Alice

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Há alguns dias, eu estava fazendo mais um de meus desenhos quando algo bateu na janela de cima da minha mesa — janela de planetário, como costumo dizer. Aquilo não me surpreendeu, já que sempre há folhas caindo da velha laranjeira do meu jardim, então não dei atenção. Agora, parecia que as folhas estava tentando chamar minha atenção. Bateu três vezes, como se fosse um humano querendo ser atendido na fila de ingressos no cinema.

" Fomos ao cinema para assistir A Bela e a Fera, o filme que Julieta estava tão animada para assistir. Me contive para não rir quando meu pai estava comprando os ingressos e Julieta estava rodopiando ao lado.

O atendente estava distraído ligando para quem quer que seja, o assunto parece estar fluindo tão bem quanto a corrupção no Distrito Federal. Escutei três batidas no vidro, nítidas, e quando olhei, com o susto, meu pai estava batendo seus dedos com as unhas mastigadas no vidro no balcão.

- Bom dia, senhor. Quer assistir a qual filme nessa noite? - Disse o atendente, como se estivesse realmente de bom humor. Sua expressão, no entanto, não era nada amigável.

- ‎A Bela e a Fera, três ingressos, por favor. - Respondeu meu pai, com a mesma expressão do atendente. Sério e carrancudo. "

Quando olhei, com o susto, estava lá; um gato preto listrado de cinza estava na minha janela, com sua patinha no vidro, tentando chamar a minha atenção. Aquilo me parecia estranho, nenhum de meus vizinhos tinha um gato desses, Dona Amélia era alérgica a gatos.

- Olá, bichano. - O cumprimentei. Temos que ser educados.

Minutos depois, minha atenção já não estava mais no gato estranho, e sim nos meus desenhos que eu tanto amava. Minhas gavetas e paredes estavam cheio de desenhos como esse.

Três batidas novamente. O que aquele gato queria? Peixe! Ele deve estar com fome. Fiz um desenho tosco de um peixe com olhos esbugalhados em uma frigideira, como se ele fosse entender o mero desenho, e mostrei a ele. Como resposta, ele sorriu para mim. Não foi um sorriso de canto dos lábios e muito menos o simbólico de sorrir com os olhos, ele literalmente sorriu para mim. Mostrou seus dentes em um sorriso aberto e depois desapareceu. Naquele ponto eu já havia caído da cadeira e em outro eu já estava acordada. Foi apenas um sonho.

Eu acordei eufórica com Rupert encima de mim fungando em minha orelha, tentando me acordar. O som da minha respiração e do meu coração palpitante foi quebrado com o alarme de incêndio. O que estava havendo? Tirei as cobertas de cima de mim e peguei Rupert no colo, tenho que proteger minha bola de pelos do que quer que seja. Não houve tempo para pensar, desci as escadas diretamente para cozinha ver o que estava acontecendo. Era exatamente essa a cena que eu esperava; minha mãe usando o forno. Revirei os olhos enquanto ela deu um meio sorriso, nervosa.

— O que faz acordada a esta hora? — Gritou, praticamente.

— Por que você está fazendo bolo de cenoura às quatro da manhã? — Um sorriso sarcástico brotou em meus lábios.

— ‎Estou sem sono.. - Fez uma pausa, abaixando a cabeça. — Mas não te devo satisfação. Vá para o seu quarto, está cedo demais. E largue este animal!

— ‎Posso até voltar a dormir, mas Rupert vai comigo. E ele não é um animal! — Disse, no mesmo tom.

Quando o vi pela primeira vez foi no Natal, ele estava em uma caixa grande e preta com um laço de fita vermelho embaixo da árvore. Ele era apenas um filhote porém muito esperto. De cara eu escolhi um nome a ele e o tirei daquela caixa. Ele pareceu piscar para mim quando o peguei no colo, como se soubesse que seríamos amigos íntimos. Tem olhos vermelhos como a lua de sangue e, eventualmente, dorme debaixo da minha cama.

Subi para o meu quarto e tentei insistentemente dormir novamente, sem sucesso. Meus pensamentos estavam voltados ao estranho sonho.

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