Capítulo 2: O broto adormecido Como descobrimos se uma árvore é frutífera?

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10 anos depois...

Triiiim! Triiiim! Triiiim! O maldito despertador toca e tira Myko do seu doce sonho. Sonhar com a liberdade parece tão simples. Ele não estava amarrado a algo físico ou preso em um cômodo sem janelas e portas, mas o sentimento era o mesmo. Lembrou-se do sentimento de insignificância e de estar paralisado, como no dia que perdeu seu avô, e, neste sonho, estavam todos juntos. A família estava completa, sem mais humilhações e pobreza. Logo, foi quando o mesmo tenebroso som de todas as manhãs o tirou de sua fantasia mais uma vez. Outro dia começa. Levantou de sua cama, se aprontou para seu dia, e foi tomar café na cozinha, onde encontrou sua avó, que já estava acordada.

Dona Nice já estava fazendo sua oração matinal, 'falando com seu veinho', o senhor Eugí, como faz todo dia ao se levantar, no pequeno memorial em sua homenagem que está na cozinha. Era seu lugar preferido da casa, quando vivo. Amava comer os variados pratos que sua esposa fazia do que eles tiravam da plantação de milho da família. Então, o querido Kinho se junta a cerimônia. Sequer acreditava em vida após a morte, mas se sentia bem "conversando" com seu avô junto dela, pelas saudades dos velhos tempos, ou quem sabe pelo amor que ainda tem por ele.

Os dois estavam ajoelhados um ao lado do outro, em sua oração silenciosa. Contou-lhe sobre o sonho que teve. Lhe falou que não tinha se esquecido. Pediu perdão novamente por ser tão fraco e reforçou sua promessa. Tinha ficado mais forte nos últimos anos, e repetia incansavelmente em sua mente que iria se tornar ainda mais, já que ainda não era o suficiente para bater de frente com o Grande Exército. Sua avó derramou algumas lágrimas. Ele não sabia mais como consolá-la, e talvez nem fosse necessário, pois aquela cena já tinha virado rotina. Já era um consolo dividir aquela dor e sentir a presença de Eugí guardando-os...

Terminado, os dois se sentam à mesa.

─ Kinho? Porque você acha que as pessoas têm família? - Perguntou de forma casual enquanto se servia uma caneca de café.

─ Ih, vó, mal nos sentamos e a senhora já está dando uma de Lílëa Zëlgonza. Cadê meu cusca? E respondendo sua pergunta: nem i-de-ia...─ Respondeu, desviando-a.

Myko se levanta, procura um prato para se servir de cuscuz, seu café da manhã favorito, derivado de milho. Sempre procura evitar conversas existencialistas, mas acredita, com razão, que se não fosse por ela o amparando, nada teria feito sozinho naquele mundo.

─ Eu penso que, é para termos alguém por quem lutar. O que seria de mim depois que perdi sua mãe? Felizmente, eu ganhei você, meu filho, e por isso pude continuar a viver um dia após o outro. Sabia que você iria precisar de mim, e então não desisti, mesmo com a morte do veinho...

─ Do nada isso, vó? Já está pensando em bater as botas, véia? Haha. Se bem que, com o tanto que você anda bebendo escondida, e comendo todo o milho que plantamos, não deve demorar tanto assim.

─ Quê isso, menino?! Me respeite! Se seu avô estivesse aqui queria ver você falar assim comigo.

Pode parecer que o clima mudou rápido demais. E não é mentira. Desde a morte de Eugí, o pequeno Kinho se sentia responsável por sua avó. Não gostava de vê-la triste. O sorriso grande e aberto cheio de dentes era característico da família, ele amava ver. Principalmente o dela, por isso, estava sempre tentando fazê-la rir, ou ao menos irritá-la para que se esquecesse de seus pesares. Gostava até de receber seus sermões.

─ Estou só brincando contigo... ou talvez não. Minha cerimônia de graduação é daqui a três meses e quero a senhora lá, toda linda e sorridente para me aplaudir e me ver pegar o certificado de melhor aluno do Instituto Tecnológico de San Lágus's. ─ Disse imaginando e descrevendo a possível cena.

Diamorn: Continentes de Guerra.Onde histórias criam vida. Descubra agora