𝐏𝐄𝐋𝐀 𝐆𝐋𝐎𝐑𝐈𝐀 𝐃𝐄 𝐐𝐔𝐄𝐌? #𝖧𝗂𝗌𝗂𝗋𝖽𝗈𝗎𝗑 c.

𝟎.𝟏

O cheiro característico de Arcádia invade as minhas narinas quando abaixo o vidro do - não tão pequeno - carro. O pretzel da esquina, a lavanderia do lado do mercado, a pequena floresta que emana a grama molhada e, fumaça. Muita fumaça.

— Quanto tempo acha que vai durar aquelas árvores com essa poluição?

— Não muito, isso eu garanto. — Meu pai responde, olhos na estrada enquanto sorri presunçosamente. O jaleco e o óculos em seu rosto e corpo trazendo um ar curioso pelo maxilar barbado. O'que diabos ele fazia com essa roupa a essa hora?

Solto um riso nasalado, meu pés apoiados no porta luvas, enquanto pinto uma das minhas unhas de azul. The final Countdown toca em um som médio no carro. Balanço minha cabeça enquanto fecho os olhos, o vento bagunça meus cabelos, e eu quase o amaldiçoo se não fosse tão refrescante; e o melhor, seca meu esmalte recém pintado.

Arcádia bay nunca foi meu lugar favorito, acho que não tenho um na verdade. Mas aqui, aqui é aonde eu cresci, vivi, e não sou muito chegada em me desapegar a coisas, mesmo que minimamente irrelevantes.

O motor do carro desliga, meu pai faz uma mímica bem ruim sobre algo como " fome " e segue em direção á padaria que eu nem virá.

— E por Newton, abaixa isso! — Grita, um pouco distante, mas o suficiente para eu fingir entender e aumentar o volume ao invés. A música pulsa pela pequena caixa de som do carro, ele balança a cabeça em negação. Uma pequena curvatura estende seus lábios; Eu sorrio também.

Edric etheldred nunca foi um fã das minhas escolhas musicais, mas também nunca desagradou. Acho que isso é bom, ele é um bom pai, ou padrasto, sei lá.

Edric é ocupado, sendo um cientista - não tão renomado, mas também esperto o suficiente para construir seu próprio laboratório na garagem de casa e contribuir em centenas de desenvolvimentos genealógicos de plantas ou algo assim -. Eu não sei muito, Nunca me interessei em ciência. Acho que é por isso que ele evita o assunto " universidade " no jantar.

Meus dedos batucam no banco do carro, tédio me alastra quando vejo que já decorei as manchas do teto solar e das minhas botas já não tão pretas assim pelo desgaste e uso constante. Odeio tédio, odeio não ter nada pra fazer, pra pensar. Isso significa que eu vou pensar demais, conclusões demais e incertezas demais.

Suspiro. Tentando me concentrar na música que estrala meus ouvidos e que com certeza irrita alguns estranhos que passam pelo carro barulhento, a ideia me faz curvar um pouco os lábios. Mas novamente os paralelos me consomem, o'que eu martelava na minha cabeça no fundo da minha mente voltando em Flashs rápidos, meus batimentos doem na caixa torácica e o gosto azedo alastra minhas pupilas gustativas.

Jim.

Como ele tem estado depois desse tempo? E Bob? Meu deus, será que iremos morar na mesma casa de antes? Na mesma onde minha mãe..