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Você me faz dar a volta no mundo,
sem sair do lugar.

Ella

Antes que ele fale qualquer coisa, suas sobrancelhas se levantam e seu rosto começa a ficar vermelho. Ele respira ofegante, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Jogo meu corpo a frente, minha visão completamente decidida a ele.

— Ela é a Paola — finalmente ele diz, dessa vez seus olhos vacilam. Vejo a garota trazer dois sucos em uma bandeja. Ela para no caminho, conversando com uma mulher de baixa estatura. — Pra ser específico, é a garota que achei que tivesse... — ele aperta os olhos, e ar fundo ele solta. — ... transado.

Viro-me, meus ossos estalando no desespero para olhá-la. Tem uma garota magra, cabelo longo liso e preto, da minha altura e fisicamente muito jovem. Muito jovem. Cenas e mais cenas passando simultaneamente como uma desordem. Nickolas ter ido embora, o meu eu sentido a sua ausência... e essa garota a que fez nós dois nos separarmos.

— Que horror! — lembro da garota que ele disse, não imaginava que ela fosse assim. Criança? Minhas mãos estão se apertando, uma ação involuntária. — Nickolas Henzo...

— Eu precisava te trazer aqui. Não quero mal entendido com você. — Segura minha mão apertada e alisa, desfazendo o aperto com seu carinho. — Ela é filha de Martin, irmã de Gael... Foi apenas uma confusão.

— Nickolas, eu acredito em você. Está tudo bem. Eu só estranhei que ela é uma criança. Ou, um pouco criança. — Olho de novo em volta, a garota se aproxima com sua bandeja. — Vamos esquecer este assunto. Por favor.

— Desculpe.

Eu não quero prolongar este assunto, se já foi esclarecido há dois dias. E também, não vou dizer a Nickolas que isso me deu um pequeno incomodo. É como se todas as lembranças de dois meses viessem a tona, me fazendo recordar amargamente do silêncio que lutou pela resposta que não teve. E falar sobre, eu não quero.

A garota deixa a bandeja com os sucos e eu disperso os pensamentos, agradecendo-a. Me reconforto na cadeira.

— Papa instalou uma sinuca no fundo e colocou caixas de som — ela avisa Nickolas. Ele para de me encarar e sobe os olhos.

— Acredito que você tenha sido a primeira. — Cruza os braços na altura do peito, me olha e sorrir brevemente.

— Com certeza. Sou a melhor.

— Talvez.

Acho que nunca comi tanto como hoje. Margarida limpa a mesa e deixa como sobremesa um tipo de doce, não sei o que é. Gael leva sua tartaruga, depois de passar o tempo todo com a gente. Confesso que estou ótima, animada, e bem por está aqui. Diferente da minha realidade. Até jogar sinuca eu fui convocada.

As pessoas desse lugar são acolhedoras. Conheci alguns parentes e vizinhos da família Braga. Sérgio, o filho mais velho de Martin e Margarida, é um antigo "amigo" de Nickolas — quando crianças. Ele está estudando medicina, como o meu primo Adam. Mas sua especialidade é cozinhar.

Deixo meus braços sobre a mesa e olho em volta, Margarida e Martin sorridentes com Gael que joga um tipo de pasta branca no ar, não consigo identificar daqui. Nickolas está sorrindo, observando eles.

— Você tem alguma meta? — pergunto e seus olhos, rápidos como um flash, encontram os meus.

Pego o celular. Mensagens de papai e muitas ligações perdidas. "Filha, cadê você?", "Liga para o papai. Você saiu da escola ?", "O que aconteceu?", "Está bem?". Respondo que estou com Nickolas, e que estou mais que bem.

Uma Única VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora