San Lágus's é uma ilha colonizada por humanos mais distantes, vindos da centro-capital Vilhália. Consequentemente, sua natureza era diferente do resto do continente. Menos hostil. Mas o que a tornava especial para muitos, era o fato de ser a principal fonte de diamantes cäandi, a base da moeda e hegemonia da metrópole. Como em toda colônia, a opressão e corrupção são corriqueiras. Aqui, vive o senhor Eugí, dono de terras férteis, um senhor gentil que vivia a vida cuidando da família e de sua propriedade. Infelizmente, despertou o interesse de uma família de grandes fazendeiros locais, interessados em aumentar seus lucros e com força para isso.
─ Vamos, velho! Por que não para de nos fazer perder tempo e vende logo suas terras? A oferta dos Mazenga está de bom tamanho para alguém como você, e por sorte você ainda vai poder comprar uma barraca no centro da ilha. ─ Disse um dos soldados, já sem paciência, menosprezando o senhor.
─ Já vos falei que minhas terras não estão à venda! Saiam logo daqui! ─ Gritou sem forças em um tom esgotado, não era a primeira vez que tinham essa conversa.
─ Pff! ─ O líder dos soldados expressou, insatisfeito com a negociação falha.
─ Vocês deveriam ter vergonha. Aterrorizando alguém como eu que só está cuidando do que é seu, para beneficiar pessoas que já têm muito e querem mais. Claramente molharam suas mãos. Vosso dever era nos proteger. Não é para isso que têm poderes. ─ Eugí começou a apontar o dedo na cara de todos eles , revoltado.
─ Nós te protegemos o suficiente, demos tempo para pensar nas suas opções, depois de virmos aqui tantas vezes, velho. Os Mazengas perderam a paciência contigo e com a gente, então ou você assina essa papelada toda aqui e segue com sua vidinha miserável com sua esposa mi-se-rá-vel e para de nos incomodar , velho idiota! ─ Exclamou de forma pausada e violenta, que ao perder a paciência, derrubou o pequeno fazendeiro, fazendo-o cair de bunda no chão, depois de bater repetidamente os dedos em seu peito. ─ Podemos te torrar a qualquer hora, basta querermos.
Ao cair, largou sua enxada. Sem apoio, o cansaço o impediu de se levantar no mesmo momento, continuou a permanecer no chão de cabeça baixa. Um ódio que já queimava apenas em brasas em seu peito pela idade ganhou vida e em um momento de coragem e fervor. Se levantou com o pouco de força que tinha e partiu para cima de um dos soldados. O abraçou, como um lutador de boxe cansado, usou o peso de seu próprio corpo e empurrando-o gritou:
─ Saiam! Saiam das minhas terras, da minha casa! ─ Enquanto isso, lágrimas correram por seu rosto, ao passo que a força de vontade de quem já havia sofrido muito se tornava evidente. Suas pernas cambaleavam.
─ Quem você pensa que é?! me larga seu velho! Seu mulo de merda! ─ Enfurecido, gritou o soldado.
─ Tira logo esse velho de cima de você, dá um jeito! ─ Ordenou o líder deles.
─ É muita coragem desse mulo. ─ Falou desferindo um soco no rosto de Eugí.
Esse soco o desnorteou, e levou embora suas últimas forças, assim soltou o homem. É comum que soldados se sintam acima dos cidadãos mulos comuns, independentemente de sua própria origem antes de se aliar ao exército. Sua principal ocupação é exibir sua ascensão social. E, o ato de Eugí, de ousar ir contra a vontade deles certamente causaria revolta e muita chacota entre eles. Sem mais conversa, os agressores iniciaram um violento castigo em grupo, espancando-o. Em meio a violência dos senhores da lei, com sangue nos olhos e apenas fúria em seus atos, poderia se dizer que foi apenas um descuido, um momento de fraqueza, e talvez o senhor agredido poderia até ter sobrevivido, mas esse tipo de situação era tão comum que instintivamente o soldado que ele havia agarrado lhe deu um tiro no peito com a sua arma mais letal, um fuzil de energia que os militares canalizadores possuíam e se gabavam, carregando-o como a um troféu, no momento em que o senhor no chão avistou a arma, mal conseguindo falar e sangrando, implorou como nunca antes, por temor a sua vida, e a vida daqueles que deixava para trás, mas logo tudo terminou segundos depois, logo ali, em sua terra, apenas o céu como testemunha e homens que pensavam nele como nada menos que um animal
─ Vuh! ─ Soou alto o barulho da arma.
O que eles não notaram foi o pequeno logo atrás de uma árvore. O neto da vítima assistiu toda a cena, ainda com a marmita quente e embalada em um pano que o ia entregar. Aquele garoto, sentiu pela primeira vez o desespero que seria a semente de um ódio compartilhado por tantos de sua terra, ele sempre recordaria seu avô em seus últimos momentos e sentiria saudade do homem forte que o havia criado até então, pois nunca mais o veria.
Myko Santti, de apenas 7 anos, derrubou o pacote e se segurou no tronco da árvore com uma mão enquanto mordia a outra para não gritar pela única figura paterna que tinha conhecido até hoje, as lágrimas rolavam de seu rosto e quase congelaram tanto com o frio da noite quanto o frio fantasmagórico que tomou conta do ambiente ao seu redor. Ele correu em direção do seu avô assim que os assassinos se retiraram, deixando o corpo esfriando no chão. Foram embora orgulhosos, com a sensação de trabalho bem feito. O que é tirar de um vida mulo comparado com o dinheiro que receberiam e os elogios de seu contratante. A criança desatou a chorar com seu ente tão amado e sem vida em seus pequenos braços, tudo que tinha reprimido vendo os instantes finais de seu melhor amigo, pai e referência de pessoa, saiu a plenos pulmões
─Aaaah! Vô! ─ Gritou chorando, o pequeno ─ Não me deixe! Volta para mim! Eu quis tanto te ajudar! Desculpa não ter vindo te ajudar, vô! Você me mandou esconder, eu me escondi assim como você me ensinou... Vô... Seu Kinho está aqui, vô! Alguém me ajuda! Ajuda meu vó! Alguém?! Alguém?! Vô!!
Ao ver que ninguém viria ajudar, e que já nada mais podia ser feito, se levantou, virou seu olhar em direção ao veículo distante onde estavam os enviados. Suas risadas ainda podiam ser ouvidas. Sentindo uma aura arder em seus olhos e um véu escuro de sangue tomou lugar das cores comuns, essa aura queimou em dourado. não houve tempo para pensar o que isso poderia significar ou em como criança alguma daquela idade deveria ter. Gritou para que o pudessem ouvir:
─ Vo-vocês! Vocês mataram o meu avô! Fudidos desgraçados! Assassinos! Eu vou destruir todos vocês, vão se arrepender do dia que pisaram aqui! Volteeeeem! Volteeeeeem! ─ Ainda era inacreditável ver uma criança soltar tais palavras. ─ O exército... todos... todos... eu vou... eu vou acabar com vocês...
─ Chefe... ─ Disse o soldado observando pela mira telescópica da arma. ─ Tem uma criança do lado do corpo, está agindo estranho e parece parente do velho. Não acha melhor evitar problemas futuros? ele está na minha mira. Posso dar um fim nele. Procedo?
─ O que uma criança poderia fazer?... — Sussurrou consigo mesmo — É só uma cria mulo. — Concluiu em voz alta. — Não importa se é criança ou um velho idiota, não são ameaça.
─ Pff, você quem manda.
Seguiram com a sua ronda noturna, como em qualquer outro dia. Deixando o Myko, mergulhado no seu luto.
─ Vô... Eu prometo... prometo. ─ As palavras soaram abafadas quando ditas contra o abraço ainda quente que dava ao seu avô, como um mantra, uma despedida.
Ser fraco, um ninguém, teria salvado a criança naquele momento? Sua cor e classe social foi o que lhe permitiu viver. O garoto sempre cresceu ouvindo de sua avó que "quem bate esquece, quem apanha não", essas palavras agora estão cravadas na sua carne.
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Diamorn: Continentes de Guerra.
Ficción GeneralMyko é um jovem colono que tem rancor contra o exército e os rúbís, causado pela opressão que fazem em sua colônia a séculos e por terem matado seu avô. Após uma tragédia com Nice, sua avó e última familiar, ele recebe uma oportunidade de salvá-la...