Bem vindos a Norvos

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Cidade livre de Norvos, localizada a direita de Braavos.

    A viagem finalmente chegou ao fim, depois de semanas de marcha. Para chegarem a Norvos precisaram passar passar por algumas carreiras de montanhas, isso exigiu muito dos imaculados, apesar de nenhum deles ter reclamado. Rhaerys se sentiu culpada. Era por ela que estavam ali, mesmo que fosse por escolha, não significa que era justo. Durante esse tempo, perderam dois cavalos, o que atrasou e dificultou ainda mais o percurso.
    Uma semana antes, ela enviou uma dúzia de imaculados antes de toda a "comitiva", como ela pediu para chamar. Eles falariam com o Alto Magíster e o conselho, em seu nome, pediriam permissão para entrar na cidade. Quando regressaram, contaram a ela que o próprio Alto Magíster a convidou para se hospedar em seu palácio, na parte Alta de Norvos.
    Rhaerys já conseguia ver a entrada da cidade. Duas torres se erguiam de cada lado de uma estrada de terra batida, elas pareciam ter sido feitas de areia e no topo de cada uma, havia quatro arqueiros em volta de um braseiro. E a cada 40m no mínimo, havia duplas iguais de torres, guardando todo o perímetro da entrada da cidade.
    Todos pararam ao escutar um berrante. Todo o exército e carruagens esperavam em frente a cidade. Estava logo ali. Não poderiam ter ido tão longe em vão.
    -Parem! - Um dos arqueiros que tinha um berrante pendurado na cintura gritou. - Digam seus nomes e o que querem. Se me agradar, deixaremos que passem.
    O mesmo menino que defendeu Rhaerys da primeira vez saiu do palácio rolante e se dirigiu ao arqueiro.
    -Essa é a comitiva de Rhaerys Targaryen, primeira de seu nome. Rainha dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, Senhora dos Sete Reinos e Protetora do Reino. - Rhaerys contou algumas historias de Westeros para ele durante a viajem. - Rainha mercadora de Braavos. A não queimada e mãe dos libertos. - Os arqueiros se entreolharam e ficaram analisando as carruagens e o exército de 99.999 imaculados. -Minha rainha pede passagem para a grande cidade livre de Norvos. Fizemos uma longa viagem. - O arqueiro analisou a todos e depois tocou o berrante três vezes longas e uma curta e todas as outras torres passaram a imitar o som.
    Rhaerys conseguia escutar tudo do Palácio rolante, então decidiu sair para ver o resultado de todo o barulho. Enquanto caminhava até perto das torres, ela escutou um som ecoar. Quatro badaladas de sinos, tão altas, que pareciam ecoar dentro de sua cabeça. Três badaladas profundas e uma aguda.
    -Você foi muito bem, Draco. - Rhaerys encarou o rapaz ao seu lado.
    -Então por quê eles estão demorando para abrir o portão, majestade?
    -Eles tocaram os sinos para chamar o Alto Magíster e o conselho. Eles estavam esperando, agora precisam ser avisados de que chegamos. - Ela o acalmou.
    -Claro! Claro! - Ele ficou envergonhado. Alguns minutos depois, um grupo de seis homens se aproximou pela rua, chegando cada vez mais perto da fronteira da cidade.
    A maioria deles eram velhos com barbas que batiam em suas barrigas, com contas de ouro e bronze as enfeitando. Usavam togas cor de rosa, areia, e coral. E em seus pés, sandálias de couro marrom.
    Exceto por um homem de cintura fina e peitoral largo, que parecia ter acabado de chegar aos 40 anos. Sua pele era acobreada. Seu cabelo preto era ondulado e caia nos ombros. Ele usava um cavanhaque que crescia até um pouco abaixo do queixo, preso por uma conta de ouro.
    -Seja bem vinda princesa Rhaerys Targaryen. Sou Ahad Zo-Loraz. Sou um membro do grande Conselho Religioso de Norvos. - O homem mais velhos a saudou abrindo os braços.
    -Perdão senhor, mas deve se dirigir a rainha dos sete reinos adequadamente. - Draco avisou com educação. Rhaerys permanecia calma.
    -Bom. Você se diz rainha... Você tem um reino? - O mesmo homem se dirigiu a Rhaerys.
    -Bem... Eu... Vou recuperá-lo.
    -Você não tem um reino. Você foi nomeada Rainha mercadora enquanto estava em Norvos?
    -Meu marido foi o maior Rei mercador de...
    -Você não é uma Rainha Mercadora. É só uma esposa, ou pior, viúva. E trouxe um exército com você.
    -Não tinha intenção de deixá-los com medo. Essa é apenas uma comitiva. - Ela falou com ousadia na voz. Isso ofendeu o grupo a sua frente.
    -Se não podemos confiar em suas palavras, imagine em suas intenções. Não podemos deixá-la entrar em nossa cidade.
    -Vocês prometeram nos receber. - Eles começaram a dar as costas.
    -E assim foi feito. - Outro dos senhores respondeu. Antes de todos continuarem a andar.
    -Nós viemos de longe. Não vamos voltar a Braavos. Vocês prometeram nos receber. Não podem me desrespeitar assim. - Ela começou a se desesperar. Ela e seu povo precisavam de abrigo. - Minha família tem dragões! - Ela gritou. Eles pararam e voltaram a encará-la. - Nós conquistaremos o que queremos. Vamos tomar nosso reino de volta. Depois voltaremos para castigar todos que ficaram em nosso caminho. Deem as costas para nós... E serão os primeiros a queimar. - Ela não mentiu. Os Targaryens tinham dragões, só não estavam com ela.
    -Como ousa nos ameaçar? Você não...
    -Como ousa desafiá-la? - O mais jovem entre os homens perguntou indignado, para o grupo que o acompanhava. -Ela é uma Targaryen, uma dragão. E mãe dos libertos. Acha que pode ameaçar seu povo e esperar que ela não produza fogo? - Depois disso, o homem se aproximou mais da rainha. - Sou Alto Magíster Illyrion Zimhel. - Ele fez uma breve reverência. -Não posso lhe dar permissão para permanecer na cidade baixa, essa região pertence ao grande conselho. Mas eu lhe dou permissão para ficar em Alta Norvos, a parte mais alta da cidade. Essa região pertence a mim, e é onde meu palácio fica. Eu a recebo, como minha convidada.
    -Eu agradeço Alto Magíster Illyrion. - Rhaerys fez uma reverência. -Estou em dívida com você. - O Magíster sorriu.
    -Mas devo informar. Seu pequeno povo será recebido na minha cidade. Mas seus imaculados, ficarão fora de nossas fronteiras. - Rhaerys enrijesseu. -Mas não se preocupe, eles serão bem cuidados. O exército defensor de Alta Norvos trará tendas, comida, bebida, roupas e o que mais precisarem. Quando você provar não ter más intenções, eles também serão bem vindos. - Rhaerys se virou para Tigre Vermelho, que ainda montava o cavalo de sua carruagem. Ele concordou com a cabeça.
    -Eu concordo com seus termos. - Ela aceitou, mesmo estando infeliz com a situação.
    Algumas pessoas vieram buscar todas as coisas que estavam dentro dos palácios rolantes. Seus rostos estavam machucados, eram queimaduras, mas algumas pessoas tinham o mesmo tipo de queimaduras, como se fossem desenhos. Rhaerys percebeu que eles eram escravos.
    -Ouvi dizer que Alta norvos escraviza até as pessoas da Cidade baixa. - Draco sussurrou para Rhaerys.
    -Eu acho irônico que as cidades LIVRES aceitem a escravidão. - Rhaerys sussurrou. Havia raiva e indignação em sua voz.
    Eles começaram a longa caminhada. Rhaerys andava na frente acompanhada do Alto Magíster, atrás dela, Draco e todos os libertos. Os seguindo, vários escravos carregando suas bagagens. Andavam pelas ruas como um desfile, imponentes. O povo da cidade baixa os olhava com curiosidade e admiração.
    As casas e prédios da cidade baixa pareciam ser feitos de pedra bege e areia; e terminavam com um telhado pontiagudo feito de telhas pretas. As ruas cheiravam a urina, isso fazia o nariz e os olhos da Rhaerys arderem.
    Enquanto caminhavam, um som forte ecoou por toda Norvos, duas badaladas. Isso assustou os visitantes, fazendo o grande conselho rir e fazer piadas em valiriano, pelo menos, na sua variação do valiriano.
    -Esse é Narrah, é o segundo sino. Significa que é hora da segunda reza do dia. Rezamos três vezes ao dia, antes das refeições principais. - O alto magíster explicou para Rhaerys.
    -Vocês usam sinos para dizer que horas são? - A rainha perguntou.
    -É um pouco mais do que isso majestade. - Ele sorriu da confusão de Rhaerys. - Cada sino tem seu nome e sua própria voz. Eles governam todos os aspectos da vida da cidade, dizendo ao povo norvoshi a hora de acordar, dormir, trabalhar, descansar, tomar armas, rezar, e até, a hora do prazer. Chamamos isso de organização. - Ele falou com orgulho.
    -Eu chamaria de controle. - Rhaerys disse com indignação. Os dois se olharam, com um silêncio constrangedor.
    -Sim. Um pouco disso também. - Ele cortou o contato visual. -Mas sem um pouco de controle, não há ordem, não teria respeito pelas leis ou tradições. - Rhaerys respirou fundo e se esforçou para tentar entendê-lo. -Um exemplo, se os sinos não ditassem as horas do prazer, a população cresceria sem controle. Não haveria comida e nem espaço para todos, milhares de pessoas morreriam de fome e sem abrigo. - Rhaerys ficou com uma expressão séria, ela compreendeu, mesmo indo contra os seus princípios. -Viu só... Organização. Perfeição.
    -Então por quê um lugar tão perfeito precisa de escravos? - Ela perguntou com tristeza.
    -Precisamos de alguém para fazer todo o trabalho pesado. A vida é assim minha rainha. Os escravos marcados com um círculo pertencem a cidade baixa, os marcados com uma estrela, pertencem a Alta Norvos e aqueles que tem uma lágrima, trabalham com a arte do prazer, eles tem permissão para frequentar as duas partes da cidade.
    A conversa acabou quando eles se depararam com uma imensa escadaria de pedra cinza. Rhaerys ficou de boca aberta.
    -O passo do pecador. A única ligação entre as duas metades de Norvos. São 90 degraus até Alta Norvos.
    -É claro que são. - Rhaerys se cansou só de olhar para a escadaria que acabava na carreira de montanhas onde Alta Norvos foi construída.
    A rainha preferiu ficar em silêncio durante os 20 primeiros degraus, mas parecia que o Alto Magíster insistia em acabar com o seu silêncio.
    -Então... Mãe dos libertos. - Ele ficou intrigado. -Por acaso alguns dos libertos ali atrás é seu filho? O menino, talvez? Só acho estranho que... Ouvi dizer que nenhum de seus filhos com Rei Duroc vingou. - Ele perguntou calmamente.
    -É claro que não. Eu não tenho filhos. - Ela começava a ofegar. Se sentiu ofendida por ele insinuar que ela poderia ter um bastardo. -Eu os mostrei que eles sempre foram livres, e ninguém tem o direito de tentar tirar isso deles, de se intitular dono de alguém.
    -É claro. Me perdoe majestade, não quis ofendê-la. - Os dois se calaram após o pedido de desculpas.
    -Por que você me defendeu? - A rainha perguntou. -Na fronteira da cidade.
    -Eu sou um homem cuidadoso, não quero ser queimado vivo quando você voltar a Essos com seus dragões. - Ele sorriu. Rhaerys já começava a suar, mas pelo menos já não sentia mais o cheiro de urina da cidade baixa.
    -Apenas isso? Eu poderia acabar morrendo durante a viagem de volta para Braavos, não tinha como você ter certeza se eu cumpriria o que disse.
    -Tem razão. Mas eu posso te ajudar a fazer isso. - Rhaerys o encarou preocupada e curiosa. -Eu tenho algo que você quer e você tem algo que eu quero. Precisamos um do outro. - Eles não falaram mais até chegar no final da escada.

A canção de fogo e sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora