A canção de fogo e sangue

A queda dos Targaryen

283 D.C. (Depois da conquista), durante a invasão de Robert Baratheon a king's Landing.

    O céu estava cinzento graças aos incêndios feitos pelos leões. Os guardas e criados do castelo estavam frenéticos, indecisos entre fugir e lutar. - Eu preciso encontrar o meu irmão, ele estava na sala do trono com o nosso pai, nós precisamos chegar ao barco com a nossa mãe a tempo de escapar. Os leões estão se aproximando do castelo.- A cada passo que Rhaerys dava ao fim do corredor, alguém diferente a arremessava ao chão, estavam cegos pelo medo, ela não encontrava sua família e Jaime disse para esperar em seu quarto, que ele mesmo traria Viserys até ela, mas já estava demorando demais.
    Os mantos brancos se separaram para protegar a família real, mas o rei Aerys escolheu ficar sem nenhum na sala do trono. Mas ele pediu para chamarem um homem de nome estranho, um de seus homens do fogo. Rhaerys não gostava de nenhum dos homens do fogo de seu pai, sua mãe dizia que eles eram perigosos e Jaime jamais a deixava sozinha com eles.
    Os corredores pareciam não ter fim, pelo lado bom, quanto mais se aproximava da sala do trono, mais a multidão se disolvia. Todos sabiam que quando os leões entrassem, o primeiro lugar onde iriam, seria ao Trono de Ferro. Ninguém queria correr o risco de ficar entre esse fogo crusado.
    Após o que parecia ser uma eternidade, o portão vermelho, finalmente! O grande portão de madeira pintada como sangue, que dava para o trono do Rei. A princesinha estava apavorada, estava sozinha, seu coração batia como um tambor que ela tinha certeza que ecoava por toda a Fortaleza vermelha. Mas Rhaerys se lembrou do que seu pai sempre dizia para que ela não chorasse ao ver as pessoas sendo queimadas no salão... Um dragão é maior que qualquer medo.
    Ao se aproximar, Rhaerys escutou vozes, alguém estava aos gritos, então ela continuou com cuidado e abriu uma pequena fresta no portão, para não ser notada.
    -QUEIMEM TODOS! QUEIMEM TODOS! - Ela reconheceu a voz de seu pai, ele gritava para um homem do fogo. - QUEIMEM TODOS! - O homem correu cambaleando pelas escadas para sair do salão, para atender as ordens do rei. Mas antes que ele pudesse chegar a apenas metade do salão...
    -NÃO! POR FAV... - Com um único golpe, uma espada arrancou a cabeça do homem do fogo. Seu corpo caiu inerte e ensanguentado no chão. - A visão apavorou a princesinha, a fazendo gritar. Isso fez o cavaleiro olhar em sua direção, dando tempo do Rei descer de seu trono para tentar fugir.
    -GUARDAS! GUAR... - Rei Aerys interrompeu os seus pedidos de ajuda com um grito rouco. O outro homem o alcançou, ele usava um manto BRANCO. sua espada do cavaleiro atravessou suas costas até a frente. - Rhaerys entrou as pressas no grande salão, tomada pelo desespero.
    - PARE! PAPAI! - As lágrimas começavam a correr pelo seu rosto, sem controle. Sua voz estava trêmula. - Rhaerys estava impotente, tudo que ela pôde fazer, foi ver o cavaleiro terminar, tirando a espada das costas de seu pai apenas para rasgar a garganta dele. Quando o corpo do rei cai, rolando pelas escadas, ela pode ver o rosto do assassino de seu pai.
    -Rhae! Eu. Eu... Me perdoa. - Rhaerys ficou congelada no tempo. Como ele pode? Jaime. Seu melhor amigo. Seu protetor. Seu irmão. Ela não sabia o que fazer. Ele também a mataria? Ele seria tão cruel?
    -NÃO! NÃO ME MACHUCA! POR FAVOR! - A princesa não conseguiu se virar, ela tentou andar mas não queria das as costas a ele. Com isso, ela tropeçou nos próprios pés. Caindo sobre o sangue que manchava todo o chão.
    -Rhaerys CORRA! - Jaime gritava em sua direção, interrompendo o seu transe. - CORRA! SAIA DAQUI! - Ela se levantou, enquanto pisava no próprio vestido. - VÁ! RÁPIDO! - Com muito custo, ela se ergueu do chão e disparou de volta para o corredor.
    O coração de Jaime doía. Rhaerys olhou para ele, mas não o reconheceu, ela viu apenas um monstro, segurando uma espada com o sangue de seu pai. O cavaleiro guardaria essa mágoa e arrependimento pelo resto da vida. Ele jamais esqueceu do pavor que viu nos olhos da garotinha que ele jurou a si mesmo proteger, que ele amava como se fosse sua família, sua única família e amiga naquela corte.
    Rhaerys corria a ponto de suas pernas doerem. Ela não encontrava Viserys, e começava a rezar para ele ter se escondido em um lugar seguro. Ela mudava de corredor para corredor, sem rumo, desesperada por ajuda. Perdendo a noção do tempo. Sua respiração estava ofegante e sua garganta se fechava. Ela mal conseguia enxergar o que estava na sua frente, sua visão parecia estar submersa.
    -Princesa! - Rhaerys se chocou com alguém em uma curva e acabou caindo no chão. Ela o reconheceu, era sor Barristan. - Venha, temos que ir para o barco! Sua mãe e seu irmão já estão prontos, onde você... Meus Deuses! - O Homem perdeu a voz ao prestar atenção na parte de baixo do vestido da princesa, manchada de sangue.
    -EU. EU VI. ELE. - Rhaerys estava desorientada. Antes que percebesse, sor Barristan a pegou no colo com a mão esquerda e com a direita, segurava sua espada.
    Os dois passaram por um dos túneis subterrâneos que davam a uma pequena praia em baixo da Fortaleza vermelha. Sua família ainda à esperava, a rainha Raella estava aos prantos e seu irmãozinho estava debruçado na beira do barco, para ver sua irmã mais velha chegar. Ao avistarem Rhaerys, o pequeno príncipe começa a dar pulos de alegria e balançar os braços para que sua irmã o visse, e sua mãe interrompe o choro e estende os braços para abraçar a menina. Ao entregá-la, Barristan sai do barco, chamando a atenção de Rhaerys.
    -Sor Barristan! ESPERA! Vem com a gente! - O cavaleiro sorriu para a menina.
    -Sinto muito minha princesa! Eu preciso ficar e proteger seu pai! Não se preocupe, vai ficar tudo bem.
    Seu cavaleiro salvador foi embora antes que ela pudesse encontrar as palavras. Rhaerys nunca conseguiu dizer o que viu.
    King's Landing estava sendo massacrada por leões, um falso rei cervo invadia a sua casa com seu exército de lobos do Norte e enquanto isso, Rhaerys se perguntava se o navio com sua cunhada Elia e seus filhos havia zarpado antes do seu.
    Os últimos Targaryens partiram para Pedra do Dragão com três dezenas de cavaleiros, comandados por sor Willem Darry. Eles se manteriam escondidos até que a rainha desse a luz. Rhaerys tinha certeza que as casas que ainda eram leais a sua família dariam um jeito de derrotar as forças do usurpador. Quando essa guerra acabasse, ela voltaria para seu lar junto de sua família, afinal, o dragão é mais forte do que todos eles.