Não sabia como essa noite iria acabar, algo sempre me dizia que coisas ruins podem acontecer quando não se está muito a fim de sair da própria casa. Contudo, meus primos estavam eufóricos com a tal festa que todos os vizinhos estavam comentando durante a semana toda. Tudo parecia novo para eles, e mal conseguiam se segurar em pé pela felicidade. Então, em questão de minutos, todos já estão prontos, com roupas confortáveis e elegantes, para enfim tentar esquecer os problemas que flutuavam sobre a cabeça.
— Se cuidem! — dispara mamãe, com um sorriso no rosto. Lanço uma piscadela em sua direção e a vejo sorrir. — Cuide de seus primos, Daniel! — grita ao fechar a porta.
Um tremor involuntário escorrega entre a minha espinha. O calafrio estranho se instala sobre minha pele ao imaginar que poderia acontecer algo. As sensações bizarras nunca erraram de endereço, e contudo, existe uma parcela dentro de mim dizendo que poderia ser tudo uma grande bobagem, e que, sim, precisava relaxar.
Coisas boas também aconteciam, Daniel, você precisa acreditar nisso!
Conforme eu e meus primos seguíamos para o setor principal, dou uma pequena olhadela na direção deles, e é quando vejo dois moleques saltitando como crianças de jardim de infância. Reviro meus olhos, enquanto vejo os portões da Colônia abertos para todos os visitantes naquela noite, algo inusitado, já que nunca abriam em época habituais.
— Martinez! — grita uma voz masculina atrás de mim, e me viro, já que reconhecia aquela voz. Meu melhor amigo. Morris.
— Morris! — grito de volta, e o rapaz começa a correr e me puxa para um grande abraço.
— Como anda, meu amigo? — pergunta, batendo em meus ombros.
— O mesmo de sempre, trabalho e estudo! — falo, dando de ombros. Eu ajudava meu pai às vezes na Colônia, quando ele precisava de ajuda, e gostava de ajudar minha mãe, quando precisava se concentrar em algumas máquinas de tecido. — E você?
— Algumas mensagens sobre possíveis movimentos estranhos, estão sendo bastante conflitantes para meus queridos pais!
— O que isso quer dizer? — pergunto, lambendo meus lábios ao erguer a sobrancelha para ele.
Morris para imediatamente, me puxando para um beco, onde sabíamos que não podiam nos ouvir. Ele balança um pouco a cabeça, e logo começa a cantar como um passarinho em meus ouvidos.
— Cara, as coisas estão estranhas e complicadas, eu não sei como nossos pais vão resolver esse problema. Acho estranho seu pai não ter mencionado isso a você! — comenta Morris, trocando o peso de seu corpo através de seus pés. — Caminhões, Daniel, bastante deles indo para o continente! — dispara — Isso é estranho, não acha?
— Por que seria estranho? — pergunto dando de ombros.
Morris revira os olhos e então me aperta ainda mais com seus dedos.
— Seu pai discutiu com Alexsandro Moraes! — fala Morris dando um passo para atrás. Meus olhos se dilatam com a informação. Papai e mamãe não mencionaram nada disso. — Meu pai me disse que teve que prender seu pai sobre a parede, para ele não socar a cara do chefe da Colônia, você pode acreditar nisso? Sua família praticamente está em risco de ser banida!
Meu organismo todo começa a falhar com a informação. Papai sempre foi alguém centrado e equilibrado, jamais iria se envolver em uma briga desse tamanho se não fosse por uma emergência. Alguma coisa está acontecendo.
— Morris, meu pai não dá ponto sem nó... Aconteceu alguma coisa! — falo num tom cauteloso.
— Sim, eu também acho! — murmura o garoto. — Então, perguntei para meu pai sobre isso, e ele disse que Martinez não aceitou muito bem o chefe diminuir os suprimentos dos outros setores e aumentar a carga horária.
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A COLÔNIA (A aliança de sangue)
FantasíaEm um local moribundo, onde as mentes se perdem, deixando marcas espalhadas pelo sofrimento, uma jovem chamada Heloísa, fora abandonada ainda recém-nascida, permanecendo no lugar, por quatro anos. O tempo acerta, a jovem cresce e mesmo longe do loca...