- Hoje vai ser o grande dia Valentina - Meu pai está sentado na minha cama enquanto espera eu me arrumar. - Coloque uma calça, nada dessas roupas de vadia e nem pense em colocar maquiagem.
Estou no banheiro me secando e reviro os olhos a cada fala do meu pai. Hoje é a tal conversa com tio Aylan sobre o contrato do casamento. Estou até vendo onde tudo isso vai dar. Saio do banho e ele se levanta fazendo cara feia enquanto me olha de cima a baixo.
- O que eu disse sobre ir igual uma vagabunda?
- Pai, é apenas um shorts.
- Valentina, estamos indo debater sobre o documento que vai nos render milhões de dólares e você vai vestida com um shorts jeans?
- Porque você quer tanto isso pai? Conta pra mim, se estou fazendo parte desse plano sujo, conta pra mim a verdade...
- Valentina tem coisas que você não precisa saber.
- Pai - Respiro fundo - Ou você me conta ou eu conto pro tio Aylan e acabo com toda essa palhaçada. - Tiro meu tênis que acabei de por e me ajeito na cama, pego um livro e finjo começar a ler.
- Valentina - Ele coloca as mãos na cabeça e faz uma cara de irritado - Eu posso até falar, mas se você abrir a boca eu mato você, mato sua mãe do mesmo jeitinho que fiz com sua v...
Meu peito se abre, as coisas começam a rodar e o ar sumiu da face da terra, me levanto da cama olhando fixamente para ele, que está me olhando de volta com uma cara de espanto. Chego bem perto do rosto dele, a centímetros eu posso dizer...
- Você disse o que? - Meu peito está ardendo e tudo ao meu redor está em câmera lenta.
- Eu não disse nada, Valentina - Ele se afasta - Você está louca?
- Você disse que matou - a minha voz falha - A minha - meus olhos se enchem de água - vó?
- Valentina por deus...
- Você falou, que se eu abrir minha boca, você me mataria, mataria minha mãe assim como matou minha avó - Minha voz aumenta a cada letra.
- Valentina, tenha calma. Você ouviu errado, eu só estou nervoso com esse contrato, falei qualquer coisa para pôr medo em você.
- Abre essa boca grande e me fala cada detalhe desse seu plano idiota. - Me aproximo dele e ele dá um passo para trás - Agora, entendeu bem?
- Valentina, eu vim pra cá com uma mão na frente outra atrás tá legal, eu... eu nem tinha dinheiro para comprar suas roupas, para preparar um quarto decente para você dormir quando nascesse. Quando o Aylan chegou lá eu fiquei cheio de esperanças de que tudo daria certo, que nosso sonho de montar algo nosso seria finalmente realizado.
- E daí - digo revirando os olhos
- O Aylan disse que montaria a empresa, mas eu não tinha nada além de dívidas, ele me emprestou uma grana alta para eu pagar as contas, para alugar a casa. Quando finalmente a empresa saiu do papel eu comecei a vender, eu corri atrás de cada cliente que temos hoje, eu me humilhei, levei vários nãos, corri atrás de gente do nascer do dia até a lua aparecer no céu. Eu Valentina, eu fiz tudo isso, o Aylan ficou sentado atrás de uma mesa pingando cachaça dentro de vidrinhos e fazendo experimentos, ou enfurnado dentro de casa sendo o marido ideal e o papai do ano. Enquanto eu estava me fodendo atrás de gente para comprar essas merdas dessas bebidas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Carta
AcakHerdeira de uma empresa de whisky e outros destilados, a advogada Valentina Niewyskin Haydar sofre um grave acidente, perdendo a memória e ficando aos cuidados do bondoso esposo, Bernardo Haydar, CEO da empresa, que faz de tudo para agradá-la. Poré...