Seguindo sua caminhada juntos, celebrando a chegada à capital, os dois amigos continuaram a conversa. Myko observava tudo do novo ambiente aos detalhes. Analisava o comportamento das pessoas, as expressões, os produtos que eram comercializados, o patamar de vida dos locais, as estruturas, os novos hábitos que seu velho amigo adquiriu vivendo ali por mais de um ano, a presença dos guardas e a íntegra o que estava ao alcance de sua visão.
─Caramba, você está muito feio!─ Myko disse.
─E você parece que foi espancado, mas só no rosto!
─Haha! Caramba, quanto tempo. Senti sua falta, de verdade.
─Eu não. Tinha sempre que cuidar de você.
─Está mais alto?
Os dois deixaram a resenha em dia. Brincadeiras e piadas que só eles entendiam. Terminada a conversa, começaram a andar ainda com a mala, para ir comer e conversar.
─Cara, me leva onde tiver cuscuz. Já são sete dias de abstinência!
E foram.
─Então, já sabe onde fica a Academia?─ Haffa perguntou.
─Difícil eu não saber de algo. O que acha que fiz durante a viagem?
─Se bem te conheço, revisou a história de Vilhália, as grandes famílias, estudou o mapa da cidade, o exército, a ASUMI e um monte de dados desnecessários e um pouco estranhos de se saber... Não sei por que ainda perguntei.─ Haffa se explicou, decepcionado consigo, mas aliviado de o amigo saber por onde pisa.
─Ainda tive tempo de assistir minhas coisas.
─Você não larga mesmo esses desenhos! Não aprende.─ Haffa ironizou, como forma de apontar um "defeito" nos hábitos do amigo.
─Ah, é a vida...─ Myko logo mudou para uma expressão séria.─ mas você sabe bem que não estou aqui de férias.
─Sim, eu sei bem...
─Pelo que pude absorver dos dados que coletei, a ASUMI é algo bem maior e mais importante para a cidade do que eu imaginava...
─Claro─Haffa dizia em meio às falas...
─Os rúbís investem pesado na academia e querem a todo custo que seus filhos entrem nela. Vi em um jornal durante a viagem que o 4º príncipe vai estar na minha turma, e por incrível que pareça, foi o que menos me impressionou. A 205ª turma vai ser diferente de todas as outras. Pretendem formar a maior elite qualitativa de guerreiros que já produziram, devido a um déficit enorme causado por um gap educacional e de treino das outras academias militares.
─ Você está sabendo bastante...
─A capital e as outras cidades estão perdendo poder e temem um ataque das outras raças. Essa é a verdade por trás de tanto investimento. Os rúbís querem manter seus patamares... A hierarquia não é uma legislação institucional na ASUMI, mas os alunos ricos oprimem os poucos mulos que lá entram. Como se defendessem um território que julgam ser deles.
─Eu sei bem disso... Passo por isso todos os dias na minha universidade. E se não contribuísse tanto nas pesquisas e competições, seria ainda pior. Não ter poder aqui na capital é ainda pior do que em San Lágus's. Por isso, mesmo estando orgulhoso e feliz por ti, temo muito pelo seu bem. A ASUMI é também o lugar mais selvagem dentro das muralhas.
─Obrigado, irmão. Mas, pode ficar tranquilo. Sei me cuidar. O tempo foi curto, mas me preparei o suficiente para aguentar esse tempo aqui. Sei que não vai ser tão fácil assim, mas não vou desistir. A vida da minha avó depende disso. E não vou ficar atrás desses rúbís convencidos.─ exclamou, se gabando.
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Diamorn: Continentes de Guerra.
Ficção GeralMyko é um jovem colono que tem rancor contra o exército e os rúbís, causado pela opressão que fazem em sua colônia a séculos e por terem matado seu avô. Após uma tragédia com Nice, sua avó e última familiar, ele recebe uma oportunidade de salvá-la...