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Juro pela memória do meu falecido escorpião de estimação que tentei convencê-la de esquecer essa ideia, mas Enid é imparável. Usei todos os argumentos possíveis: uma dor de barriga que me faz soltar puns capazes de matar um batalhão de pessoas, não ter uma roupa para a ocasião e a tragédia da última vez que o convidei para algo contra a minha vontade. Cheia de determinação, ela refutou todos.

Agora estou vestindo um vestido preto razoavelmente curto de mangas bufantes que Enid alegou ter usado no velório da sua vó, após ter mandado uma mensagem para Xavier. Mãozinha ajuda Enid, que está parecendo uma gazela escandalosa de tão animada, com minha maquiagem enquanto eu encaro sua resposta.

 Mãozinha ajuda Enid, que está parecendo uma gazela escandalosa de tão animada, com minha maquiagem enquanto eu encaro sua resposta

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Já na cafeteria, levanto-me da cadeira e torno a me sentar mais vezes do que sou capaz de contar. Verifico o relógio do estabelecimento e constato que se passaram dez minutos do horário combinado. Quando decido ir embora de vez, ouço o sino da entrada soar indicando que alguém havia entrado na cafeteria. Poucos segundos depois, Xavier estava sentado na minha frente com um sorriso de golden retriever, se é que cachorros podem sorrir.

- Está atrasado, Xavier Thorpe. Sabe que não tolero atrasos - disparo, num tom feroz. - Tem sorte por eu ter te esperado até agora. Poucos possuem esse privilégio.

- Peço perdão, Vossa Majestade - responde ele, ainda com o sorriso no rosto. - Acontece que eu experimentei cerca de cinco trajes diferentes para essa ocasião na esperança de que eu receba um elogio da senhorita. Ah, e você está linda.

Observo melhor o garoto na minha frente. Ele realmente estava aceitável. Usava uma camisa social preta com os três primeiros botões abertos revelando seu peitoral levemente definido e... por que eu tô prestando atenção nisso?

- Obrigada. Minha roupa já foi usada num velório, então acho que combine comigo. E você está apresentável.

Ele agradece e pedimos nossas bebidas para o novo atendente, provavelmente substituto de Tyler. Aguardamos num silêncio constrangedor, até que Xavier decide quebrá-lo.

- Ainda pensa nele? No Tyler? - Ele pergunta, as sobrancelhas franzidas numa expressão de dúvida. Por algum motivo, algo me diz que ele gostaria de ouvir uma negativa como resposta, mas esse não é o caso.

- Algumas vezes, quando não tenho mais nada para ocupar minha mente. É engraçado. Meu primeiro beijo foi com um monstro que tentou me matar diversas vezes. Acho que isso daria um lindo livro de romance. - Respondo com deboche, numa tentativa de esconder os sentimentos que ainda me perturbam. Não saber do paradeiro dele é o que mais me deixa nervosa.

- Não adianta colocar sua armadura comigo, Wandinha. Percebo de longe que ele é um ponto fraco seu e que isso te incomoda. Além disso, seu primeiro beijo foi sim com alguém que não te merecia, mas os próximos não precisam ser.

Xavier me olha com cuidado e preocupação, e eu me sinto péssima ao me lembrar de que ele foi uma das peças do meu jogo para descobrir quem era o Hyde, e que inclusive suspeitei dele. Por minha causa, ele foi preso. Não consigo imaginar como ele ainda me trata desse jeito. No seu lugar, eu dedicaria a minha vida para fazer a dele um inferno.

Nossas bebidas chegam e jogamos conversa fora. Falamos sobre as férias e sobre as expectativas para a escola. Voltamos juntos para Nunca Mais e nos despedimos com um abraço desajeitado (venho trabalhando na minha fobia a toques físicos desde os últimos acontecimentos), cada um indo para seu dormitório. Conto todos os detalhes do encontro para Enid e Mãozinha enquanto termino de organizar minhas coisas. Com tantos pensamentos a respeito do dia de hoje, noto que, no meu íntimo, agradeço a Enid por ter me forçado a sair com o Xavier. Desabo na cama e caio no sono.

Trust Me - Wandinha Addams & Xavier ThorpeOnde histórias criam vida. Descubra agora