A canção de fogo e sangue

Lágrima queimada

Duas semanas depois da chegada a Norvos

    Já haviam perdido muito tempo, apesar do povo liberto gostar das regalias de viver no castelo do Alto Magíster, Rhaerys se preocupava com os imaculados que estavam esperando na fronteira.
    Draco pareceu gostar da compania da filha do Alto Magíster, Liryana. As vezes Rhaerys conseguia vê-los de sua janela, caminhando pelo jardim, aos sorrisos.
    O Alto Magíster Illyrion Zimhel estava começando a cortejá-la abertamente. Rhaerys sabia que em algum momento, ele não a daria mais tempo, ela precisaria responder a oferta feita por ele.

    Todos estavam sentados a mesa para o café da manhã. Rhaerys e Illyrion em cada ponta, Liryana do lado direito, seus irmãos Noros e Eros no lado esquerdo, e agora Draco também comia na mesa deles, junto dos dois meninos, a pedido de Rhaerys. Enquanto o resto do povo livre estava distribuído pelas outras mesas do salão de refeições. A rainha estava desatenta a conversa, até que Illyrion fez uma pergunta direcionada a ela.
    -Então, você aceita, Minha rainha? - O homem perguntou animado, com um sorriso no rosto.
    -Espera! - Rhaerys se assustou. -Como assim? Mas você disse...
    -Eu me referia a minha festa de aniversário. Minha linda rainha de Westeros. - Ele não conseguiu conter o riso. -Eu perguntei se gostaria de ser minha acompanhante na festa. Tenho certezaza que deve ser uma incrível dançarina.
    -Ah! Certo! - Rhaerys se acalmou. -Será uma honra para mim. -Ela respondeu, tentando devolver o sorriso.
    -Senhor. - Draco se pronunciou depois de coçar a garganta. - Alto Magíster Illyrion, eu gostaria de ter a honra de levar sua filha como minha acompanhante. - Rhaerys sorriu discretamente. O menino já havia convidado a menina, três dias atrás, mas demorou para reunir coragem o bastante para falar com o pai dela. Rhaerys pensou que Illyrion não aprovaria, apesar dela ter se apegado ao menino e mesmo sabendo que ele era bom, imaginou que Illyrion o veria apenas como ex-escravo. Indigno de sua filha primogênita.
    -Há claro. Como quiser. - O homem disse enquanto continuava a comer. A salada de frutas com mel parecia mais interessante do que a pergunta do menino. Pelo menos isso colocou um sorriso no rosto de Liryana, que olhou para Draco com timidez.
    Illyrion começava a ficar mais ambicioso em seus pedidos e investidas, Rhaerys sabia que aparecer como sua acompanhante em uma festa era algo grande, mas se rejeitasse, também seria uma grande ofensa.

    A noite, quando Rhaerys já estava em sua cama, usando um vestido fino de algodão e lendo um livro antes de dormir, escutou batidas em sua porta.
    -Minha rainha está acordada? - Ela reconheceu a voz de Illyrion. Era cedo o bastante para uma visita, mas isso não tranquilizou mais Rhaerys.
    -Estou. Pode entrar. - Ela puxou mais os lençóis antes que as portas se abrissem. - Alto Magíster. - Ela sorriu. - A que devo a visita?
    -Apenas achei que uma rainha merece um vestido digno dela. Assim como joias, mesmo que o seu brilho ofusque o delas. - Ele discursou enquanto entrava no quarto e deixava os presentes em cima de sua cômoda.
    -É um homem generoso. Não precisava se dar o trabalho de me entregar, poderia ter pedido a algum criado. - Ele se curvou ao ouvir isso. -Obrigada pelos presentes.
    -Eu que agradeço. - Ele se aproximou lentamente. -É uma honra ter a rainha dos sete reinos como acompanhante. - Ele se sentou na cama de Rhaerys, ao lado de onde ela estava deitada. -Não pense que isso também não será bom para você. Mostrará ao povo de Norvos que você tem o apoio do Alto Magíster.
    -Não me esquecerei do que fez por mim. Quando conquistar o trono de ferro, você será recompensado. Terá ouro o bastante.
    -A felicidade e vitória da minha rainha é a maior recompensa que eu poderia ganhar. - Illyrion pegou as maos de Rhaerys delicadamente e distribuiu dois beijos em cada uma. Já estava se acostumando em receber presentes dele, mas nunca visitas em seu quarto, principalmente de noite.
    -Alto Magíster, eu
    -Meu nome é Illyrion. - Ele a interrompeu gentilmente. -Essa também é sua casa agora, eu abri as portas dela a você. Não precisa ser tão formal comigo. - Ele beijou suas mãos outra vez, e agora começava a subir os beijos até os pulsos dela.
    -Eu só não quero... - Rhaerys se sobressaltou. Ela escutou uma badalada aguda e extremamente alta. Os sinos eram muito mais potentes quando se mora ao lado deles.
    -É apenas o sino Nyel. Eu estou aqui, manterei minha rainha segura. Não precisa ter medo. - Ele acariciou o braço de Rhaerys, e estendeu o carinho até o rosto dela. - Não precisa ter medo. - Antes que Rhaerys respondesse, ele se inclinou em sua direção e deu um rápido beijo em seus lábios. Rhaerys enrijesseu o corpo. Ela não queria ser beijada por ele. Ele não a queria, ele queria poder, Rhaerys era apenas um meio de conquistá-lo. Illyrion se inclinou outra vez, agora o beijo foi mais lento.
    Nyel é um dos três sinos de Norvos, irmão de Narrah e Noom. A Lua já estava alta no céu quando ele tocou... É claro... "hoje é um dia par"... Rhaerys pensou consigo. Em todos os dias de número par, quando a Lua está no ponto mais alto do céu, Nyel avisa ao povo que é permitido a hora do prazer.
    Illyrion já estava segurando o rosto de Rhaerys com uma mão, a outra estava na cintura dela, a deitando, para que Illyrion ficasse sobre ela.
    -Não! - Ela pôs as mãos no peitoral de Illyrion e o afastou. O homem parecia desconcertado. -Eu não me decidi e você disse que respeitaria a minha espera. Não vou me deitar com você, você não é meu marido. Eu tenho por você a estima digna de um anfitrião, nada além disso. - A rainha disse firmemente, se levantando da cama.
    -Claro. Me perdoe minha rainha. Não quis desonrá-la. - Ele se levantou da cama. -Eu sou seu Rhaerys. Você tem minha lealdade e meu coração. Pertenço a você, assim como minha casa e meus soldados. Poderá ter qualquer uma dessas coisas quando quiser, é só tomar. - Depois disso o Alto Magíster se retirou do quarto. Deixando uma Rhaerys inquieta.
    Rhaerys se deitou novamente, ela ficou se revirando na cama, tentando encontrar o sono. Ela não conseguia. Ela sabia que haveria consequências por rejeitar Illyrion desse jeito. Depois de hoje, não há dúvida de qual é a resposta de Rhaerys ao pedido de casamento. Ela ficou se remoendo com isso durante quase duas horas.
    A partir de hoje ela correria perigo assim como seu povo, ela precisava falar com Tigre Vermelho, eles precisavam sair da cidade. Ela poderia pedir para Draco falar com ele amanhã. Ela precisava resolver isso.
    Em um pulo, ela saiu da cama e começou uma caminhada silenciosa pelos corredores. Não poderia ser descoberta. Mas enquanto ela passou por um dos quartos, ela viu que uma porta não estava fechada, tinha uma fresta iluminada, e ela conseguia escutar vozes vindo de dentro. Um nome estava sendo pronunciado por uma voz quase... Ofegante. Ela ignorou e continuou andando, até que reconheceu o nome.
    -Rhaerys! - Depois disso, ela se assustou. Por fim, ela foi até a fresta. Ela reconheceu apenas uma das pessoas. - Rhaerys! Ah! - O homem se esforçava para falar entre seus próprios gritos abafados, sua voz estava rouca, embargada de prazer. Ele lutava para respirar. - Mais rápido. - Illyrion pôs as mãos na cintura da mulher que estava sentada de costas para ele, cavalgando em seu colo. Ele começou a guiar o ritmo com as mãos para ficar mais rápido.