Trust Me - Wandinha Addams & Xavier Thorpe

3. Ꮪꮻᏼꭱꭼ Ꮩꭺɴ Ꮐꮻꮐꮋ ꭼ ꮲꭺɴꭰꭺꮪ.

Eugene, Enid e eu estávamos saindo da aula de esgrima quando fomos chamados para o anfiteatro, onde aconteceria a apresentação da nova diretora. No caminho, encontramos Ajax e Xavier e seguimos juntos.

Todos os alunos de Nunca Mais estavam organizados num círculo gigante, aguardando o pronunciamento da nova administradora da escola. Uma mulher alta e de cabelos platinados, muito parecida com Larissa, se centraliza no meio da roda.

- Queridos alunos de Nunca Mais, sejam bem-vindos ao novo ano letivo! É com muito orgulho que eu, Isabella Weems, assumo a direção dessa digna instituição. Minha missão é honrar a memória de minha irmã, que tanto defendia essa família, ao ponto de dar sua vida por ela - uma lágrima escorre do olho direito da mulher, que a seca com um pequeno lenço retirado do bolso de seu cardigã. - Convido-os para um jantar especial que acontecerá hoje, às sete da noite. A presença de todos é de extrema importância. Enquanto isso, retornem às suas atividades anteriores, por favor. Obrigada.

Ainda não tenho uma opinião formada a respeito de Isabella Weems, por isso precisarei investigá-la depois. Verifico nosso próximo horário na minha agenda: pintura. Isso significa que passarei os próximos cinquenta minutos ao lado de Xavier, pois ele é minha dupla nessa disciplina. Não que ele seja uma companhia ruim, mas o encontro de ontem ainda está bem vivo na minha mente. Nossos olhares se encontraram não poucas vezes durante o discurso da senhora Weems e ele não tirava aquele maldito sorriso do rosto, o que me deixava com uma sensação estranha na barriga.

Seguimos juntos para a sala de aula e nos sentamos em nossos lugares. Um homem de cabelos grisalhos e barbudo passa pela porta e se apresenta como nosso novo professor. Seu nome era Elijah Conway, e minha única esperança era de que ele não fosse mais um exterminador de excluídos maníaco.

- A atividade de hoje será uma dinâmica, cujo objetivo será aproximá-los de sua dupla. Vocês terão que fazer um desenho de qualquer coisa que represente seu parceiro e explicará para este o porquê da escolha. Podem começar.

Observo Xavier pegar seus materiais e começar sua obra de arte. Por algum motivo, estou morrendo (de um jeito bom) de curiosidade para saber o que ele vai desenhar. Abro meu estojo e também dou início ao meu trabalho.

Alguns minutos depois, tenho uma imitação barata do quadro Noite Estrelada, de Van Gogh. Xavier já havia terminado seu desenho há um tempo, então nos viramos um para o outro para compartilharmos nossos trabalhos.

- Vincent van Gogh chora no banho por saber que você é uma artista melhor do que ele - Xavier admira minha pintura, e minhas bochechas esquentam. Nesse momento, eu enfiaria minha cabeça num balde de água congelada e torceria para quebrá-la. - Por que escolheu isso?

- Uma vez você me disse que quando me escuta tocando, sente que vê quem eu realmente sou. Bom, eu sinto a mesma coisa quando vejo suas obras de arte, e Van Gogh ficou conhecido por transmitir seus sentimentos para suas pinturas - declaro, timidamente. - E o que um panda tem a ver comigo?

Xavier me encara por alguns instantes e abre a boca para dizer algo, mas logo desiste e volta a fechá-la. Ele solta um suspiro e sorri sem mostrar os dentes, levantando seu desenho (magnífico de tão realista, tenho que confessar) de um panda.

- Lembra daquele dia do Festival da Colheita, quando você quase levou um bando de pandas naquele jogo? Então, como você mesma disse, pandas são solitários. Podem ser trapaceiros e muito inteligentes, assim como alguém que eu conheço. Apesar disso, se preocupam com seus filhotes e os defendem fervorosamente, também como você. Sabe, já disse que não é qualquer um que levaria uma flechada por mim, e sou muito grato por isso, Wandinha. Há tempos não sinto que alguém realmente se importe comigo, mas você chegou e me mostrou que eu ainda sou digno de cuidado, mesmo que a pessoa que faça isso já tenha me mandado pra cadeia. - Ele termina o discurso com uma gargalhada modesta, e eu acabo por soltar um pequeno sorriso. Ainda me culpo por tudo que o causei, mas vejo que ele não está muito preso ao passado.

O sinal toca e Elijah nos libera da aula. No dormitório, estou alimentando minha coleção de plantas carnívoras quando Enid aparece ao meu lado e, com um sorriso travesso, diz:

- Acha que não percebi suas trocas de olhares com o Xavier, sua danadinha? Acho que o encontro de ontem rendeu mais do que me disse, hein? Já deu umas beijocas nele?

- Depois da minha primeira e única experiência, não quero saber de beijar outra pessoa, Enid. Além disso, um beijo não passa de uma troca nojenta de saliva entre bocas alheias - Respondo, terminando de alimentar a última planta e indo ao banheiro. Enid, não satisfeita, vai atrás de mim e continua sua falação.

- Wandinha, seja sincera comigo, por favor. O que sente quando está perto dele? Pergunto porque sou sua amiga, e não quero te ver chorando pelos cantos por causa de um idiota, ou ele vai ter que se ver com as minhas garras!

- Não se eu já tiver planejado o seu homicídio. Enfim, minhas bochechas esquentam em alguns momentos e minha barriga fica estranha. Ao mesmo tempo em que quero arrancar aquele sorriso patético do rosto dele, sinto que preciso vê-lo todos os dias. Sinto raiva por ele me tratar tão bem apesar de todas as merdas que já o fiz passar, porque isso só faz com que eu queira ficar mais próxima dele - paro por poucos instantes para recuperar o fôlego e retorno. - Eu o odeio.

Enid fica cerca de cinco minutos me encarando, petrificada. Seus olhos não piscam e, se isso fosse possível, diria que ela nem mesmo respira. Quando volta para a Terra, ela segura os meus ombros com suas mãos e diz, vagarosamente:

- Wandinha, alguma vez na vida você já se apaixonou? Porque essa é a perfeita descrição de uma pessoa apaixonada, ou pelo menos de uma quase apaixonada.

𝐧𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐝𝐚 𝐚𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚: olá! vocês podem comentar se estiverem gostando, sabiam? prometo não morder ninguém. críticas construtivas também são bem-vindas. até a próxima! xoxo