O início do apego

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Após um final de semana intenso, Iori terminava de arrumar sua bolsa para iniciar mais uma semana de trabalho. Passou praticamente o sábado inteiro na casa de Satoru, no fim das contas foi melhor do que poderia planejar. Assistiram a uma comédia romântica genérica e, enquanto criticavam todos os personagens e se entupiam de pipoca, pode finalmente ter um momento com Gojo, algumas horas sem nada sexual, apenas risadas e carinhos. Poderia até dizer que foi difícil se despedir no fim da tarde, ele mesmo pediu para que ela passasse o final de semana todo ao seu lado, mas Iori precisava iniciar o trabalho da faculdade.

Seu humor estava ótimo, como em um filme de princesa, tudo a sua volta parecia encantador, o dia estava bonito, o transito calmo e de alguma forma ela sentia-se mais leve. Ter exposto o que pensava havia aliviado sua cabeça, tanto quanto saber o que Satoru também pensava. Ao chegar no escritório seu sorriso ainda se manteve, percebeu que apenas alguns funcionários já se encontravam no local, foi apenas quando olhou em seu relógio que percebeu estar dez minutos adiantada. Não que fosse uma pessoa atrasada, mas antecedência também não era uma característica sua.

Enquanto arrumava suas coisas na mesa percebeu Nanami se aproximar. Ele a cumprimentou com um bom dia e seguiu andando, porém quando já estava perto de sua sala ele retornou. Colocou os braços na mesa de Iori para poder chegar mais perto e falou:

― Pode passar rapidinho na minha sala? Preciso falar com você.

― Claro, agora? ― Ele apenas fez um sinal positivo com a cabeça. ― Certo.

Iori se levantou e acompanhou o chefe até a sala, ele fechou a porta e, ainda sério, ajeitou-se em sua cadeira. De certa forma, parecia que ele tentava buscar as melhores palavras para se expressar, tomando um certo cuidado.

― Como você está? ― Perguntou.

― Bem. ― Iori não sabia ao certo qual era o intuito da conversa, nem mesmo se era por uma razão boa ou ruim que ele a chamara.

― Sei que vocês passaram o sábado juntos. ― Iori engoliu a seco e abaixou a cabeça, como se algo vergonhoso estivesse sendo exposto. ― Como estão as coisas?

― Estamos bem. ― Ainda em dúvida de quais eram os objetivos de Nanami, ela resolveu por prosseguir. ― Não deveríamos ter nos encontrado?

― Não sou seu pai, Iori. ― Disse após dar uma breve risada.

Kento virou-se para a janela, abriu as cortinas e estreitou os olhos após a luz solar adentrar com tudo seu escritório. Parecia ainda pensar no que dizer enquanto respirava fundo antes de voltar para olhar sua funcionária.

― Então onde está querendo chegar? ― A pergunta da jovem o fez voltar de imediato para a conversa.

Ajeitou-se com as mãos em cima da grande mesa de madeira antes de expor seus pensamentos.

― Não quero perder uma funcionária porque Satoru causou mais uma desilusão amorosa. Não estou dizendo que ele vai fazer algo do tipo, mas não quero que caso aconteça, eu é que pague o preço. Vocês são adultos e fazem o que bem entendem, mas espero que saibam separar bem a vida pessoal do local de trabalho. ― Iori sentiu-se desconfortável conforme seu chefe falava e, mesmo Nanami tendo percebido, ele completou. ― Você tem ciência de que eu sei que andaram se agarrando por aqui, não é algo que possa se repetir.

― Na sexta-feira nós conversamos sobre isso, sei bem o que estou fazendo e com quem estou saindo. ― Lá no fundo ela sentiu vontade de aumentar o tom de voz, de falar de forma mais ríspida para que ele soubesse o quanto essas especulações a deixaram irritada. ― Sei de minha competência, não é uma relação que fará eu decair no trabalho. Satoru é meu chefe? Sim. Estou saindo com ele? Sim, mas isso não interferirá em nada. ― Nanami abriu a boca, entretanto para finalizar, Iori completou. ― O que aconteceu naquela noite aqui não se repetirá e, se tudo ficou claro, peço permissão para poder retornar aos meus afazeres.

Nanami sabia que um clima tenso havia se formado, o olhar rígido de Iori que ele nunca presenciou antes agora o causava incômodo. Talvez estivesse criando ali uma desarmonia com sua funcionária, mas preferia ser severo e não muito agradável do que arranjar um problema maior futuramente.

― Está bem, pode voltar ao trabalho. ― Foi tudo que disse antes de Iori se levantar e partir.

Após fechar a porta atrás de si, Iori deu de cara com Satoru no corredor. Ele abriu um sorriso em vê-la e se aproximou.

― Bom dia! Como você está? ― A voz animada até arrancou um breve sorriso de Iori, mas logo sua expressão retornou ao estado mais sério.

― Bom dia, estou bem. ― Sabia que não passava muita credibilidade em suas palavras, ainda assim esperava que ele apenas a deixasse voltar para sua mesa.

― Ei, aconteceu alguma coisa? ― Como se ligasse as pistas, após olhar para a porta de Nanami e para o rosto de Iori, ele questionou. ― Nanami te disse alguma coisa? Ele falou algo que você não gostou?

― Não é isso, ele só está tentando cuidar dos negócios. ― Ela tentou dar um passo para o lado e seguir o caminho, mas ele acompanhou seu movimento a impedindo de passar.

― O que ele disse?

Utahime não queria falar, não queria agir de forma infantil e fazer fofoca, como se estivesse tentando se fazer de vítima e colocar Kento na posição de vilão. No entanto, sabia que o homem a sua frente não a deixaria sair dali sem contar o que estava se passando.

― Ele só tem receio de que eu acabe me demitindo ou coisa do tipo caso você me magoe. Ele só está pensando no trabalho e está certo.

― Não, não está. Primeiro porque somos profissionais, segundo porque não vou magoar você.

Era a primeira vez que ela pode notar uma profunda irritação na voz de Satoru, normalmente ele tentava levar tudo no humor e de forma tranquila.

― Satoru, por favor, ele está certo. ― Como ninguém estava observando, Iori segurou delicadamente o cotovelo de Satoru. ― Está tudo bem, já expliquei a ele que caso algo de ruim aconteça, nós manteremos o profissionalismo.

"Caso algo de ruim aconteça". Gojo não gostou da frase, já havia deixado claro que não iria fazer nada para machucá-la, entretanto sabia que no fundo ela não acreditava em nada disso. Não querendo causar discussão mesmo que chateado, ele abriu espaço para Iori partir, e assim ela fez, retornando em direção a sua mesa.

Tentou ficar umas horas em sua sala e trabalhar para esquecer o que ouvira logo ao entrar no escritório, mas sua concentração já estava indo pelo ralo e sentia dentro de si que precisava esclarecer as coisas, não gostou nem um pouco de saber sobre aquelas falas de seu amigo. Era perceptível que Iori ficou chateada e ele jamais havia feito algo parecido com qualquer uma das mulheres que Nanami já se relacionou. Aquilo não estava certo, ele não precisava ter agido assim. Ansioso para resolver logo a situação, Satoru terminou de retornar um e-mail a uma empresa com a qual estavam trabalhando e partiu de sua sala em direção a de seu sócio. Pensando um pouco antes de entrar, percebeu que não sabia quando fora a última vez que se sentia assim, irritado por sentir que alguém que gostava sofrera uma injustiça. E então teve de admitir que Iori se tornou alguém da qual ele gostava.

Namorada de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora