No primeiro dia que aquele assunto virou o tópico da conversa, a enfermeira chegou a achar graça, já que quase parecia uma piada de tão absurdo. Mas, depois de três dias de Kyoko insistindo naquilo sem descanso toda vez que ela entrava no quarto da garota, a enfermeira começou a perder a paciência, mesmo que aos poucos.
— Você não pode voltar para casa, Kyoko — respondeu a mulher pelo que parecia ser a trigésima vez naquele dia.
— Qual é a diferença de ficar deitada aqui ou em casa? — continuou a mais nova, quase que parecendo satisfeita por notar leves indícios de irritação naquela que estava responsável por seus cuidados.
— Te faço a mesma pergunta.
— Conforto!
— Você mora sozinha — lembrou a mulher, orgulhosa de si mesma por ter entregado o copo com água para Kyoko ignorando sua vontade de jogar o líquido na sua expressão determinada — Quem vai passar a pomada nas suas costas e te lembra de tomar os medicamentos?
— Posso fazer um clone e minha memória é ótima.
Depois de mais vinte e sete tentativas entre aquele dia e o seguinte, Kyoko conseguiu a liberação do hospital.
Sua recuperação não estava completa ainda, mas naquela etapa não fazia muita diferença estar confinada em casa ou no hospital. Por causa das fraturas e dos ferimentos recém cicatrizados, ela estava proibida de fazer qualquer esforço físico, qualquer forma de treino estava fora de questão, tanto que qualquer ninja da vila tinha permissão de neutralizar a garota caso a visse desobedecendo aquela condição. Pelos próximos dias, ela precisava do máximo de repouso para garantir um retorno rápido para suas obrigações diárias e ela planejava seguir suas ordens à risca para não ficar parada mais tempo que o necessário.
Só que primeiro ela tinha que tirar algo a limpo.
Kyoko passou em casa apenas para deixar a sacola com os medicamentos e voltou às ruas à procura do ninja grisalho. O motivo de ela estar tão brava com ele, Kyoko que não sabia e tentava não pensar nisso. Ele não era obrigado a visitá-la, mas, depois de ter até dormido no hospital por simples preocupação, ter parado de passar por lá depois de ela acordar era algo extremamente irritante. Deveria ter uma explicação para aquilo, certo? Kakashi não era o tipo de pessoa que fazia algo sem motivos.
Por não poder rastrear seu chakra, Kyoko demorou muito mais do que estava acostumada para localizar o garoto, o encontrando sentado em um banco em uma das praças da vila, lendo um dos livros que ela tinha certeza de que fora escrito por Jiraya.
Mesmo sem saber direito como abordaria o assunto, a garota planejava parecer o mais natural possível.
— Por que você parou de me visitar no hospital? — soltou ela de primeira, bufando internamente. Não conseguira manter seu plano nem por dois segundos.
Kakashi desviou os olhos do livro e a fitou curioso.
— Quando você recebeu alta?
— Eu fugi — resmungou ela, cínica. Era difícil dizer se Kakashi tinha entendido a ironia. De qualquer forma, ele parecia desconfortável — Meia hora atrás. Agora responda minha pergunta.
— Você devia estar descansando, Kyoko.
— Tenho o resto da vida para descansar — ela logo o cortou, parando poucos passos a sua frente, com os braços cruzados em frente ao corpo — Agora quero saber por que você parou de ir me ver depois que eu acordei.
— Eu fui apenas no hospital te levar no primeiro dia, Kyoko — foi o que o garoto respondeu, seu olhar nunca parando no rosto a sua frente sendo o suficiente para indicar que não estava sendo completamente sincero, o que apenas irritou ainda mais a kunoichi — Não sei o que você está inventando, mas...
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NINGEN
Adventure"Alguns admitem o trauma e tentam atenuá-lo; alguns passam a vida tentando ajudar outras pessoas que foram traumatizadas; e há aqueles cuja principal preocupação é evitar sofrer mais traumas, a qualquer custo. E estes é que são cruéis, é deles que t...