Foi um erro te conhecer.
Ella
Assim que termino de me arrumar, desço com minha mochila para a sala de refeições. Meu pai segura um jornal em sua mão direita, enquanto a outra é ocupada por uma xícara. Ele olha pra mim.
— Bom dia! Meu anjo. E o meu beijo? — Me aproximo e deixo um beijo em sua bochecha. E também em minha mãe.
Sento na mesa, deixo a mochila no chão ao meu lado, e me sirvo um copo com suco de goiaba.
Meus pais conversam sobre algo aleatório. Aproveito que estão distraídos, e uso isso como um pretexto para pensar no último sábado. E também não posso esquecer de mostrar que o meu semblante está bem. Sei que se eles me olharem por dois minutos, de cara vão perceber que estou um lixo. E isso vai desenvolver um falatório. E como conversar cedo me dar uma preguiça, então comemoro que nem me enxerguem aqui.
Ainda não engoli a forma como o Caian terminou comigo, não tem sentido pra isso. Sinto aqui dentro que o motivo é outro. É uma intuição, e ela não falha. Se ele me falasse qual a razão verdadeira, talvez evitaria que eu pensasse mal dele. Que raiva estou dele. Estou com raiva e magoada. Desde aquele dia, penso como seria se não tivesse conhecido ele. Argh!
— O que foi minha filha? — mamãe pergunta. — Parece estar desanimada — minha expressão não atuou tão bem.
Quando cheguei em casa sábado, corri para o meu quarto e me tranquei. Queria ter desabafado com meus pais sobre o acontecido. Mas como eu explicaria a eles que estava namorando há quase quatro meses? Eu nem se quer havia comentado nada sobre isso. Desde o dia que conheci e o tempo de namoro, foram cerca de quase oito meses. Todo esse tempo ocultei isso dos meus pais. Talvez tenha sido por isso que não tenha dado certo. E eu ainda menti pra eles, dizendo que não tinha acontecido nada. Fui tão convincente que eles acreditaram.
Esse tempo todo fui burra em acreditar de que um dia ele viria aqui conhecer a minha família. Ele sempre me falou que era tímido para essas coisas, e eu acreditei. Até sobre colocar relacionamento sério nas redes sociais, ele evitava falar. Eu acho que...
— Ella — meus pensamentos são colocados de lado, assim que escuto a voz de minha mãe.
— Am...
— Você não respondeu.
Estava tão concentrada em meus pensamentos, que eu nem abrir a boca pra dizer algo.
— É... o que foi que a senhora me perguntou?
Meus pais se entreolham.
— Você está assim por que hoje é o seu primeiro dia de aula?
Para mim realmente é o primeiro dia de aula, mas para outros não. É tão sem graça entrar na escola depois que as aulas já se iniciaram. Principalmente em uma escola que você não conhece ninguém. Até hoje me pergunto, por que meus pais me tiraram da minha antiga escola. Lá eu conhecia tudo. Tinha meus amigos, alguns professores preferidos. Eu tinha uma vida lá. Fiquei mal no início, até briguei com eles. Mas sem sucesso.
— Não, mamãe. Já me conformei com a decisão de vocês. — Tomo um pouco do meu suco.
— Eu e seu pai iremos te levar. — Ela sorri animada.
— Não precisa, o Mathias me leva. — Me levanto, já pegando minha mochila.
Me despeço dos meus pais.
(...)
Depois de quase vinte minutos, chegamos no meu destino. Agora tenho que lidar com meu nervosismo, de primeiro dia de aula em uma outra escola.
Assim que piso no gramado, meu coração gela. A última vez que senti esta sensação, eu tinha seis anos. Por toda a minha idade, eu estudei em uma única escola. E agora já no fim, eu simplesmente mudo. Isso me pegou de surpresa, foi uma onda de raiva. Meus pais tomaram esta decisão, simplesmente do nada.
Fiquei tão triste, que tive até febre. Quando dei a notícia as minhas amigas, elas sofreram junto comigo. Margô mesmo, sofreu o dobro.
Vou sentir muita falta delas. Principalmente de Margô, ela foi a minha primeira amiga. Estudamos juntas desde pequenas. E agora estou em uma escola sem ela. Ah, que angústia. Queria sair daqui e voltar para minha escola.
Tem muita gente aqui, e eles conversam super alto. Cada passo que dou, é um batimento mais rápido. Fico passando minha mão pela testa, na intensão de aliviar o meu nervosismo. Algumas pessoas me olham, mas logo desviam o olhar.
Continuo andando com a cabeça um pouco baixa. Chego em uma escada, e começo a escalação. Chego em um novo corredor, ele está mais cheio do que o outro. O que é pior para mim. Esse lugar está me deixando tímida.
Vejo alguns grupos de adolescentes. Nessas horas, eu nem sei como é que se movimentam as pernas. Estou passando por eles, e cada passo é um tipo diferente de reação em mim. Abro minha bolsa, e procuro o papel em que está escrito onde será a minha primeira aula. Com isso, vou aproveitar que estou focada em minha mochila, e assim nem olho para quem está me olhando.
Quando me dou conta, eu tropeço no meu próprio pé. Caio com tudo no chão. Levanto no mesmo instante, e tento fingir que nada aconteceu. Mas assim que olho para os lados, a vergonha me consome. Pares de olhos pesam sobre mim. Já não bastava ser novata e ainda tive que passar por esta humilhação.
Tenho nem força para andar, minhas pernas travaram. Meu coração está mais acelerado que roda de carro em movimento. Ouço gargalhadas e murmúrios. Misericórdia! Foi só uma quedinha.
Olho para o meu lado oposto, e vejo um grupo de oito pessoas travarem os olhos em mim. Risadas escandalosas vem deles, como se dependessem disso para sobreviver. Eles riem na mesma sintonia, parece um tipo de código. Que esquisito. Todos estão rindo e direcionando o dedo em minha direção. Qual o problema? Eles nunca viram alguém cair antes? Deve ser que aqui é proibido isso, e talvez eu tenha esquecido de ler isso na minha inscrição. Fecho minha mochila, esqueci o que ia fazer.
Tento tirar minhas pernas do chão e sair daqui o mais rápido que consigo. Mas uma voz calma masculina, me fez olhar novamente para o grupo de amigos que relinchavam até agora. É de uma rapaz, que está sentado no centro da roda. Ele me olha com seus lábios encurvados. E três meninas que estão fazendo pose ao seu lado, ainda continuam rindo feito hienas.
— Meninas... não riam dela por ter caído. Isso não é tão vergonhoso, quanto este lenço em seu pescoço.
Ele simplesmente debochou do meu lenço. Já foi vergonhoso o suficiente de ter caído no chão, e agora esse menino zomba do meu lenço? Automaticamente não gostei dele.
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Espero que tenham gostado deste capítulo. Fiquem com Deus. Beijos 😘
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Uma Única Verdade
Teen FictionUm romance clichê. ❤️ Para controlar o filho rebelde e presunçoso, seu pai decide recrutar todas as suas mordomias, incluindo a moto. E, para Nickolas ter tudo de volta, o pai propõe que ele namore, para assim, o mimado ser que nem os filhos de todo...