa por dois dias e agora ele está planejando o meu encontro com uma garota. 

Antes de Você Dizer Te Amo - Eva RabiOnde histórias criam vida. Descubra agora