Capítulo 19

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YENNIFER MILLER

Nunca pensei que iria me divertir tanto com Gabriel Petrov mas isso aconteceu, foi uma noite incrível e pela primeira vez eu estava me divertindo com um amigo.

No dia seguinte, participei do encerramento de corridas da Drakon's e venci. Jhonny se despediu de mim aquela noite, disse que precisava ir embora e esperava que eu ficasse bem, ele inclusive me chamou para ir junto mas eu recusei, gostava de Moscou e estava pronta para morar ali, Jhonny também deixou o apartamento comigo e disse que eu poderia ficar o tempo que precisasse.

Agora, dias mais tarde eu estava conversando com Gabriel na sala de sua cunhada e esperando Zarina me receber quando Ivan Petrov entrou na sala de estar e sua expressão mudou.

— O que você está fazendo aqui? — A voz dele era forte e raivosa, precisei dar um passo para trás com o impacto que tive com a ação.

— O que? — Eu estava tão confusa, olhei para Gabriel esperando uma resposta mas tudo o que ele fez foi encarar Ivan de forma dura.

— Vai embora, já não basta fuder com a cabeça do meu irmão? agora quer fazer isso com a minha esposa?

E ele continuou gritando, cada vez mais alto, eu estava tão confusa e doeu tanto ser tratada dessa forma. Eu passei dias consolando sua esposa, a ajudando em um momento difícil para ele voltar e apontar o dedo me acusando de ser uma manipuladora. Minha confusão me deixou surda e eu não era capaz de entender o que ele me dizia, minhas mãos tremiam enquanto eu o via apontar na direção do meu rosto.

— Saia. — Ivan deu um passo para frente como se fosse voar na minha direção, eu me encolhi respirando fundo e novamente me afastando dele.

— Não. — Zarina respondeu por mim, eu sequer havia notado sua presença até aquele momento.

Mas eu não poderia continuar ali, não conseguia mais olhar para o rosto do Capo e ver o tanto de ódio que o mesmo guardava por mim, eu senti medo, nunca senti tanto medo. Pela primeira vez, temi por minha vida, porquê Ivan Petrov aquele momento era a personificação da raiva, e por um momento, pensei que ele partiria para cima de mim.

— Está tudo bem, Zah. — Eu dei vários passos para trás e passei ao lado de Zarina evitando ao máximo olhar para seu marido, minha amiga estava tão confusa quanto eu.

E conforme fui me distanciando da sala e chegando perto da saída, minha propria raiva foi crescendo. Raiva pela impotência que ele me fez sentir, pelo medo cru que cruzou meu corpo, pelo tremor em minhas mãos... por me sentir fraca. Eu bati a porta da saída com tanta força que estremeci com o barulho alto que a madeira fez ao bater.

Caminhei até meu carro batendo os pés no chão fortemente, eu queria gritar.

— Yen. — Eu parei onde estava, nunca ninguém me chamara assim.

Gabriel, eu reconheci antes mesmo de me virar. — Vai gritar comigo também?

— Não seja tola, eu estaria torturando você ao invés. — Eu não sabia se ele estava brincando, sua voz era séria e seu rosto não continha expressões. Era para ser uma ameaça, eu pensei, soou como uma mas de alguma forma pareceu maliciosa.

— Cale a boca. — Suspirei alto.

Eu ainda estava com raiva, ainda queria gritar.

— Vamos, entre no carro. — Era um comando, Gabriel não estava pedindo ou considerando, estava me mandando entrar em meu próprio carro enquanto abria a porta do passageiro.

— Aonde estamos indo? — Perguntei confusa enquanto passava por ele e entrava no carro.

— Liberar sua raiva. — Foi tudo o que ele disse antes de bater a porta.

Havia se passado dez minutos e Gabriel ainda não havia me dito nada, eu estava batendo o meu pé no chão do carro em impaciência, minhas mãos suavam.

— O que está sentindo? — A voz dele era imparcial, baixa e calma, ele olhava para a estrada como se estivesse sozinho.

— Raiva.

— O que quer fazer?

— Gritar.

Ele me encarou pela primeira vez em todo o caminho e foi tão rápido que se eu já não estivesse o encarando, não teria notado. Eu o vi desligar o ar, abaixar os quatro vidros, o vento que invadiu o carro foi satisfatório.

— Então... Grite. — Não foi preciso dizer duas vezes, eu me agarrei ao acento de couro e gritei até perder o ar, depois respirei, e gritei mais uma vez.

Minha garganta ainda doía enquanto ele erguia os vidros e ligava o ar, ficamos quietos enquanto eu me acalmava e relaxava no banco.

— Melhor?

— Sim.

— Ótimo, agora vamos comer algo, se ainda estiver estressada iremos correr.

eu o encarei confusa — Você participa de corridas?

— Não, mas isso não quer dizer que não sei. — Ele suspirou — Mas só faremos isso caso você ainda esteja sobrecarregada.

— Eu estou bem.

Ele concordou com a cabeça.

Eu gostaria muito de ver Gabriel dirigir contra mim, seria uma experiência no mínimo interessante mas eu percebi o quão desconfortável ele estava, não queria o precionar mais, eu estava bem e não precisava mais desabafar. Gabriel me levou a uma cafeteria muito modesta, a garçonete era uma brasileira muito simpática e alegre e por um momento pensei ter visto Gabriel a encarando mas foi muito brevemente para eu ter certeza.

Quando a noite chegou, Zarina apareceu a minha porta e minha raiva voltou, não por ela mas pela situação que a mesma se encontrava, ela me contou todo o medo que Ivan a fez passar e eu me coloquei em seu lugar. Zarina já havia me contado um pouco sobre seu passado mas foi o suficiente para eu entender seu desespero, Ivan havia me feito sentir um medo cruel na pele e eu sequer tinha qualquer trauma com isso, eu me senti coagida e sem escapatória e ele havia feito o mesmo com sua esposa, uma mulher da qual sofreu violência crua durante a infância. Me doeu ver sua situação, eu estava frustrada e irritada, apenas por isso sugeri que fossemos para uma boate.

Eu podia ouvir o choro de Zarina enquanto ela estava no banheiro, meu coração doía ao ouvir seus lamentos e eu senti o orgulho me invadir quando a mesma saiu do banheiro como se nada estivesse a abalado, quando eu sabia que a mesma estava triste e machucada. Eu estava com tanta raiva de Ivan.

A fiz colocar um belíssimo vestido meu, ela estava linda e eu estava pronta para mandar o Capo se fuder, caso ele aparecesse.

Mas o caminho até a boate me doeu profundamente, eu mentia mais uma vez enquanto contei a primeira verdade; "eu corria com Lucca quando nos conhecemos". Zarina estava impressionada com a forma em que eu dirigia, eu podia ouvir o sons do pneu contra o asfalto e o vendo que entrava pela minha janela me fazia sorrir. Era bom finalmente ter uma amiga.

Mas passamos do limite e eu já estava sem a blusa, dançado encima do balcão de bebidas quando a porra do Ivan Petrov e a droga de seu irmão Lucca, entrou — invadiu— a boate.

Driving - Drakon's IIOnde histórias criam vida. Descubra agora