— Você vai voltar, não é mesmo? — pergunta Vitória ao me puxar para um abraço depois do grande e delicioso café da manhã. Já estamos todos a postos à frente do grande portão de metal onde os trens param para descarregar os suprimentos que os setores precisam. Meus olhos encontram as írises claras e os cabelos vermelhos, e suspiro firmemente. Não sei se vou voltar algum dia, mas acredito que possa pensar a respeito. Saber que as meninas que cuidaram de mim, estão bem e totalmente vivas, isso muda um pouco meu pensamento. E então, tenho a possibilidade de concordar com a cabeça e pensar que posso voltar algum dia a visitá-las. É por isso que acabo concordando e beijando os dois lados de suas bochechas rosadas.
Demoro um longo tempo me despedindo de Manuela, que está quase chorando por me deixar voltar, mas sabe que tenho meus pais, uma família, e não posso deixá-los. Todos ali sabem disso. E com aquele trem totalmente abastecido, as coisas vão mudar.
Meus olhos se nivelam diante dos olhos azuis profundos, onde sei que existe uma imensidão para ser explorada.
Os olhos são totalmente diferentes dos olhos de Soraia, e agora sei o motivo. Naqueles olhos, tem alguma coisa que nunca vi em outros olhares antes, é como entrar em um mar violento e ao mesmo tempo ser abraçada e acolhida por ele de forma bem-vinda. Franzo um pouco o cenho ao ver Samya se aproximar com seu cão de guarda, Matheus, ao seu lado. Por outro lado, os olhos castanhos do garoto vão em minha direção, o que me diz que ele pode ser um problema. Contudo, podemos lidar com isso, de qualquer forma.
— Eu espero que possamos voltar a nos ver novamente! — falo, estendendo a mão em sua direção. A garota lança um olhar determinado e suspira firme, prendendo sua mão na minha.
Vejo um sorriso pequeno surgir em seus lábios. A temperatura está ambiente, mas posso sentir algo queimando em minhas vísceras, nunca vou entender o que se passa por entre meus dedos e os dela.
— Não espere acordada! — dispara a garota, lançando uma piscadela em minha direção. Franzo o cenho com isso. Soraia me disse que sua irmã não gosta de ser encontrada, se ela quiser falar com você, viria ao seu encontro. É assim que fantasmas trabalham, não é? — Mas talvez eu possa permitir isso! — murmura com cautela. As palavras que saem de sua boca, são como um sino para meus ouvidos. Posso sentir o meu coração dar uma cambalhota e meus sentidos se perderem um pouco, mas logo consigo recuperá-los rapidamente.
Samya se afasta e estende as mãos para Caio, também e logo quando se afasta, vejo Matheus apenas acenando com a cabeça. Meus olhos se voltam na direção do meu amigo, e por fim, estamos nos dirigindo para dentro do trem, que realmente está abastecido.
— Espero que você não me dê a chance de correr atrás de você! — dispara Samya, me fazendo girar pelos calcanhares. — Nós temos um acordo, não se esqueça disso!
Faço um breve aceno de cabeça e sinto o coração fazer uma cambalhota novamente, e volto a pensar rapidamente com meus neurônios que não se perderam.
— Talvez seja divertido ver você correr atrás! — falo, dando de ombros, e logo entro rapidamente pela porta de metal aberta do trem.
Eu não sei o que aquelas palavras podem fazer, mas alguma coisa dentro de mim diz que não é normal atirar essas palavras entre os ventos e deixá-las penetradas dentro da mente das pessoas. Contudo, isso nunca me importou. Jamais pensei no pensamento das outras pessoas, jamais quis saber o que se passa dentro delas, mas naquele momento, desejei saber. Desejei com todo meu coração saber o que se passa na sua cabeça, e o que aqueles olhos brilhantes e azuis, sentiram sobre isso.
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A COLÔNIA (A aliança de sangue)
FantasíaEm um local moribundo, onde as mentes se perdem, deixando marcas espalhadas pelo sofrimento, uma jovem chamada Heloísa, fora abandonada ainda recém-nascida, permanecendo no lugar, por quatro anos. O tempo acerta, a jovem cresce e mesmo longe do loca...