A COLÔNIA (A aliança de sangue)

CAPÍTULO 17

Não faço ideia de onde estou. Embora estivesse andando sem rumo, sei que Samya morou no setor por um tempo, então confiei nos seus instintos sobre isso. Ela sabe o que está fazendo.

Conforme caminhamos, vejo que as vegetações daquela parte estão mais vivas. Há flores coloridas por todo lugar, e as árvores são ainda maiores. Eu não faço ideia de como ela chegou até o nosso setor, mas sei que tem alguma coisa em sua manga. Ela não é uma líder se não tem uma carta na manga. Meus olhos se afincam ainda mais sobre suas costas. Ela caminha como se estivesse esperando sempre alguma coisa vinda dos outros. Sempre na retaguarda, mesmo não sabendo de nada sobre lutas, acho que sei um pouco sobre se sentir pequena sobre muitas coisas, e é assim que consigo ver aquela garota.

Passo meus dedos sobre cada folhagem por que passamos e suspiro ainda mais forte, conforme o vento se parte sobre nós. Samya para e fica olhando o horizonte e suspirando profundamente.

— Quando você saiu do setor 15? — pergunto ao me aproximar da jovem. Ela por fim me olha ao seu lado e lança um sorriso pequeno.

— Não faz nem cinco horas! — murmura, suspirando.

— Você é assim? — pergunto, a observando ainda mais. Aqueles cabelos escuros mostram mais seus olhos e a curva de seu rosto.

Ela vira seu rosto para mim e percebe que estou a encarando como um assassino em série, mas não me importo com isso. Ela, porém, franze o cenho.

— Assim, como? — questiona, fazendo seus olhos azuis ficarem mais intensos e profundos.

— Desaparece... — consigo dizer depois de algum tempo a encarando e só pensando no formato de seu rosto e seus olhos cristalinos.

Um sorriso sai dos seus lábios, e então ela volta a encarar o horizonte que está à nossa frente. Eu também tento olhar para o que está deixando seus olhos brilhantes, mas não me importo com isso.

— Eu gosto disso! — dispara ela, lambendo os lábios. — Às vezes eu só quero ficar sozinha, pensar um pouco, é algo meu, sabe?

Assinto com a cabeça. Só estou ponderando que se ela quisesse ficar sozinha, por que acabou me chamando para ir com ela? Isso ainda não faz sentido na minha cabeça.

— Por que me chamou? Se você quer ficar sozinha... — consigo dizer. Seus olhos azuis se viram para me observar, e pela primeira vez, eu vejo o percurso que eles fazem até chegar aos meus olhos. E isso fez todo meu corpo se arrepiar.

— Você me disse que conhece minha irmã, já conversou com ela... — fala com uma voz carregada de tensão. Eu apenas concordo com a cabeça, mesmo não sabendo por que ela está querendo falar sobre Soraia. Deixo o peso do meu corpo em uma outra perna, e logo cruzo os braços com esse assunto. Falar sobre Soraia não é algo que desejo fazer agora. — Você gosta dela! — fala Samya rapidamente. Franzo meu cenho e me viro para encarar a garota, que agora está balançando a cabeça e se afastando.

— Quem disse que gosto dela? — pergunto, dando de ombros.

Samya gira pelos calcanhares e lança sua cabeça para trás.

— Olha o jeito que você ficou, quando mencionei minha irmã... Você gosta dela! — dispara, porém logo a vejo novamente negando com a cabeça, como se não quisesse acreditar nisso. E então, a vejo me observar com mais força em seus olhos. — Posso te perguntar uma coisa? — apenas deixo que pergunte, piscando para ela. — Você gosta de se machucar?

— O quê? — disparo incrédula.

Samya se afasta ainda mais, e continua balançando a cabeça como se não quisesse saber a resposta, ou como se não quisesse escutar de qualquer forma. Contudo, logo a vejo parar e girar novamente seu corpo em minha direção.