8. Ꭱꭼꮯꮻɴꮯꮖꮮꮖꭺꮯ̧ꭺ̃ꮻ.

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     Quando enfim cheguei ao Quadrilátero, ele já estava lá. Seus gestos indicavam que o próprio estava nervoso: mãos inquietas e uma fina camada de suor cobrindo a testa, apesar de estar ventando. Sentei-me ao seu lado e ficamos algum tempo imóveis, sem falarmos nada.

     — E aí? O que quer me dizer? — Ele iniciou a conversa, virando seu rosto para o meu. Suas mãos agora estavam cruzadas no seu colo.

     — Eu li a sua carta, e vi muita sinceridade nela. Vim aqui para te explicar melhor o que aconteceu.

     — Me explicar melhor? — Xavier soltou uma risada irônica. — Você não me explicou nada, Wandinha. Só me deixou sozinho aqui, neste mesmo lugar, e me evitou por dois dias inteiros.

     — Eu tive meus motivos, Xavier, e acredite que eles são completamente compreensíveis. Perdoe-me por não ter problemas tão fúteis quando os de um elitista.

    — Você não sabe de nada da minha vida, então não ouse menosprezar os meus problemas. Já vi que vir até aqui foi uma perda de tempo. — Ele se levanta para ir embora, mas por instisto eu o impeço segurando o seu braço.

     — Não, Xavier. Espera, por favor. Não pode ir embora sem escutar o que tenho a explicar. — Ele me encara e logo em seguida volta ao seu lugar.

     — Então me agracie com sua nobre explicação, ó Vossa Majestade. — Diz ele, o tom carregado de ironia.

     — Venho sendo ameaçada por meio de mensagens anônimas desde o último dia de aula antes das férias. — Tiro o celular do bolso e mostro as ameaças. — Quando eram só pra mim, eu não me importava, mas com o tempo essa pessoa começou a ameaçar você também. — Deslizo a tela para mostrar o restante das mensagens.

     — Por que não contou nada para ninguém, Wandinha? — Xavier pergunta, preocupado.

     — Porque não faço ideia de quem essa pessoa seja e tenho medo do que ela possa fazer se eu contar. Esse anônimo parece saber muito da minha vida, pois sabe exatamente onde tocar para me afetar. Cheguei a suspeitar de Bianca, mas ela não tem tanto cérebro pra fazer esse tipo de coisa.

     Ele solta um sorriso — e agora vou ter que utilizar um palavrão para expressar o que sinto —, e puta merda, como senti falta disso. Xavier segura minhas mãos e se vira de frente para mim.

     — Então quer dizer que eu te afeto, Wandinha? — Pergunta, acariciando minhas mãos com os próprios dedos.

     — Mais do que gostaria que afetasse — declaro, arriscando um toque e ajeitando uma mecha de cabelo para atrás da sua orelha. — Não está mais chateado?

     — Sinceramente? Não. Só acho que você não devia guardar essas coisas só pra si mesma, é perigoso acabar explodindo. Também não aprovo sua atitude de tomar decisões pelos outros. Acho que você deveria ter me explicado a situação antes, e então eu decidiria se continuaria mantendo nosso contato. Agora me dá seu celular.
     Entrego meu celular para ele, curiosa. Xavier clica em umas partes do aplicativo de mensagens e me devolve o aparelho.

     — O que você fez? — Pergunto, sem entender nada.

     — Bloqueei o número, porque isso pode ser apenas uma brincadeira de mau gosto feita por algum aluno da escola. Se as mensagens continuarem em outro mundo, me fala. Podemos resolver isso juntos.

     — Também vou pedir ajuda pro Eugene e pra Enid. Por Deus, onde eu estava com a minha cabeça quando pensei em esconder isso de todos? — Bato com a mão na minha testa após fazer essa pergunta retórica.

     — Em algum lugar muito longe da Terra. Escuta — ele põe a mão no meu rosto, e na mesma hora uma brisa bate. — Você não precisa lidar com tudo sozinha, e se você for mesmo esse perigo que diz ser, tem muita gente disposta a correr o risco pra estar ao sei lado. Tipo eu.

     Sinto Xavier se aproximar, e novamente penso que irá me beijar. Engano meu. Bom, ele de fato me beija, mas não no lugar que eu queria. Xavier Thorpe me deu quatro beijos: um em cada bochecha, um na testa e um na ponta do nariz.

     — Obrigado por ter confiado em mim para contar sobre as ameaças. Prometo fazer o que posso para te ajudar, Wands.

     Apesar de odiar apelidos, gostei desse. Acho que é porque saiu dos lábios de Xavier. Nossa, como eu estou brega. A antiga Wandinha me amaldiçoaria por isso.

     — Por que não me beijou na... boca? — Pergunto, as bochechas coradas e a cabeça baixa.

     Não sei o porquê de ter feito essa pergunta. Não me sinto totalmente preparada para esse tipo de beijo, mas a ideia de não ter sido beijada por Xavier porque ele não gostaria de fazer isso com uma inexperiente me causa uma dor não do tipo boa.

     — Nunca te imaginei fazendo esse tipo de pergunta sem ser num interrogatório de um crime — ele solta uma risada. — Wandinha, te beijar é a coisa que eu mais quero, mas eu sei que você não está pronta ainda, e não quero forçar nada.

     — Creio que Sophie Quinn estaria sempre pronta para essa repugnante troca de salivas. — Digo, cruzando os braços.

     — Wandinha Addams está com ciúmes? O dia de hoje deveria se tornar um feriado! Brincadeiras à parte, acho que ela deveria procurar outra pessoa disposta a compartilhar sua saliva com ela, porque eu estou interessado em fazer isso com uma tal de Addams aí.

     Não consigo evitar o sorriso. Seguimos juntos até a Torre Ofélia, tomando o máximo de cuidado para não chamar a atenção da vigia. Ele se despede de mim com um beijo no canto da boca e, quando Xavier estava bem afastado, enfim abro a porta do dormitório. Tomo um susto que me faz ir ao chão quando encontro Enid já me esperando. Ao fundo, vejo Ajax sentado na cama de Enid e pintando as unhas de Mãozinha. Esse dia está cheio de coisas inusitadas.

     — Você vai me contar tudo, safadinha! Pelo olho mágico, vocês pareciam ter se reconciliado — ela estende a mão para me levantar. — Você se machucou?

     Achava que ela não ia mais perguntar.

𝑵𝒐𝒕𝒂𝒔 𝒅𝒂 𝒂𝒖𝒕𝒐𝒓𝒂: e aí, consegui recompensar o capítulo chocho de ontem? favoritem e comentem e até a próxima! ♡

Trust Me - Wandinha Addams & Xavier ThorpeOnde histórias criam vida. Descubra agora