Em uma sexta, em um bar

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A semana finalmente havia chegado ao fim, depois de trabalharem muito mais que o comum nos últimos três dias, Yoshinobu partiria sábado pela manhã e isso definitivamente alegrou todos no escritório, sempre que Iori ia buscar um café podia ouvir um grupinho reunido para falar mal dele, algumas vezes ela se juntava para contribuir com as reclamações.

Havia recebido um convite de Mei para dormir em sua casa, mas ela sugeriu que sua amiga convidasse Nanami, quando chegou em casa a única coisa que fez foi deslizar para debaixo das cobertas e acreditava que só sairia dali para tomar um banho e jantar. Depois de ficar quase duas horas assistindo um reality de casamento, a jovem começou a se questionar se realmente havia feito a escolha certa, talvez tirar uma noite para aproveitar fosse exatamente o que ela precisava. Queria esquecer seu trabalho, Gojo e as demais preocupações que passavam por sua cabeça.

Em questão de uma hora depois Utahime já estava pronta, um banho relaxante e uma roupa bonita foi o necessário para fazê-la se sentir renovada, o único problema era que agora ela estava no estacionamento perto de um bar repensando se teria disposição para ficar mais de vinte minutos naquele ambiente.

O lugar continha um letreiro grande e iluminado, mas por dentro a luz era baixa e havia um cheiro de nicotina, perfume masculino e cerveja que a fazia ter certeza de que ali não era um lugar com a sua cara. Alguns caras riam alto em uma mesa, outros davam em cima de algumas mulheres que estavam jogando sinuca, tudo isso ao som do que ela tinha quase certeza de que era Kiss, mas que definitivamente não fazia ideia da letra.

Sentou-se em frente ao bar e pediu por uma cerveja, não era seu tipo de bebida predileta, mas pensou que fosse a única bebida fraca vendida ali. O barman olhou com certa desconfiança antes de tentar puxar assunto.

― Está esperando alguém? ― Perguntou.

― Na verdade não, quis aproveitar a noite sozinha.

― Aqui?

― Foi o primeiro bar que vi.

Iori sabia que estava escrito na sua testa que aquele não era seu tipo de lugar, mas não deixaria isso estragar sua noite, tentaria aproveitar o máximo do ambiente, na verdade ela já estava até começando a gostar do som e de alguns trechos de conversas que ouviu.

Foi em questão de meia hora depois que as coisas começaram a ficar entediantes para Iori, estava dando um fora no terceiro cara que vinha lhe encher o saco numa tentativa falha de flerte enquanto olhava o horário em seu celular e se questionava se não era um bom momento para procurar outro estabelecimento. Talvez chamar alguém para sair pudesse ter sido uma escolha melhor, mas tinha certeza de que todos já deviam estar ocupados.

― Imagino que eu não seja o primeiro me sentando aqui para puxar assunto. ― Aquela voz a despertou de imediato, quais as chances de ele encontrá-la em um bar aleatório em plena sexta-feira?

― De fato, você não é nem o segundo. ― Não sabia o que sentir diante daquela situação, ao mesmo tempo que ia ao contrário do que programara, pelo menos estava impedindo que mais caras desagradáveis se aproximassem.

― Deve ser triste ser uma mulher bonita em um bar, você não tem muita paz. ― Apesar do tom de piada, ele parecia estar tenso, como se estivesse tentando cruzar uma barreira entre os dois.

― Acontece, mas já estava quase indo embora.

― E não seria possível eu te acompanhar?

― Não tenho nenhuma objeção quanto a isso.

Gojo sorriu, como se agora soubesse que a barreira havia sido desativada, poderia conversar como antes com Iori. Quando a viu sendo distante no escritório pensou em diversas coisas, acreditou que talvez ela estivesse arrependida pela noite que passaram juntos ou até que não quisesse misturar as coisas e para reafirmar isso decidia ser mais severa.

Após saírem do bar eles decidiram por dar uma volta pelos quarteirões, as luzes dos estabelecimentos os guiava e além do som de seus passos ouviam o movimento de uma cidade no iniciar de um final de semana. Iori agradecia por não ter colocado saltos, mas se arrependera de não ter levado consigo nenhum casaco, um vento insistia em fazer com que os pelos de seu braço se arrepiassem.

― Então, como foi parar naquele bar? ― Perguntou ela.

― Gosto de beber e o bar estava aberto, não há muito o que pensar. ― Satoru fez uma pausa e a encarou. ― Mas você, você sim não parece gostar de lugares assim.

― Está dizendo que não gosto de me divertir e beber?

― Não me diga que dar fora em desconhecidos enquanto bebe solitária é algo que possa ser chamado de diversão.

Iori negou com a cabeça enquanto riam.

― Ok, me pegou. Não estava sendo divertido, saí de casa porque queria espairecer e aproveitar minha própria companhia, mas acabou não dando muito certo.

― É uma pena, mas agradeço por você ter saído, assim pude te encontrar.

― Se queria conversar comigo poderia ter mandado uma mensagem.

― Pensei nisso, no entanto você não parecia estar buscando conversa comigo nos últimos dias.

Seus passos cessaram, Iori encostou o corpo em uma parede de tijolos decorativos que compunham a fachada de uma loja enquanto Satoru estava apoiado em uma placa de trânsito aguardando sua resposta.

― Desculpe, só acho que...

― Está arrependida? ― Interrompeu ele.

― Não, quer dizer, sendo totalmente sincera... ― Puxou o ar frio para dentro de seus pulmões e o soltou rapidamente antes de prosseguir. ― Não quero ficar com fama de "mais uma funcionária que o Satoru levou pra cama". ― Gojo insinuou protestar, mas Iori o impediu prosseguindo sua fala. ― E não diga que essa fama não existe, aquele velho mesmo falou sobre, todos nós sabemos que você gosta de se envolver com diversas mulheres, definitivamente não estou disposta a ser taxada como mais uma e correr o risco de que isso atrapalhe meu emprego.

― Posso falar? ― Perguntou ele com um sorriso gentil e Utahime concordou. ― Primeiro, ninguém além de Nanami e sua amiga sabem do que aconteceu, acredite ou não eu não saio exibindo pessoas como um prêmio conquistado. Segundo, eu sei que tenho uma fama "ruim", não ligo para ela, mas não deixo que atinja as pessoas com quem me envolvo. Terceiro, sei o quanto se dedica a esse emprego, estou deixando claro que se há alguma ex funcionária com quem me envolvi, pode ter total certeza de que a demissão não foi devido a nada disso. Eu jamais atrapalharia seu emprego.

A forma como Gojo se explicava mesmo que não precisasse dar satisfação nenhuma mostrava que, de fato, ele se importava com o que Iori pensava sobre ele, sua disposição para explicar e desmanchar qualquer receio dela fez com que os pensamentos ruins que haviam perambulado por sua cabeça desaparecessem.

― Fui desconfiada, me desculpa.

Satoru caminhou até ela, posicionando uma mão um pouco acima de sua cabeça e a outra segurou o queixo delicado.

― Eu entendo, você não precisa se desculpar, só estava tentando se proteger.

Foi inevitável para os dois permitir a aproximação dos corpos, ainda que soubessem que prosseguir não era a melhor opção, quando Iori enroscou suas mãos nos fios brancos, Gojo se deixou curvar para beijá-la. Não havia mais sensação de frio no corpo dela, o calor dele criara para os dois uma redoma, isolando-os da realidade, como se fossem meros conhecidos, como se não precisassem vestir uma máscara profissional na segunda-feira. Eram apenas dois adultos que estavam muito interessados um no outro, trocando carícias como adolescentes em uma rua qualquer da cidade. 

Namorada de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora