CAPITULO 40 - LOCKE

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— Como está seu trabalho?

Ela só está puxando assunto, apenas isso, Locke.

Não exagere.

— Bom.

— Pode dizer mais.

Mais?

O que isso significa?

— Eu gosto do meu trabalho. É divertido.

— O que você faz lá? — Pergunta, inclinando mais um pouco. — Fiquei sabendo que está aprendendo a confeitar. É verdade?

— Sim... — Mordo o lábio inferior. — Bem, no começo foi um pouco difícil, mas logo peguei o jeito...

Espero ela dizer alguma coisa, mas ela permanece com os olhos em mim, calada e concentrada, então continuo:

— Tipo, existem formas específicas e espátulas também, antes para mim era a mesma coisa. O Sr. Bellucci diz que tenho mãos delicadas, por isso levo jeito. Acho que o meu pai me mataria se ouvisse isso, essa coisa de mãos delicadas, só que eu parei para observá-las e notei que realmente são. — As levanto para mostrar a Sarah. — Os calos estão sumindo e comecei a usar creme — Sussurro as últimas palavras.

— Por que está falando assim? — Ela sussurra de volta.

— Eu... tenho vergonha. — Admito.

— É só creme. Todo mundo deveria usar.

Seu sorriso me acalma.

Quando nosso assunto morre, me dou conta que falei demais, talvez até exagerei. Não quero parecer irritante, quero que ela veja que sou o Locke de antes, não esse tagarela enjoado.

Brinco com os meus dedos em meu colo, desviando os olhos para uma senhora de touca que corre de um lado para o outro na cozinha, descascando cenouras e pepinos.

Me sinto culpado por ter falado demais sobre um assunto que a Sarah não se interessa.

— A minha avó de sangue era confeiteira, antes de ficar doente. Nunca tive a oportunidade de perguntar nada sobre isso, então gosto que me fale.

Olho para as íris chocolate da Sarah, fascinado com a cor que é na luz amarelada da barraca em que estamos.

— Se quiser, posso dizer mais sobre como é confeitar... — Sugiro um pouco hesitante, me repreendendo por isso mil vezes, porque talvez ela diga sim apenas por educação. Só que é a Sarah, ela diz na lata, então me alivio um pouco.

— Claro. Eu adoraria, na verdade.

Começo a falar, cada detalhe do meu dia no meu trabalho, coisas que nunca tive oportunidade de dizer a ninguém. A Lou já fez várias perguntas sobre, mas eu preferi desviar o assunto e apenas dizer o básico. Não contei com entusiasmo como agora, declarando o meu amor pelos bolos, a felicidade que tenho por falar disso até me surpreende.

Deixo para me arrepender quando for embora, porque eu sei que será assim. Tem quantos anos que eu não converso com alguém dessa maneira?

Acho que nem lembro mais.

A nossa comida chega dentro de tigelas de madeira, tigelas enormes com colheres do mesmo material, a fumaça sai do caldo, espalhando um cheiro bom, meu estômago vazio do dia inteiro ronca.

— Experimente.

Faço o que ela diz sem hesitar, levo uma colher cheia até a boca e espero o sabor fazer efeito.

É a melhor coisa que já comi na vida. Não sei se é por causa da minha fome que faz o tempero principal, mas que o gosto é de deixar o corpo em êxtase, é verdade.

— Nossa... Minha nossa! — Meu corpo se desmancha na cadeira.

A Sarah sorri, me olhando quase contemplativa, então paro de comer para tentar entendê-la.

— O que foi?

— Sabia que fiz a escolha certa ao te chamar para sair. Estava entre um vendedor de capinha de celular da praia e você.

Vendedor de capinha de celular?

Eles são os homens que mais falam no mundo, conseguem te vender até a areia com apenas a lábia boa que tem.

Continuo comendo, pensando em como estaria esse jantar se no meu lugar fosse um desses vendedores. Será que ela o levaria para outro lugar? Talvez em um espetinho?

Ele pelo menos não teria pensado em desistir...

Acho que sou a única pessoa do mundo que pensou em recusar um encontro com ela.

— Sinto muito.

Ela levanta os olhos, confusa.

— Oi? — Puxa um guardanapo do suporte que tem na mesa e limpa a boca. — Por que está pedindo desculpas?

— Por quase não ter vindo. — Abaixo a cabeça, envergonhado com o que eu tinha feito antes.

— Esqueça isso. O importante é que esteja aqui agora, não é? — Ela volta a pegar sua colher para continuar a comer. — Aliás, você teve um problema em casa, não foi?

— S-sim. — Forço a mentira, sentindo ela amargando na minha garganta.

Se não fosse pelo Cole, eu nem estaria aqui agora.

Antes de Você Dizer Te Amo - Eva RabiOnde histórias criam vida. Descubra agora