Namorada de Mentirinha

Visita indesejada

Iori moveu o corpo de olhos ainda fechados, a preguiça que a consumia implorava por mais alguns minutos deitada. Entretanto, após passar as mãos pela cama e sentir o corpo adormecido ao seu lado sentou-se de forma ligeira. Não estava em casa, havia caído no sono na cama de seu chefe, que por sinal não parecia nem um pouco perto de despertar.

Procurando por algum dispositivo que mostrasse as horas ela acabou por encontrar o celular de Satoru, faltavam cinco minutos para às oito e já se lamentava pois sabia que era impossível conseguir comparecer no escritório em cinco minutos. O celular mostrava que haviam duas chamadas perdidas de Nanami, certamente fora uma tentativa de impedir o atraso. Sem muito tempo, Iori sacudiu o corpo ao seu lado até que Gojo emitisse resmungos.

― O que foi? ― Sua voz era rouca e baixa.

― Estamos atrasados e eu estou sem meu carro. ― Falava enquanto procurava por suas roupas pelo chão do quarto. ― Nanami ligou para você, acho bom ligar de volta.

― Relaxa, do que você precisa? Quer uma manhã de folga?

― Claro que não, vou chamar um táxi e tentar chegar em pelo menos meia hora.

Iori não percebeu quando Satoru saiu de sua cama para ir até ela, apenas notou que ele havia se movido quando sentiu seu corpo sendo abraçado e, suavemente, o queixo dele pousou em seu ombro.

― Fica calma, ele sabe onde você está. ― Disse e logo após depositou um beijo no pescoço pálido.

― Isso não justifica, tenho certeza de que ele já está lá trabalhando!

Após se desvencilhar do abraço, Utahime partiu até o banheiro para que pudesse colocar sua roupa o mais rápido possível e, com os dedos, tentou pentear o máximo que conseguia do longo cabelo, percebia que precisaria gastar mais tempo no banho lavando-o.

― É que o Kento não sabe aproveitar, ele poderia passar o dia com a sua amiga que ninguém jamais iria questionar a ausência dele. Essa é a vantagem de ser o chefe, você faz o que quiser quando bem entender.

― E é exatamente assim que pessoas vão à falência. ― Respondeu após cuspir na pia o creme dental que havia usado para escovar os dentes de forma improvisada.

Ignorando a resposta de sua estagiária, Gojo pegou o celular e discou o número do amigo, não demorou até a voz irritada do outro lado começar a falar. Iori que já buscava por seus calçados na sala de estar, ouvia certas partes da conversa.

― Você só pode estar de brincadeira. ― Falava ele. ― Justo hoje? ― E então aguardava a resposta do outro lado. ― Ok, em uma hora tô aí, que velho filha da puta, sempre consegue chegar na pior hora.

Iori não entendia sobre quem estavam conversando, mas não precisava raciocinar muito para perceber que o homem sentado na cama estava irritado com a situação, e, assim que desligou o celular andou até uma porta que ela supôs ser seu closet.

― Está tudo bem? ― Perguntou ela da forma mais calma possível.

― Não, mudanças de planos. ― Colocou uma camisa e uma calça em cima da cama para então prosseguir. ― Yoshinobu está na cidade, e óbvio que ele quer se meter no nosso trabalho.

― Desculpe, quem? ― A jovem não fazia ideia de quem se tratava.

― Resumidamente é o diabo em pessoa, um velho intrometido que um dia chamei de chefe e que, por algum motivo, Nanami ainda escuta os conselhos.

Depois de contar o breve resumo do motivo de ambos terem que ir para o trabalho, Satoru foi tomar banho e Iori chamou um táxi para poder ir para a casa.

Faltando poucos minutos para as nove da manhã ela chegou em seu emprego, sabia o quão suspeito iria parecer quando vissem que Satoru logo compareceria, no entanto tentou entrar de forma mais discreta que conseguiu e logo foi até a sala de seu outro chefe para se desculpar pelo ocorrido. Quando terminou de dar três batidas na porta pode ouvir a voz de dentro da sala permitindo sua entrada.

― Bom dia, vim só pedir desculpas pelo atraso. ― Seu rosto estava focado na mesa de Kento para não precisar encarar seus olhos.

― Entendo os motivos, só quero que saiba que isso não é algo que possa ficar se repetindo. ― Iori acenou com a cabeça e se despediu, mas antes que cruzasse a porta ele completou. ― E por favor, se ele fizer qualquer gracinha hoje o interrompa imediatamente, precisaremos ser mais profissionais que o normal até o fim da semana.

Começou então a fazer suas atividades diárias, lendo e respondendo e-mails, anotando compromissos e atendendo algumas ligações. Apesar de Nanami ter sido muito compreensível a frase dita por ele ainda permanecia rondando sua cabeça, "isso não é algo que possa ficar se repetindo". Não sabia se era devaneio seu, mas parecia conter um fundo de duplo sentido no que ouvira, algo dentro dela dizia que ele não se referia apenas ao atraso, mas também ao ocorrido da noite anterior. De imediato sentiu receio de que talvez estivesse comprometendo seu emprego, seria melhor então não repetir a dose?

Viu Satoru chegando com uma cara de alívio e, assim que ele a enxergou, caminhou até o balcão.

― Nenhum idoso mal-humorado entrou por aqui ainda, né? ― Disse sorrindo.

― Não, ninguém diferente por aqui.

― Bom, sinal que deu tudo certo então. ― Lançou uma piscadela para Iori e virou-se me direção a sua sala.

Aproveitando que não estava tão ocupada, Iori retirou o celular de sua bolsa para conferir suas mensagens, sem causar surpresa alguma viu que Mei a enviara algumas coisas a poucos minutos, com certeza ela havia acabado de acordar.

[08/15, 10:00 AM] Mei <3: QUE HOMEM! QUE HOMEM! QUE HOMEM!

[08/15, 10:00 AM] Mei <3: COMO NUNCA ESBARREI NELE ANTES? VOCÊ NÃO TEM IDEIA DO QUE FOI A MINHA NOITE

[08/15, 10:01 AM] Mei <3: Ele teve que sair tão cedo, não consegui me despedir direito :(

EU JURO QUE NÃO QUERIA DIZER ISSO MAS...

QUE NOITE MARAVILHOSA

[08/15, 10:07 AM] Mei <3: Que inveja de você que pode admirar esses gostosos todos os dias

[08/15, 10:07 AM] Mei <3: Como você aguenta?

Meu salário é o que me impede de ficar babando neles

[08/15, 10:10 AM] Mei <3: NELE, APENAS NELE. O LOIRO GOSTOSO É MEU

Justo, me conformo com apenas um

Enquanto se distraía com as mensagens, Iori viu que um homem acabara de entrar no local, ele parecia ter por volta dos setenta anos, caminhava com a ajuda de uma bengala e vestia um terno. Viu que alguns de seus colegas de trabalho foram o receber, notou então que esse se tratava de Yoshinobu, o homem que seus chefes estavam esperando. Pensou em ir recebê-lo ou de pelo menos avisar Nanami e Gojo que ele havia chego, no entanto, o senhor já andava em sua direção.

― Bom dia, você é...? ― Sua voz parecia de alguém que certamente passou um tempo da vida envolvido com fumo.

― Bom dia, me chamo Iori. Sou a nova estagiária. ―Sorriu amigavelmente.

― O que aconteceu com a outra? Já foi demitida?

Iori não gostou muito da forma como o senhor fazia as perguntas, parecia um tanto quanto rude.

― Eu não tenho ideia, senhor. ― Tentou manter o sorriso.

― E os preguiçosos dos seus chefes? Tem ideia de onde estão?

Começava a entender o porquê de Satoru parecer tão irritado ao receber a notícia de que seriam agraciados com uma visita.

― Eles estão em suas salas, são as duas primeiras do corredor.

Em um delicado gesto ela apontou para o local mais à direita da recepção. Sem receber um obrigado ou quaisquer outras palavras, o senhor apenas caminhou até as salas, adentrando primeiro a de Satoru, a qual ele nem se deu ao trabalho de bater. E, como um pai invadindo o quarto dos filhos, ele entrou.