Namorada de Mentirinha

Hora extra

O dia estava ensolarado, não fazia frio apesar de o relógio em sua mesa marcar oito e cinquenta e cinco. Utahime estava tranquila analisando alguns e-mails, faltavam cinco minutos para sua paz acabar e ela os aproveitava com sabedoria, afinal era seu momento mais produtivo do dia. Seu primeiro copo de café estava vazio e a energia proporcionada pela cafeína era visível pela forma ágil que seus dedos digitavam. Alguns post-its estavam colados no monitor a sua frente, neles continham prazos longos então ela não pensava em dar muita atenção. Mirando mais uma vez o relógio notou que lhe restava apenas um minuto, suspirou mirando a porta do elevador, esperando o momento em que ela se abriria e seu pesadelo surgisse com um terno caro e o celular em mãos.

Dito e feito, a porta se abriu e uma figura alta e bem trajada saiu pisando o chão claro com seus sapatos caros. A mulher tentou ignorá-lo, entretanto não foi possível pois ele se dirigiu até seu balcão, apoiando os braços de forma despojada e trazendo consigo um cheiro forte de perfume. O estômago dela chegou a revirar, porém forçou um sorriso sem mostrar os dentes e permaneceu na espera que ele falasse.

― Bom dia! Pronta para fazer uma hora extra nessa linda sexta-feira? ― Gojo sorriu e Utahime apertou fortemente o tecido de seu vestido, ele havia acabado com seu bom humor matinal, como sempre.

― Espero que seja uma piada, senhor.

― Quem dera minha querida, infelizmente é a nossa realidade. ― Disse enquanto caminhava de costas até a porta de sua sala. ― Eu meio que deixei alguns processos de lado, e agora vamos precisar preenche-los o mais rápido possível. ― Novamente ele sorriu e entrou em sua sala.

A secretária ficou alguns segundos olhando para o teclado em sua frente, juntando todas as forças que tinha para não bater compulsivamente com sua cadeira nas costas de seu chefe. Não era a primeira, nem a segunda, nem sequer a oitava vez que Gojo se atrasava com seus afazeres e acabava por comprometer seu fim de expediente. Hora extra significava que chegaria cansada em casa, sem ânimo nem mesmo para lavar suas roupas ou cozinhar. Nanami jamais concordou com algo assim, sempre foi um chefe compreensível, mas agora ele estava de férias. Só havia uma cabeça mandando ali e era sem dúvidas a cabeça mais oca que já conhecera.

Seu horário de almoço foi com a bela companhia de um processo enorme iniciado por uma grande empresa que Gojo auxiliava. Páginas e mais páginas de palavras difíceis, uma grande acusação de desvio de dinheiro. Analisando bem o caso Utahime percebia que as pessoas conseguiam ser enganadas de formas ridículas, o processo poderia ser bem reduzido caso alguém percebesse antes o que estava acontecendo. Como uma empresa com tantos funcionários conseguiu ser roubada por um ano inteiro, que tamanha burrice seria essa? Bom, não importava, um processo desses gerava bons lucros, mas de contraponto exigia o dobro de tempo e trabalho.

Enquanto retornava para o escritório notou que o carro de seu chefe ainda estava no estacionamento, o que era um tanto quanto raro já que seu horário de almoço lhe dava a possibilidade de ir para casa e descansar com direito a um bom cochilo. Sentando-se novamente em sua mesa percebeu que a porta da sala dele permanecia fechada, demonstrando que não havia saído para seu intervalo, o que era raríssimo e certamente significava que estava afundado em trabalho. A mulher fez um sinal em negativa e caminhou até a máquina de café. Seria um dia mais longo do que planejara.

Após muitas horas de trabalho sem tempo para descansos como costumava fazer fingindo arrumar papéis avulsos ou assistindo série no banheiro do escritório, finalmente chegava ao fim de seu expediente, então agora iniciava-se a pior parte do dia: a hora extra. Utahime foi ao banheiro para descansar um pouco, se alongou e lavou rosto buscando um pouco de motivação depois de ter visto sua caixa de e-mail se encher de documentos para revisão. Mal se aproximava de sua mesa quando foi chamada, olhou surpresa para a figura encostada na parede.